Por Chico Jr
Dentre as várias coisas que me dão um imenso prazer de comer estão os queijos. Pra quem não sabe, o queijo foi a primeira forma que o ser humano encontrou para a conservação do leite. O Brasil tem uma vasta produção de queijos de alta qualidade, como os queijos artesanais mineiros do Serro, Araxá, Serra do Salitre e Canastra, feitos com leite cru, não pasteurizado, como alguns dos principais queijos europeus. Alguns premiados internacionalmente.
Já andei bastante pelo Estado do Rio atrás dos sabores queijeiros.
Quantitativamente, não temos uma produção como a mineira, por exemplo, mas temos uma variedade considerável de queijos de altíssima qualidade produzidos com leite de vaca, de cabra, de búfala e de ovelha, elaborados em laticínios localizados em municípios de todas as regiões do estado. Aqui segue uma pequena amostra da nossa produção.
Em Valença, queijos de leite de búfala
Só em Valença, por exemplo, há, pelo menos, sete produtores, sendo três de porte médio (Vitalatte, Grupiara e Boa Nova) e dois pequenos: Latte Buono, Capril do Lago, Ecovale e D’uvalle Queijaria.
A Latte Buono produz oito tipos de queijos com leite de búfala orgânico, além de manteiga, iogurte, doce de leite, pão de queijo e sorvetes. O casal Eduardo Lo Buono e Mônica tocam o negócio, que começou em Paraíba do Sul, em 2014, e desde 2017 está em Valença. Produtos simplesmente deliciosos, com destaque para o queijo Serra da Concórdia, que em textura e sabor lembra um queijo canastra.
A Vitalatte, um dos principais laticínios do Estado, produz cerca de 30 tipos de queijos, entre os quais a sofisticada muçarela negra, feita com leite de búfala e carvão vegetal ativado, e três feitos com leite orgânico: minas padrão, minas frescal e a muçarela de búfala.
O fescal de Miguel Pereira
De Valença vamos para Miguel Pereira saborear um dos melhores minas frescal que eu já provei, o do Sítio Solidão, que ganhou fama por ter sido o queijo “oficial” da Rio 92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento). De lá para cá, o proprietário do Sítio Solidão, Luiz Menezes, tem mantido a qualidade do seu queijo e, depois disso, já lançou diversos tipos. Antes da pandemia, Luiz produzia mais de 20 queijos, com leite de vaca, cabra e ovelha.
“Durante o período mais difícil só produzimos o frescal, mesmo assim muito pouco. Agora estamos voltando aos poucos: já temos o meia cura, a ricota e o de ovelha”, informa Luiz.
O queijo orgânico do Marcos Palmeira
Na charmosa Terê-Fri (RJ-130), estrada que liga Teresópolis a Friburgo, também há uma interessante produção queijeira. Ali fica o sítio Vale das Palmeiras, do ator Marcos Palmeira, que produz um minas frescal orgânico da melhor qualidade e com um sabor bem diferenciado, que lembra muito os artesanais mineiros. É, sem dúvida, um dos melhores minas frescal encontrados nos supermercados do Rio. Ainda na Terê-Fri há a Frialp – Queijaria Escola Suíça, herança dos colonos suíços de Nova Friburgo, que fabrica 18 tipos de queijos com leite de vaca e cinco com o de cabra. Todos muito bons. A estrada ainda abriga a produção da Fazenda Génève, produtora de excelentes queijos de cabra.
Cabras e homeopatia
E por falar em queijo de cabra não poderia deixar de mencionar os delicados queijos do Capril Deville, localizado no distrito de Inconfidência (Paraíba do Sul), com acesso por Secretário (Petrópolis). Atualmente, o Capril DeVille produz sete tipos de queijos de massa fresca, do tipo boursin, incluindo o chevre à l’huile (pequenas bolinhas de queijo no azeite extravirgem, com ervas e especiarias).
O cuidado e o carinho que Romulo Capdeville tem com suas cabras são o destaque do capril: água pura, boa alimentação e até o uso da fitoterapia e homeopatia quando, eventualmente, se fazem necessárias.
O resultado são queijos de altíssima qualidade, frescor e textura na medida.
Nova Friburgo
Ainda sobre queijos de cabra, destaque para a produção do Rancho Grande ), onde o casal Patrícia Tiedemann e Edinaldo Vasconcellos produz sete tipos de queijos, além de leite in natura e doce de leite (tradicional e com café).
“As cabras são criadas em regime semi-intensivo”, informa Edinaldo. “Pela manhã, vão para as pastagens nativas, situadas a 1200 metros de altitude, cortadas por córregos de água cristalina, retornando à tarde ao capril, onde recebem complemento alimentar e pernoitam; é o conceito das cabras felizes.”
Também tem produção de queijo de cabra em São Gonçalo, onde está localizado o Rancho dos Sonhos, um dos principais produtores de queijo de cabra do estado, com uma produção de duas toneladas de queijos por mês. São oito tipos diferentes de queijos.
Visconde de Mauá
Elaborados com o leite das vacas da Serra da Mantiqueira, os queijos do Laticínios Pedra Selada são produzidos desde 1987 em Visconde de Mauá (Resende). As suas duas marcas – Pedra Selada e Visconde de Mauá – vão do minas frescal até o prato, passando pelo queijo de coalho e o parmesão. São mais de dez tipos de queijos
Manoel Borges: tradição em Paty do Alferes
Para quem visita Paty do Alferes, no Vale Histórico do Café, a Laticínios Manoel Borges é parada obrigatória. Há mais de 30 anos, Manoel produz, ao lado dos filhos, várias delícias lácteas, incluindo, claro, os queijos.
Como quase toda pequena empresa familiar, a Manoel Borges começou de forma modesta, com uma produção limitada e uma pequena loja. Hoje, com uma extensa linha de produtos – queijos, creme de leite, iogurtes, manteiga, requeijão – pode ser considerada como um dos principais laticínios do estado.
“O aprimoramento técnico e da qualidade é uma das marcas registradas da empresa”, informa Rogéria Borges, que, ao lado do próprio pai, Manoel, do irmão Rogério e das irmãs Rosiane e Rosângela, administra o negócio. Não é à toa, portanto, que o lema da empresa é “De nossa família para a sua”. Um detalhe: mesmo na pandemia a produção não parou de crescer.