POR ROSAYNE MACEDO
Noite de sábado, 30 de julho, no Faro Beach Club, em São Conrado, um badalado espaço com vista privilegiada para a Praia do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Uma multidão esperava, ansiosa, pela subida da cantora, compositora e produtora musical Maria Rita ao palco, após a apresentação do carioquíssimo grupo Samba do Xoxó. No intervalo, alguém puxa o coro: ‘Ei, Bolsonaro, vai tomar no…”. A plateia vai abaixo. Em seguida, começa a gritar ‘olé, olé, olé, olé, olá, lulá, lulá’.
Nos últimos meses, depois que a Covid-19 deu um refresco e os eventos voltaram a todo o vapor por toda a parte, numa catarse coletiva, a cena vista e ouvida durante o evento ‘Rio de Samba’ não é rara. Ao contrário, vai ganhando cada vez mais eco entre adeptos de diferentes ritmos, nos mais inusitados ambientes musicais. E, democraticamente como tem que ser, tende a soar forte no Rock in Rio 2022, a menos de um mês para as eleições gerais de outubro.
A começar pelo show da toda-poderosa Anitta, que escancarou seu voto pela volta de Luís Inácio Lula da Silva ao poder. Para desespero de muitos bolsonaristas, que sonhavam cativar os mais de 80 milhões de seguidores da musa pop no Twitter e Instagram, pelo menos 300 mil a mais deles conquistados após sua declaração de voto.
Anitta, porém, não deverá puxar o coro sozinha. Vários outros artistas que pisarão os palcos desta edição do festival prometem ruidosos ‘foras’ e outros desaforos mais. O estrondo promete ser bem maior do que o ocorrido no Rock in Rio Lisboa, em junho, quando a banda paulista Francisco, El Hombre lançou críticas a Bolsonaro para uma plateia pequena, porém, barulhenta.
Em março, a cantora chegou a zombar da decisão do ministro Raul Araújo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, acolhendo pedido do PL, partido de Bolsonaro, mandou o Lollapalooza impedir que os artistas escalados para o festival fizessem manifestações políticas. Isso depois que Pabllo Vittar e Marina se manifestaram a favor do ex-presidente Lula durante shows. Na ocasião, foi estipulada multa de R$ 50 mil para o festival para cada vez que a determinação for desobedecida.
A organização do RiR 2022, pelo jeito, fará ouvidos moucos.“A Cidade do Rock é um lugar de celebração da música, da cultura, da harmonia. Política não se faz em festival, nem com torcida, e sim com debate. Mas em toda edição, seja quem estiver no poder, mandam sempre o presidente tomar no c*”, declarou recentemente à ‘Veja Rio’ a empresária Roberta Medina, filha do criador do Rock in Rio e responsável pela produção da festa.
Roberta lembrou que, “em 2019, o receio era com a onda de polarização, aquela bateção de panelas, e não houve nada. Anos antes, o medo recaía sobre o movimento black bloc, e correu tudo bem”. Após as declarações, no entanto, Roberta decidiu não tocar mais no assunto, apesar dos apelos da ‘Rio Já’.
Como a produção e a segurança do festival vão lidar com os eleitores mais fanáticos, nada foi divulgado. Mas a torcida é para que se evite possíveis atos de violência motivada por questões políticas, como o que ocorreu em Foz do Iguaçu (PR), que culminou na morte do tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, pelo policial federal penal bolsonarista Jorge Guaranho, em plena festa de aniversário. Afinal, parafraseando o tema do festival, estamos todos sonhando com um país melhor. “Como se o mundo fosse nosso outra vez.”