Mestres-cervejeiros costumam provocar enólogos e sommeliers, dizendo que cerveja é tão superior ao vinho que você não precisa cuspir na hora da degustação. E se você discordou desse adágio, ou é daqueles que torcem o nariz para uma cerveja artesanal de chocolate, precisa urgente subir a serra para uma experiência que vai rever seus conceitos. Porque, cuidado truta, uma novidade começa a despontar para ocupar seu lugar como iguaria típica local: a cerveja de pinhão, uma Ale de baixo amargor, cor âmbar escuro com notas de caramelo e teor alcóolico de 6,5%.
Para quem não lembra, a partir da primeira década do século XXI, o Brasil foi assolado pela moda dos “homebrewers”. Por todos os lados pessoas compravam kits de produção na internet (que custam por volta de R$ 2 mil) e começaram a fazer sua própria cerveja. Em 2020 o Google registrou que o pico de buscas naquele ano no Brasil foi por “cerveja artesanal”. Mas o modismo sofreu um baque trágico naquele mesmo ano, quando o empresário José Osvaldo de Faria morreu intoxicado pela cerveja Belorizontina. Investigações revelaram que além dele outras 10 pessoas morreram ou sofreram sequelas por ingestão elevada de dietilenoglicol – uma substância que é utilizada em uma mistura com água para diminuir seu ponto de congelamento, permitindo que o líquido atinja temperaturas inferiores a 0 °C.
O boom das cervejas caseiras terminou provocando mais sorrisos amarelos entre provadores da breja daquele amigo que resolveu apresentar sua criação no churrasco de domingo do que tragédias. E teve muita gente que acertou a mão na receita. Um deles foi o produtor cultural carioca Paulo Motta, que após muitos elogios de amigos cervejeiros, gritou “Eureka” e subiu para Mauá com duas ideias na cabeça: abandonar a agitada carreira no showbiz por um estilo de vida mais calmo e próximo à natureza, e usar essa própria natureza, produzindo cervejas com as águas puríssimas dos rios da região.
“Foi uma coisa fundo de quintal mesmo. Quando ele ajustou as bases dos sabores que queria, levou para um parceiro em Serrinha que fez a parte industrial”, conta Maria das Candeias, chef que divide com Paulo um pequeno restaurante no Centro Cultural de Mauá. “O pinhão nasceu por acaso. Ele tem muitos pinhões onde mora, no Vale do Pavão”, conta Maria. “Um dia ele resolveu juntar um tanto de pinhões, congelá-los e a partir daquela massa produzir uma base”, diz ela.
Além da inusitada e, realmente saborosa, cerveja de pinhão, a Choperia Vale do Pavão produz outras quatro opções: a Blond Ale, feita com grandes quantidades de malte Pilsner alemão, é encorpada, mas com um amargor suave e equilibrado, de sabor intenso e notas picantes e florais; a Porter, uma cerveja macia, de toque caramelado e de sabores torrados, com um aroma de café e cacau; a Weissbier, uma cerveja de trigo, levemente doce, com toques de cravo e banana; e, naturalmente, uma IPA de responsa, feita a partir de uma combinação de três maltes e quatro lúpulos diferentes.
Mas se a ideia for tomar algo mais forte e com aromas locais, a região de Mauá também conta com alambiques para entrar no jogo. E um dos mais relevantes e divertidos de Mauá é a Cachaçaria Cupim. “A gente produz aqui mesmo desde as mais simples, tipo pinga com mel e Gabriela, até as mais diferentes, como acerola com pimenta rosa, manga com pimenta dedo de moça, goiabada ou limão com alecrim”, conta o gerente Mateus Coutinho: “nas paredes você pode ver os desenhos de todo o nosso processo de produção”. A Cupim é como se fosse uma espécie de Bar do Oswaldo — veterano e conhecido point de venda de batidas na Barra da Tijuca — multiplicado pelos apetites de quem usa remédios naturais que aliviam a pressão. Basta ver como a marca aposta forte nas saborizadas, como limão com alecrim, abacaxi com hortelã, damasco e uva com manjericão. “Mas as campeãs de vendas são as de maracujá com damasco e gengibre com nozes”, conta Mateus, explicando que as cachaças custam R$ 35 a garrafa. (J.T.)
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