UM ROTEIRO GASTRONÔMICO PELA LITTLE ITALY DO LEME

A pizza da Canastra é assada no forno a lenha

Bruno Agostini

Avenida Atlântica é um nome adequado para abrigar um restaurante especializado em peixes e frutos do mar. No número 514 dela está o ristorante Da Brambini, uma tradicional casa italiana que navega em direção ao oceano defronte. O cardápio privilegia os pescados, que ali mostram exemplar frescor. Lagostins e outros desses nobres ingredientes atlânticos chegam diariamente, e o pargo ao sal grosso é um clássico do local, também revelando o cuidado na seleção dos peixes.  Na mesma calçada praiana está a Pizza Canastra, que assa no vistoso forno a lenha algumas das melhores pizzas que podemos comer no Rio, com preços bem amigáveis, e um serviço jovial e amável, bem como a trilha sonora e o ambiente.

O polvo do D’Amici, com arroz de tomates

O próprio nome do bairro também tem a ver com o ambiente náutico, de onde sai a matéria-prima que abastece de outros restaurantes locais, que fazem do Leme uma espécie de Little Italy carioca, seja nas mesas do elegante D’Amici, eterna referência quando o assunto são os peixes e frutos do mar, assim como na autêntica osteria napolitana que atende pelo nome de Pasta e Pallone, na movimentada Avenida Princesa Isabel, que divide o Leme de Copacabana. Lembrando ainda que o Alloro al Miramar, outros dos melhores italianos do Rio, nasceu ali mesmo, na esquina da Avenida Atlântica com Princesa Isabel, hoje instalado a algumas quadras, já em território copacabanense.

Os lagostins do Da Brambini, na Avenida Atlântica

Esse quarteto faz do Leme uma referência quando falamos de cozinha italiana de qualidade no Rio. A cozinha do Da Brambini, onde ancoramos o garfo nos lagostins grelhados que saltam da casca, trazendo os mais delicados sabores marinhos, é um lugar infalível. O crustáceo ainda pode brilhar enriquecendo o molho do espaguete e – principalmente – como estrela da Grigliata Mista di Mare, o prato mais vistoso da casa, rica que tem ainda cavaquinhas, tentáculos de polvo, lulas, camarões e peixe, servidos com arroz com brócolis, para dois ou até três comensais.

E tem muito mais: um excelente espaguete alle vôngole, e uma puttanesca de almanaque, com boa dose de alici, que salga e enobrece a receita, com seu sabor marcante. O sal grosso envolve a carne fina, delicadeza em forma de peixe, que nos entrega o dentice al sale, receita clássica italiana, cuja técnica consiste em envolver o pargo inteiro numa montanha de sal, potencializando o cozimento, como num papelote. Depois de levado à mesa pra observação do cliente, o pescado volta para ser limpo pelo maître Valdir Braga, que tira as peles e as espinhas, deixando apenas os filés, da carne branca e delicada. Mediterrâneo define a proposta da casa, mesmo que seja Atlântica a localização.

Terça é dia de ostras na Pizza Canastra

Vizinho de calçada, a Pizza Canastra Leme me serviu a melhor pizza que lembro de ter comido: uma marinara, que é a mais simples das receitas típicas napolitanas: tem apenas massa, molho e alho, e um fio de azeite. Mas, pedi que acrescentassem alici e stracciatella, e assim nasceu a pizza mais mais gostei na vida. O menu traz outras receitas bem acertadas, como a burrata ao pesto, a salada caprese e o linguini al mare, com lula, polvo e camarão. Tive a sorte de ir na noite de terça, quando são servidas ostras (meia dúzia, com taça de vinho branco, sai a R$ 45 – preço imbatível na Zona Sul). E a carta de vinho, curta, tem preços bem interessante, bem como a sua seleção.

Ossobuco com polenta harmoniza com Merlot

Não muito longe dali, outro restaurante tem essa mesma pegada marinha de acento italiano, outro Porto Seguro pra atracarmos. Nos atracarmos, melhor dizendo, com os camarões VG ao vinho branco, que adornam o papardelle fresco, feito na casa; o cherne que recheia o agnolotti; e a bisque de lagostins que exalta o fetuccini. Falamos do D’Amici. Neste esforço de reportagem, pedi um espaguete ao vôngole com massa no ponto mais-que-perfeito, assim como os tentáculos de polvo, que vieram a seguir, confirmando que o mar é mesmo o forte e o norte dos italianos do Leme, servido com um úmido arroz de tomate, conjunto que foi irrigado com a forte pimenta da casa, e azeite chileno de alta classe. Fechamos com um lindo ossobuco de vitela, com seu molho denso e saboroso, além de uma polenta lindamente amarela. Na taça, um Vallontano Merlot 2014, no ponto exato para ser apreciado. Bravo!!!

Pasta e Palone tem decoração que remete a Nápoles

De um salão chique, onde executivos confraternizam em longos almoços de negócios a um endereço simples, uma osteria napolitana original, bastam alguns passos. Uma quadra, basicamente. Assim, chegamos ao restaurante Pasta e Pallone, que tem verdadeiro espírito napolitano, representado pelos pôsters e camisas de futebol, espalhadas pelo salão, decorado de forma caoticamente cenográfica, dando aparência bem autêntica ao local, assim como muitos dos itens do menu, entre pizzas e receitas típicas da Itália, sobretudo do sul. Podemos provar berinjelas à parmegiana, assada no forno a lenha, e belas pizzas, com assinatura autêntica, do chef napolitano Michellangelo Simonelli, e o responsável tanto pelo menu certeiro quanto pela decoração que torna a experiência verdadeiramente real. A presença de italianos em grande quantidade confirma que o lugar é mesmo confiável.

Assim como o trio que completa esse quarteto mágico de italianos do Leme. Bravo!