NOVOS SABORES E VINHOS DO RIO

Além de surpreender por sua beleza e hospitalidade, o Estado do Rio de Janeiro encanta pela riqueza e variedade de sua produção gastronômica. Os paulistanos, reconhecidos por sua excepcional variedade de opções culinárias, podem até tentar desdenhar, mas o fato é que por aqui hoje se produz de tudo um muito. Queijos e mel premiados, cafés e cachaças idem. Isso sem contar que um dos melhores gins artesanais do mundo é produzido hoje em Barra Mansa. E só para deixá-los com mais raivinha, para se ter uma ideia dessa diversidade um estudo recente da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) catalogou 170 amostras de feijão em produção no estado. Sabor é o que não falta. Voltamos a ser falados a sério como produtores quando o assunto é café e, agora, na lista de produtos “made in Rio”, começam a figurar até vinhos de qualidade.

O Rio de Janeiro já foi o principal produtor de café do país (hoje, o título está nas mãos de Minas Gerais). Em compensação, o estado se especializou em produzir um tipo de café especial, feito a partir do grão arábica. Um desses produtores é Paulo Tassinari, que produz o seu café na fazenda São Francisco, em São José do Vale do Rio Preto _ que foi adquirida por seu avô, Paolo Tassinari, há mais de 50 anos, em troca de duas lojas, pelo sonho de se tornar cafeicultor.  Se há algo de que Paulo têm é um baita orgulho de ser produtor agrícola do Rio de Janeiro.  

“Somos um produto local do erre jota”, brinca. “Ser Tassinari sempre foi acreditar como ninguém no potencial agrícola do Rio de Janeiro. A Tassinari Cafés surgiu como o intuito de ser a ‘resistência’, nadando contra a corrente em diversos aspectos: do pioneirismo em produção de qualidade num estado quase esquecido por sua agricultura, da importância de uma torra artesanal”. Mas também se produz bons cafés em outros municípios, como as marcas Iranita e Menin, de Porciúncula; a Monthal Farm e a Goiabal, de Bom Jardim; a Cantares, de Nova Friburgo; a Palmares, de Duas Barras e a Vargas, de Varre-Sai, para citar algumas.

A produção de vinhos no Rio

Em uma região que faz parte da História do Brasil colonial, às margens da antiga Estrada Real, está a Vinícola Inconfidência. Localizada no distrito de Inconfidência, Paraíba do Sul (o acesso se dá por Secretário, Petrópolis), ela ocupa uma antiga propriedade da família Aranha que durante anos se dedicou a produção de café, além de abóboras, queijo e leite e até feijão. Um belo dia, o casal Ângela e José Cláudio (foto), que hoje está à frente dos negócios, se perguntou: “Ora, se parreiras são produtivas nos locais mais diversos do mundo, por qual razão também não seriam geradoras de boas uvas aqui na serra fluminense?” Bingo!

Eles começaram a percorrer vinícolas, conhecer produtores e tecnologias, até conhecerem Murillo Albuquerque Regina, engenheiro agrônomo que já vinha se dedicando à produção de uvas geradas no inverno, na região da Mantiqueira mineira (especificamente em Caldas – MG), através do uso da técnica de ciclo invertido, que contempla a aplicação de duas podas: a primeira em agosto e a segunda em janeiro. Em 2010 eles começaram a plantação com cinco variedades de uvas entre as tintas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Syrah, e a branca Sauvignon Blanc. Três anos depois já estavam começando a produzir os primeiros vinhos. Atualmente a Vinícola Inconfidência conta com aproximadamente 22 mil parreiras plantadas, das quais cerca de 14 mil já são produtivas, 6 mil começaram a entrar em período produtivo este ano, e as demais são ainda muito jovens. Recentemente foram plantadas parreiras para produção das variantes Viognier, Petit Verdot e Nero d´Avola, o que concedeu à Inconfidência a classificação de “vinícola boutique”.

E no embalo da experiência da Vinícola Inconfidência, três novos vinhedos começam a brotar na região serrana das terras fluminenses. Em São José do Vale do Rio Preto, a família Tassinari (a mesma dos cafés que mencionamos acima), dá os seus primeiros passos no mundo dos vinhos. Já a família Eloy, conhecida na área da construção civil no interior do estado, amplia os negócios com um vinhedo em Areal e outro em Itaipava (Petrópolis).

Em outubro de 2019, a família Tassinari iniciou o cultivo de cinco mil pés de uvas de suas primeiras mudas de Syrah, Cabernet Sauvignon e Sauvignon Blanc em uma área de 125 hectares, da já citada fazenda São Francisco. “Vinho e café têm suas semelhanças, destacando o terroir na sua concepção e a roda de aromas e sabores na sua degustação. No Brasil, o mercado de vinho está em crescimento e o consumidor valoriza cada dia mais a qualidade da bebida. O mesmo acontece com o mercado de cafés especiais”, comenta Laura Tassinari, responsável pela área de vinicultura da família.

Já no caso da família Eloy, o vinho é uma mistura de paixão e hobby, que virou negócio com a aquisição de uma franquia de importadora para compra e venda da bebida. O sucesso da Vinícola Inconfidência encorajou a família a diversificar a área de atuação, tendo o vinho como ponto de partida. E eles começaram logo de cara com a criação de dois vinhedos. Em Petrópolis, no Vale do Cuiabá, fica o Vinhedo Boa Esperança, criado com a plantação de 2,5 mil mudas (Syrah, Cabernet Franc e Merlot) em 7,5 mil metros quadrados. Já em Areal, a cerca de 20 minutos do centro de Itaipava, está o Vinhedo dos Faisões. O local era uma antiga fazenda de criação das aves. Agora, quatro hectares do terreno receberam 11 mil mudas de Syrah, Cabernet Franc, Merlot, Sauvignon Blanc e Cabernet Sauvignon. Os planos para o terreno, em Areal, incluem a construção de um condomínio, e um hotel com spa e restaurante – tudo dentro do vinhedo.

O melhor gim do Brasil

Resolver produzir no Brasil gim artesanal e de alta qualidade é uma ideia ousada. Mas foi essa ousadia que levou o arquiteto italiano e designer por formação Arturo Isola e o artista plástico Alexandre Mazza a se unirem ao mixologista argentino Tato Giovannoni (criador do primeiro gim da América Latina, o argentino Príncipe de los Apóstoles) para produzir na tricentenária e restaurada Fazenda Cachoeira (de 1717), no município de Barra Mansa, o primeiro gim premium brasileiro. O negócio deu tão certo que, com menos de um ano no mercado, o Amázzoni Gin, lançado em 2017, foi escolhido o melhor gim artesanal do mundo no World Gin Awards 2018, a mais prestigiada competição do gênero, realizada em Londres, Inglaterra. Foi a primeira marca brasileira a concorrer na premiação que elege o melhor gim do mundo.

Os prêmios ajudaram a projetar o destilado para o mercado internacional, colocando o Brasil no mapa dos bons gins artesanais. Ele já é exportado para países como Portugal e Itália e está prestes a entrar nos Estados Unidos. “Virou uma febre na Itália. Estamos nos principais bares de Milão, Roma, Florença, Nápoles, Bolonha, Gênova, Turim… Em menos de um ano vendemos 8 mil garrafas lá”, empolga-se Isola. E tudo indica que isso é só o começo. A marca passou ao portfólio do poderoso conglomerado de bebidas francês Pernod Ricard, dono de marcas como Absolut, Chivas Regal e Ballantine’s, entre outras.


Mas o Rio de Janeiro também tem trutas, frutas, doces, geleias, conservas, embutidos, arroz, feijão, produtos orgânicos, laticínios (de leite de vaca, cabra e ovelha), cervejas artesanais/especiais, mexilhões, embutidos, chocolates, palmito, tomate, desde produtos in natura até os manufaturados. Aliás, somos o maior produtor de vieiras (as famosas coquilles Saint-Jacques) do Brasil. Pois é, trabalho de anos de vários maricultores da Baía da ilha Grande, sem dúvida um dos lugares mais belos do Brasil, quiçá do mundo (sem querer exagerar). Ou seja, como se vê, além de lindo, o Rio é uma delícia.