UM BANHO DE LOJA NA SAARA

O projeto de revitalização tem orçamento de R$ 24 milhões

Caroline Rocha

Nivelamento do piso, organização de vagas de estacionamento e criação de pistas exclusivas para ônibus. Essas são algumas das promessas da Prefeitura do Rio para a revitalização da Saara, a Sociedade de Amigos da Rua da Alfândega e adjacências, localizada no centro histórico da cidade.

Parte do programa Reviver Centro, a revitallização busca oferecer mais conforto e acessibilidade para “os futuros moradores do entorno”, de acordo com a secretária de infraestrutura Jessick Trairi. O Reviver é um plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica da região central do Rio, que sofre com o esvaziamento populacional. Durante os preparativos para a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016, o entorno do mercado obteve vultosos investimentos, enquanto a Saara seguiu com as mesmas demandas de 1990, ano em que a última obra foi realizada.

 Os comerciantes receberam a notícia da reforma com otimismo. Eles afirmam que a falta de manutenção tem gerado problemas aos clientes, que, ao focar nas vitrines, tropeçam nos desníveis do chão. Além disso, as adversidades atingem os vendedores, que precisam resolver problemas de acessibilidade por conta própria. “A Saara está dentro de uma área de preservação cultural e paisagística. Todos os imóveis daqui têm obras feitas para manter o formato original dos prédios. Só que quando você anda nas ruas, percebe que elas estão muito esburacadas. São muitos problemas que a gente tem, principalmente em dias de fluxo muito grande”, contou o presidente da Saara, Sérgio Obeid.

O pavimento desgastado é um obstáculo ainda maior para idosos, responsáveis que levam crianças em carrinhos e pessoas com dificuldade de mobilidade. “O calçamento é muito antigo e não tem manutenção. Mas deveria ter. Já está na hora de mudar!”, disse João Afonso, de 88 anos, que, em suaspróprias palavras, “é antigo na Saara”. Afonso tem costume de andar pelas ruas do mercado em busca de menores preços, mas diz que a experiência tem desafios devido aos buracos e desníveis. “Tem muita coisa boa. Muita coisa barata, mas precisa procurar. Com certeza uma obra seria bom. Já deveriam ter feito isso”, afirmou ele.

 Apesar das expectativas positivas, há preocupações entre os comerciantes quanto aos impactos nas vendas das 1.200 lojas abrigadas no maior mercado a céu aberto do estado. “A gente ainda não voltou ao fluxo pré-pandemia, então isso [as obras] é uma barreira fixa. Você vai estrangular o fluxo e talvez algumas pessoas evitem circular na região”, ressaltou o presidente da Saara.

Ele afirma que a associação tem monitorado as ações da Prefeitura para garantir o cumprimento do cronograma e a redução dos impactos aos menores níveis possíveis. De acordo com Obeid, o executivo municipal prometeu inserir tapumes centrais que permitam o deslocamento dos pedestres nas laterais das ruas, garantindo a visualização das vitrines de perto. A Secretaria de Infraestrutura também irá priorizar as atividades noturnas, horário em que a Saara não funciona.

Filho de imigrantes libaneses, Sérgio trabalha há 30 anos no centro comercial. Atualmente, ele vende roupas sociais, chapéus e acessórios masculinos. Os Obeid atuam na região desde o nascimento da Sociedade de Amigos, em 1962, mas a família é bem maior do que a genética aponta. “A gente tem uma conexão muito grande com a Saara. Nós formamos uma grande família e nosso desejo é continuar: transpassar nossa geração para vir para a próxima. Só que para isso essa área precisa manter o fluxo de pessoas”, reiterou o presidente.

PROJETO DE REVITALIZAÇÃO

Com orçamento de R$ 24 milhões, as intervenções irão ocorrer em 16 ruas durante dois anos através da Secretaria Municipal de Infraestrutura. As obras serão estagnadas em períodos de grande movimentação, como Natal e Ano Novo, de acordo com o presidente do polo. Neste momento, o projeto está na fase de montagem de canteiros e retirada de licenças. Ao todo, a Prefeitura promete revitalizar 190 mil m2.

Nas vias exclusivas para pedestres, como as Ruas da Alfândega e Senhor dos Passos, as calçadas de pedra portuguesa darão lugar ao piso intertravado. A Rua Buenos Aires receberá nova pavimentação, ordenamento das baias de estacionamento e elevação dos pisos das esquinas. Além disso, as calçadas da Avenida Passos serão ampliadas e requalificadas para facilitar o deslocamento dos pedestres. A avenida, que recebe a maior parte dos veículos que circulam pelo Centro, também terá três pistas de rolamento: um corredor expresso para ônibus e duas faixas para veículos em geral.