Causou controvérsia nas redes sociais a decisão das autoridades em adiar, inicialmente para abril, os desfiles das grandes escolas de samba do Rio e de São Paulo. Circularam as teorias da conspiração mais disparatadas, que iam de um complô orquestrado por conservadores contrários à folia momesca, até interesses econômicos nunca explicados corretamente. Como se o prefeito Eduardo Paes não fosse um notório e animado folião e o governador Claudio Castro, apesar do perfil mais discreto, tivesse alguma vez se manifestado contra a festa. Bem, pelo menos no caso do Rio, políticos, assim como as autoridades sanitárias, tem todos os motivos para pôr as barbas de molho diante dos avanços da Ômicron. Isto porque, até 2021, apenas duas vezes o carnaval carioca fora adiado: em 1892 e 1912. E nas duas vezes os cariocas pularam na data oficial, e depois novamente, nos dias remarcados.
O primeiro adiamento aconteceu ainda no século XIX. O então ministro do interior, Cesário Alvim decidiu mudar a data do Carnaval para 26 de junho motivado por problemas de infraestrutura e falta de limpeza das ruas. Para o ministro, junho seria um mês “mais saudável” do que fevereiro e, portanto, mais adequado para lidar com o excesso de lixo gerado pelo evento. Naquele período o Carnaval começava a se enraizar no Rio de Janeiro e, em São Paulo, ainda era conhecido como entrudo: uma festa um tanto o quanto violenta na qual as pessoas fantasiadas saíam nas ruas e se atacavam com farinha, água e limões de cheiro. As escolas de samba ainda nem existiam.
Já o segundo adiamento da festa ocorreu devido à morte do ministro das Relações Exteriores, José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como Barão do Rio Branco. Ele faleceu uma semana antes das festas. “O povo sofreu muito e decretou-se o adiamento para dois meses depois, em abril. Em princípio, parecia algo sensato, mas, quando chegou o sábado de carnaval, o povo foi para a rua afogar as mágoas e acabou o luto. Efetivamente, aconteceram dois eventos”, contou Leonardo Bruno, pesquisador-orientador do Observatório de Carnaval do Museu Nacional ao jornal “Estado de Minas”. Como o Barão era tido como um herói nacional, o governo decretou o adiamento do Carnaval para 6 de abril, dois meses depois da data oficial. Mas na data de sempre o povo foi para as ruas e uma marchinha de grande sucesso foi o retrato de uma época: “Com a morte do barão, / tivemos dois ‘carnavá’. / Ai, que bom, / ai, que gostoso / se morresse o marechá”, em referência ao Marechal Hermes da Fonseca, então presidente do Brasil.