Enquanto sonha com seu metrô – que será o primeiro do interior fluminense -, Macaé vê avançar outra possibilidade real: receber a primeira fábrica de locomotivas do Estado do Rio de Janeiro. O projeto é da multinacional John Cockerill, que anunciou para janeiro de 2022 o início das obras da sua segunda fábrica de trens. A primeira funciona em sua matriz em Seraing, na Bélgica, que exporta para diversos países, além de atuar na manutenção de trens de alta velocidade.
Em troca do apoio do município ao projeto de instalação da fábrica de locomotivas, a empresa belga, que tem sede em Macaé desde 2014 – propôs à prefeitura realizar um estudo de viabilidade para colocar em operação o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que há 10 anos enferruja ao ar livre, maltratado pela maresia. A atual gestão da prefeitura tenta dar melhor destino ao projeto. Em encontro com executivos da John Cockerill em maio, o prefeito Welberth Rezende destacou a importância das parcerias com foco no crescimento e desenvolvimento do município. Ele acrescentou, ainda, que a prefeitura está de “portas abertas”, para receber as empresas que têm o objetivo de investir na cidade. “Queremos facilitar todo o processo”, enfatizou.
l Titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Macaé, Rodrigo Vianna colocou sua equipe técnica à disposição da empresa para atuar na concessão de licenciamentos para o novo empreendimento ou mesmo para criar as condições favoráveis para que o VLT tenha um formato adequado para operar.
O secretário de Mobilidade Urbana, Jayme Muniz, disse ver a parceria com a John Cockerill com otimismo: “Vamos verificar as questões técnicas, operacionais e sobretudo financeiras para colocar o VLT funcionando”. A reunião contou com o gerente da Divisão Oil & Gás, Marcelo Amado, junto com o CEO da empresa John Cockerill no Brasil, Jean-Noël OTT, fizeram uma breve apresentação das principais atividades da empresa.
Câmbio permite
custos menores
Com forte tradição no setor ferroviário da Bélgica, a John Cockerill atua desde 2005 no Brasil nas áreas de Energia, Defesa, Ambiental, Serviços, Transportes, entre outras. A empresa belga chegou ao país para instalar a planta da ArcelorMittal, em São Francisco do Sul (SC) e hoje mantém sua sede brasileira em Joinville (SC). Em Macaé desde 2014, atua no fornecimento de serviços de manutenção de equipamentos e construção, além de montagem de plantas industriais para o mercado offshore.
O projeto da nova fábrica de locomotivas de Macáé deve atender inicialmente a uma encomenda da Gerdau, feita no início de 2021, para compra de 12 locomotivas de manobra 700 HP, movidas a diesel e eletricidade. Essas novas composições deverão ser usadas para escoar a produção de minério de ferro da usina de Ouro Branco (MG). A John Cockerill confirmou em julho à ‘’Revista Ferroviária’ que também está de olho em novas encomendas de locomotivas no Brasil e no mercado externo.
Custos menores que na Europa, devido à diferença de câmbio, pesaram na decisão da multinacional de fincar sua nova fábrica em Macaé, onde a empresa mantém uma unidade voltada ao setor de óleo e gás no bairro Novo Cavaleiros, que sedia muitas empresas de óleo e gás. No terreno com 13.800 m², serão instalados um galpão e 50 metros de trilhos, para testes e manobras. Uma grande caldeiraria existente no local será aproveitada para montagem de boa parte da estrutura das locomotivas.
Projeto pode ficar
pronto em 2027
A expectativa é que o projeto leve cinco anos para ficar totalmente pronto. Na fase de construção, a fábrica de locomotivas da John Cockerill em Macaé deverá gerar cerca de 100 empregos diretos, 90% na própria cidade. A expertise da produção das composições ficará exclusivamente nas mãos dos belgas, que têm tradição na fabricação e manutenção de locomotivas desde a origem da empresa. No século XIX a John Cockerill fabricava diversos modelos a vapor, destinados à indústria e ao transporte de passageiros sobre trilhos.
A intenção da empresa também é adquirir componentes prioritariamente no mercado interno brasileiro. “Temos um grande fabricante de motores elétricos no Brasil, por exemplo, que é a WEG. Também temos alguns fabricantes de eixos de rodagem em Minas Gerais…”, citou Marcelo. Segundo ele, apenas a tecnologia e alguns outros componentes virão da Europa.
“Essas locomotivas seriam fabricadas em nossa matriz, na Bélgica. Devido à desvalorização do real frente ao euro, a gente chegou à conclusão que seria melhor montar aqui em Macaé, onde temos uma unidade grande. Hoje, está muito mais barato fabricar aqui e exportar”, disse Marcelo Amado, gerente da Divisão Oil & Gás da John Cockerill no Brasil.
Cidade tem vocação ferroviária
Conhecida como a capital do petróleo por concentrar a maior parte das instalações da Bacia de Campos, a maior do país, Macaé mantém uma forte vocação ferroviária. Trens de passageiros que ligavam Niterói e Rio de Janeiro a Vitória (ES) deixaram de circular no início dos anos 1980. Mas até hoje a Região Norte Fluminense ainda conta com um leito ferroviário, que fazia parte da Estrada de Ferro Macaé e Campos. A linha funciona exclusivamente para cargueiros e é operada pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) desde 1996.
A partir de março de 2009, com apoio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da FCA, foram iniciados estudos para um projeto pioneiro no interior do estado: a implantação do Metrô Macaé, que operaria em um trecho da antiga ferrovia com trens a diesel, como ocorre em diversas capitais brasileiras. Desde 2012, no entanto, a cidade tenta implantar, sem sucesso, o meio de transporte, em conjunto com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU.
Naquele ano, duas composições do VLT, com dois vagões cada uma, chegaram a iniciar a fase de testes. As composições, movidas a diesel e equipadas com ar condicionado, têm capacidade para atender 368 passageiros cada uma.
Legendas:
VLT de Macaé – o primeiro metrô fora da capital – aguarda destino desde 2014
Reunião do prefeito de Macaé com representantes de empresa belga John Cockerill