O sofrimento ensina, o perigo nos torna prudentes, a doença nos faz precavidos – mas nem por isto estes percalços da vida, já há mais de dois anos causados por uma das maiores pandemias da história da humanidade, nos impedem de festejar o que precisa ser celebrado, como sempre foi: a mudança dos anos, na forma da renovação da esperança e da crença, teimosa mas necessária, de que amanhã há de ser o outro dia. Melhor, sem dúvida.
A oportunidade de que o novo ano seja melhor está dada, oferecida, na proposta de luta, de resistência e, em outubro, de uma eleição geral que – quem sabe? – faça o país e as nossas vidas voltarem aos trilhos.
O réveillon não foi uma festa politizada nesses termos explícitos. Nem precisava. Mas o pano de fundo da vontade de mudar estava lá, perceptível, para quem quisesse ver. Nunca, como desta vez, o desejo de saúde foi tão literal, acompanhado do respeito à ciência e à luta contra a doença.
O respeito à saúde levou o Rio de Janeiro à atitude sensata de limitar a festa dos fogos em Copacabana. Menor, sem o descontrole de multidões que costumam ultrapassar 1 milhão de pessoas, sem os shows que obrigam o público a se aglomerar no gargarejo dos palcos.
Ainda assim, instalou-se a suspeita de que as festas de fim de ano, onde quer que tenham acontecido, possam ter levado a um aumento do número de casos de Covid19, hoje preocupantes, embora, felizmente, sem um aumento equivalente no número de óbitos e casos graves de internação.
Mas ainda assim, mesmo com reduzida aglomeração, e com os incidentes de sempre, como alguns assaltos e tentativas de arrastões, foi um congraçamento de cariocas e turistas esperançosos de em 2022 melhor e uma bonita festa de 16 minutos de fogos.
A novidade, mais do alvissareira, neste ano de limitações forçadas ao acesso à praia de Copacabana, foi a alternativa criada por muitos bairros do Rio, do qual normalmente as pessoas saíam, no últrimo dia do ano, para lotar a orla mais famosa do mundo.
Teve festa de fogos em inúmeros bairros da cidade, mais modetsas, claro, mas nem por isso menos alegres. Festa de fogos em Bangu, festa de fogos na Penha e muitas festas em outros locais que, ainda que já acontecessem antes, desta vez ganharam destaque e o carinho dos seus moradores.
Assim, curiosamente, a “censura” imposta pela Covid19 acabou por democratizar a festa pública e coletiva de réveillon, espalhando sua alegria pela cidade.
O carioca mostrou, definitivamente, que é um povo que não se rende. Não permite que sua alegria seja roubada.
O carioca mostrou, na vidada do ano, o que já se sabe dele: combaterá a pandemia, vacinando-se, cuidará de sua saúde e fará sua parte para livrar o Brasil da “inhaca” que está está enfrentando desde o fatídico ano de 2016.
Na última noite do ano, horas antes dos fogos, muitos cariocas tomaram a providência oportuna de fazer barulho, batendo panelas nas janelas e varandas. Panelas, fogos em Copacabana e na periferia, gritos de protesto e de alegria.
Mais carioca, impossivel!
Tudo é permitido desde que a nossa emoção sobreviva.
Viva 2022, e viva mais ainda 2023, que pode trazer um novo Brasil.