POR CHICO JÚNIOR
Houve um tempo, principalmente na primeira metade do século XIX, que o Estado do Rio de Janeiro era o principal produtor de café do país. Naquela época, a exportação de café representava cerca de 60% da receita do Império e a cafeicultura tornou o Rio de Janeiro a mais importante e próspera cidade brasileira.
Problemas diversos, principalmente o uso predatório do solo, resultaram na queda da produção, que passou para São Paulo e Minas Gerais.
Atualmente, competir com esses dois estados em quantidade é praticamente impossível. Por isso, a retomada (ou reinvenção) da produção cafeeira fluminense passa pelo investimento na qualidade, alternativa que produtores fluminenses encontraram para colocar, de novo, o café produzido aqui, em lugar de destaque.
Produzir um café especial, gourmet, exige investimentos, cuidados, um rigoroso controle de qualidade e, principalmente, a escolha do tipo de café a ser produzido. No Rio, os produtores que investem no café especial escolheram o tipo arábica, que tem como resultado final uma bebida diferenciada, saborosa.
Normalmente são pequenos produtores, da agricultura familiar, mas existem alguns que, mesmo não tendo os milhões de pés de café de São Paulo e Minas, têm um número considerável de pés, como é o caso da Tassinari Cafés, um dos principais produtores de café especial do estado, que produz três tipos de cafés no município de São José do Vale do Rio Preto, na região Serrana.
“A Tassinari Cafés surgiu como o intuito de ser a ‘resistência’, nadando contra a corrente em diversos aspectos: do pioneirismo em produção de qualidade, da importância de uma torra artesanal, da essência de levar ao cliente final um café que tem a nossa vida dentro de cada grão!”, diz o proprietário Paulo Tassinari.
“Para nós”, diz, “café não é somente um gosto, um cheiro. Café é a soma de todas as histórias que fazem essa gratificante transformação do paladar. Nosso propósito é mostrar que café é muito mais do que café: é cultura, técnica, história e poesia.”
Noroeste, o maior produtor
Mas a região maior produtora do estado é a Noroeste, que reúne dezenas de pequenos produtores da agricultura familiar e é responsável pela produção de 80% do café especial consumido no RJ. Segundo o presidente da Associação dos Cafeicultores do Rio de Janeiro (Ascarj), Moacyr Carvalho, “a região Serrana tem uma produção mais homogênea, feita em propriedades maiores e voltadas exclusivamente para o cultivo de café, porém representam apenas cerca de 15% do total de produtores do estado. No Noroeste existem muitos meeiros, o que aumenta o número de cafeicultores, diz Moacyr. “A região está despertando para a importância da produção de qualidade desde o início dos anos 2000, em parte motivada pelos resultados da região Serrana, que vem ganhando prêmios e vê seu café obter melhor valor venda no mercado. No 1º Concurso de Qualidade do Café, realizado em 2010, a região Serrana obteve oito colocações entre os 10 melhores cafés, e a Noroeste apenas duas. No último concurso, realizado em 2021, o resultado foi exatamente o contrário: o Noroeste ficou com oito resultados e a Serrana, apenas dois”. Ainda segundo Moacyr, “hoje são mais de 100 pequenas torrefações no estado e a maioria produzindo cafés de excelente qualidade”.
IRANITA
Um desses produtores é Suhail Mjazoub, que produz o café Iranita, “100% arábica”, em Porciúncula. “Hoje, podemos dizer que, em termos de qualidade, competimos em igualdade de condições com São Paulo e Minas”, orgulha-se Suhail, que, junto com a esposa Ana Regina, produz o Iranita.
“Um dos diferenciais na produção é o cuidado na hora da colheita, realizada diariamente sobre pano; em seguida os grãos são lavados e separados, e despolpados”, diz Suhail.
“Aí, então, o café é seco em pátio de pedra, estufa ou terreiro suspenso, onde os grãos são espalhados em camadas finas e revolvidos constantemente. O resultado é um café especial, encorpado, suave e com acidez equilibrada, um café de excelente qualidade.”
O Iranita foi o vencedor da edição 2021 do Rio Cofee Nation, com o melhor café torrado para expresso.
CAFÉ MENIN
Também em Porciúncula é produzido o Café Menin, em três sítios de Marco Menin, que possui 60 mil pés de arábica.
Marcos reparou que o café de boa qualidade produzido na região era praticamente todo exportado.
“Então comecei a pensar na possibilidade de produzir meu próprio café, um café de qualidade, que pudesse chegar à mesa dos fluminenses.”
O Menin atualmente é vendido apenas na região Noroeste.
Monthal Farm
Na região Serrana, em Bom Jardim, é produzido na Fazenda Goiabal o Monthal Farm.
“Temos uma forma de manejo já herdada de gerações passadas; a região tem uma tradição secular no cultivo do café. Apesar do declínio da cultura, algumas fazendas mantiveram seu cultivo. Em Bom Jardim, circulando pelas beiras da RJ-116, você pode avistar os morros cheios do rubor do café; e este conjunto de premissas nos leva a ter um terroir exclusivo”, diz a empresária Eleonora Erthal, proprietária da fazenda.
Com 290 mil pés de café do tipo arábica, a fazenda produz, além do Monthal Farm (torra média, resultando um café doce e encorpado), o Goiabal (torra escura, que acentua a cor e o sabor, realçando o amargor da bebida).
(COM A COLABORAÇÃO DE SONIA APOLINÁRIO)