A trajetória dos negros no Brasil, desde a época do Descobrimento até os dias de hoje, é retratada com humor e fina ironia em dezenas de cartoons que compõem “Casa Grande & Sem Sala”, de Ykenga, prefaciado pelo também chargista Chico Caruso. O sarcasmo dá o tom da crítica social presente, onde temas como escravidão, preconceito e injustiça são tratados sem rodeios.
Embora seja destinado ao público em geral, o livro desperta grande interesse dos adolescentes, tanto pelo apelo das ilustrações como pela empatia com a realidade social desenhada, o que o torna um bom instrumento paradidático na abordagem da temática afro-brasileira pelas escolas. Ykenga, como o chamava sua avó africana, foi o pseudônimo adotado por Bonifácio Rodrigues de Mattos, que vem publicando há vários anos os seus cartoons na imprensa carioca e fluminense.
Ykenga começou a carreira no semanário O Pasquim e passou por vários jornais, como O Dia, Última Hora, O Fluminense, entre outros. Atualmente atua no jornal Extra. Milita também desde os anos 80 no movimento negro, é diretor da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e membro da Academia Brasileira da Cachaça.
Na sua obra, o chargista aborda temas como segregação, preconceito e discriminação, apresentados de forma sarcástica e bem humorada. O título é obviamente uma referência ao livro do sociólogo Gilberto Freyre“Casa Grande e Senzala”. Um trocadilho para brincar com a palavra senzala e desconstruir “a falsa teoria da democracia racial” através do humor.
A obra é uma coletânea de charges que ele criou ao longo do seu trabalho de militância no movimento negro e o livro do Gilberto Freyre é tido como base no estudo da formação social do Brasil. O cartunista defende a tese de que não existe democracia racial nem harmonia étnica no Brasil. Para ele, existe um racismo “muito duro” e velado no País. “O branco está sempre nas melhores condições e os negros estão nas piores estatísticas dos institutos de pesquisa. Meu livro é um contraponto a essa suposta democracia racial”, diz o cartunista.
Segundo Ykenga, muitas pessoas perguntam se ele é o único cartunista negro em atividade na grande imprensa do Brasil. “Eu não gosto de dizer que sou o único chargista negro. Sou apenas mais um jornalista que trabalha em cima da questão racial, e há muitos, e bons. O principal espaço das charges é o veículo de comunicação impresso, não tem espaço nem para os brancos, quanto mais para os negros”, brinca Ykenga.