POR CHICO JÚNIOR
Ninguém ousaria afirmar que a cidade do Rio de Janeiro é um município com vocação agrícola. Não é, claro. A cidade do Rio é, na realidade, um grande centro urbano.
Mas, surpreenda-se: mesmo não tendo grandes extensões de terras agricultáveis (apenas 1,7% da área do município é dedicada à agricultura, onde existem mais de mil estabelecimentos rurais, a grande maioria na Zona Oeste), o município do Rio de Janeiro, em 2020 (os dados mais atuais), ocupou a 13ª posição na produção agrícola do estado, que tem 92 municípios.
Apesar da pequena área dedicada ao cultivo, o Rio foi, em 2020, o maior produtor de abacate do estado e o segundo maior de banana prata, aipim e coco. Um total de 1.025 produtores colheram 44.500 toneladas de alimentos, gerando um faturamento bruto de R$ 52,5 milhões. Os dados são do Acompanhamento Sistemático da Produção Agrícola (Aspa) da Emater-Rio, a empresa responsável pela assistência técnica e extensão rural no Estado, ligada à Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento.
Mas o Rio produz ainda abobrinha, agrião, alface, batata doce, berinjela, caqui, cebolinha, chicória, chuchu, couve, jiló, maracujá, quiabo, salsa, taioba e vagem.
Em Campo Grande, na localidade de Rio da Prata, por exemplo, a Associação de Agricultores Orgânicos da Pedra Branca (Agroprata) reúne, segundo a diretora Rita Caseiro, 25 produtores que cultivam banana, caqui, aipim, batata doce, couve, alface, cheiro verde, chicória e taioba. A produção é praticamente toda vendida em feiras da Zona Oeste.
Já na Zona Norte do município, no Alto da Boa Vista, está instalada a Orgânicos da Fátima, onde a cearense Fátima Anselmo produz legumes, verduras e frutas, além de distribuir produtos de outros produtores rurais periurbanos para restaurantes e domicílios da cidade.
Ou seja, no município do Rio de Janeiro pratica-se, também, a agricultura urbana, uma tendência cada vez mais moderna e sustentável para a produção de alimentos.
HORTAS CARIOCAS
Embora a Prefeitura do Rio não tenha uma secretaria dedicada à agricultura e muito menos uma política de investimento na agricultura urbana, o Programa Hortas Cariocas, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, merece elogio.
Segundo a secretaria, o Hortas Cariocas está presente em 56 pontos da cidade, sendo 27 hortas em escolas municipais e 29 em comunidades. Somente neste ano, considerando janeiro a setembro, a produção de alimentos já passou de 59 toneladas.
A horta do Parque Madureira instalada em terrenos que pertencem à Prefeitura, às margens da linha férrea do Parque, está programada para ser “a maior horta urbana do mundo”. Hoje, conta com 55 canteiros produtivos e outros 95 em desenvolvimento. Futuramente, até o final de 2024, estão previstos um total de 2.000, numa área de 13 hectares (aproximadamente 15 campos de futebol). A extensão é de 3,7 quilômetros.
O programa disponibiliza 20 bolsas de voluntários para a manutenção da Horta de Madureira, incentivando o cultivo agroecológico.
Os hortelãos, em contato com as associações de moradores, distribuem metade da produção dos alimentos, e a outra parte é comercializada, para a compra de insumos, indicando, assim, sua autogestão.
ALIMENTANDO O MUNDO
Investir na agricultura urbana é investir no pequeno produtor rural, na agricultura familiar, na proteção ao meio-ambiente, na geração de emprego e renda, enfim, investir na cidade. É aproximar o produtor ao consumidor final, é diminuir desigualdades.
Segundo o Worldwatch Institute (WWI), instituto norte-americano de pesquisa sobre questões ambientais, as hortas urbanas são responsáveis por cerca de 20% de todo o alimento produzido no mundo.
E mais: o documento “Uma visão para os Sistemas Alimentares Cidade-Região”, elaborado pela Fundação Ruaf (ONG dedicada à promoção da agricultura urbana e sistemas alimentares sustentáveis, sediada na Holanda) com o apoio da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) “um sistema de agricultura sustentável deve sempre estimular cada vez mais a proximidade entre o produtor e o consumidor final, que é uma das vantagens da agricultura urbana”.
Diz ainda o documento: “As cidades podem contribuir para criar sistemas agroalimentares sustentáveis para prevenir e reduzir o desperdício de alimentos e gerar oportunidades de subsistência dignas para produtores rurais, periurbanos e urbanos”.
Vê-se, portanto, que o investimento na agricultura urbana é compensador.
E nem é preciso reinventar a roda; é só seguir o exemplo de centenas de cidades do mundo que já têm programas avançados de fomento à agricultura urbana.