SANDUBAS DO MAR DO RIO

Hot Polvo, do Polvo Bar, em Botafogo

Bruno Agostini

Há algum tempo uma campanha bem-sucedida nas redes sociais pedia #voltamcfish. O movimento, que deu resultado, ganhou até perfil no Instagram: @voltamcfich. O sanduíche de peixe da rede americana de fast food não era mais servido no Brasil há alguns anos, deixando fãs saudosos. Foi a deixa para muitos bares e restaurantes cariocas enxergarem ali a oportunidade de lançar algo similar, seguindo essa mesma fórmula. Que bom!

Sebas Fish Burger

E assim, de um ano para cá, surgiram muitas opções do tipo, como o Sebas Fish Burguer, uma muito bem executada e feliz combinação entre peixe empanado, saladinha de repolho, picles e maionese de limão, servida no brioche, tostadinho na manteiga como deve ser, um sucesso no Sebastián Gastrobar, na Gávea. Outro bom exemplo é o Sakaná Sando, do Suibi, no Leblon, um sanduíche de peixe do dia empanado, com maionese de ostras e cebolinha no molho ponzu.

Arp Fish, no Arp Bar

No Arp Bar, no térreo do Hotel Arpoador, o chef Lucas Lemos assumiu a cozinha no início do ano, e lançou um novo menu, desses que a gente tem vontade de provar tudo. Experimentei muita coisa, e posso dizer com confiança: uma das melhores pedidas é o Arp Fish. Trata-se de um brioche delicioso feito na casa, que acomoda um filé de peixe crocante com saladinha, molho tártaro, picles e tomate, que pode ser acompanhado de fritas, ou salada. E ainda comemos com vista para o mar: pelas barbas de Netuno!

Sanduíche de camarão e bacon: pedido imperdível no Isca

Estrela do momento na badalada Glória, não poderia faltar nessa seleção o Labuta Mar, bar dedicado aos pescados, mais uma empreitada do chef Lúcio Vieira, dos Lilias e também do Celeste, que convocou o jovem João Victor Vianna para comandar a cozinha. De sua lavra vem o sanduíche de peixe, com nome tão simples e delicioso quanto a sua fórmula: brioche, maionese de sriracha, alface americana, picles e peixe empanado. 

Perto dali, outro endereço importante na renovação da Glória, o Isca serve um irresistível bocadillo de camarão, um sanduíche de camarões empanados com bacon, servido com kimchi, sweet chili e maionese de sriracha. Peça, se for.

Marola Hot, inspirado no hot Filadélfia

O chef Thomas Troisgros anteviu essa tendência, quando inaugurou, em 2021, a rede Marola, com lojas em São Paulo, Brasília e Rio, cidade onde tem seis unidades, incluindo Barra, Leblon, Arpoador, Botafogo e Tijuca. Um emblema da marca é o Marola fish, uma combinação de filé de peixe empanado em farinha panko com molho tártaro e queijo cheddar, montado no brioche, claramente inspirado no Mc Fish. O carro-chefe da rede, porém, é outro.

— Nosso mais vendido é o Marola hot, inspirado no hot Filadélfia — diz o chef-executivo do grupo, Rafael Cavallieri, sobre a receita que tem filé de salmão empanado em farinha panko, cream cheese, cebolete e molho teriyaki com gengibre, montado no brioche.

Outra boa pedida ali é o Marola shrimp, uma salada fria de camarão selado na chapa, preparado com molho feito com aioli de cúrcuma, picles de pepino e de cebola roxa. 

Esse último remete a um clássico da costa leste dos Estados, o lobster roll, sanduíche muito popular por lá, mas ainda pouco difundido por aqui. Deliciosa é a versão do chef Rafa Gomes, com o seu “como um lobster roll”, um canudinho crocante, levemente apimentado, recheado de salada de lagosta. Se me perguntarem o que pedir lá, a primeira coisa que viria à cabeça seria isso, de tanto que gostei.

Bao de cavaquinha no Elena

Um dos lugares que serve a receita original é o Eleninha, no Horto, com cardápio que lista o sanduíche na seção “Favoritos da Casa”, que também serve um bun de camarão com alface e “molho especial” (sacou a referência?).

Logo em frente, o asiático Elena, “mãe” do Eleninha, tem entre as melhores pedidas do menu o bun de cavaquinha, em tamanho suficiente para poder ser considerado prato principal. Trata-se de um pão típico japonês (e chinês) no vapor, com tempurá de cavaquinha, molho “especial” e alface, com tempero ligeiramente apimentado.

No Zazá, colab com o Càm’On

Bun, ou bao, com pescados, aliás, é um dos queridinhos dos cariocas, no momento, assim como as muitas versões de Mc Fish. Além dos dois já citados, podemos dizer que existem mais de dez opções do tipo no Rio hoje em dia. Na esteira dos 25 anos da casa, o Zazá Bistrô Tropical foi lançado o Bao Càm On Thai, em parceria com o restaurante tailandês, que tem lojas em Botafogo e na Barra: a receita leva o pãozinho no vapor com recheio ácido e picante de miniburguer asiático de camarão e shiitake, com tamarindo, picles de cebola, capim-limão, limão kaffir e brotos de coentro. 

No Si-Chou, uma “versão sexy do Mc Fish”

No Si-Chou, pan-asiático do chef Elia Schramm, em Ipanema, o Bao Si-Chou Fish é como uma versão do Mc Fish de olhos puxadinhos: entrou no menu especial da semana, mas de tanto sucesso que fez, foi ficando. É o pãozinho no vapor, com peixe branco empanado, molho tártaro e alface.

— É uma versão sexy do Mc Fish – comenta o chef. 

Tuna sando, no Pato com Laranja

Outro bom exemplo está no menu do Pato com Laranja, da chef Andrea Tinoco. É o bao de camarão, feito com o crustáceo escoltado por maionese de sriracha, sunomono e nabo. No menu asiático do restaurante também encontramos o tuna sando, sanduíche de atum frito com aioli de raiz forte e sunumono no brioche.

Tuna Melt, no Dainer

Aliás, sanduíches de atum são outro bem-vindo modismo no momento. Ele pode surgir em diferentes sotaques, além do japonês. No Dainer, em Botafogo, bar com DNA norte-americano, o tuna melt é feito de pasta de atum com queijo cheddar no pão sourdough tostado.

– É o nosso campeão de vendas – diz um dos sócios, Edu Araújo.

Prego de atum, no Henriqueta

O acento e a nomenclatura também podem ser lusitanos. Tanto no Henriqueta quanto no Bar de Santo Antônio, ambos no Leblon, o cardápio lista o prego de atum, sanduíche feito com um belo lombo do peixe, malpassado, com mostarda, no pão tipo sacadura. 

Também encontramos com certa facilidade o hot polvo, um “cachorro quente” que troca a salsicha por um tentáculo do molusco, sucesso de vendas em lugares como o Polvo Bar, em Botafogo, e o Sabor das Águas, no Leblon. No primeiro, chamado de hot pulpo, ele é descrito assim no menu, indicando sua condição de ícone da casa: “nosso famoso sanduíche de pão de leite, tentáculo generoso de polvo, gremolata e maionese de missô”. Já teve dia que fui lá só para comer isso. E digo, com ênfase: vale a pena.

Salada de atum, no Empório Jardim

Clássico das casas de suco do Rio, como Bibi Sucos, Polis Sucos e BB Lanches, a salada de atum também ganhou versão turbinada por iguaria importada, no Empório Jardim: é o sandubinha natural, feito com pasta de atum com azeite trufado e mix de brotos, no pão do Bem, um multigrãos integral delicioso.

São muitas as variações em torno do tema sanduíche do mar. Para quem vai ao Ocyá, referência em peixes e frutos do mar, nascido na Ilha Primeira, na Barra, e hoje com filial no Leblon, é praticamente obrigatório começar a refeição com o pão de alho, assado na brasa, que além do tempero que o nomeia também tem camarão, com resultado delicioso.

Bubba Sando, no Quartinho

Outro exemplo criativo é o Bubba Sando, do irreverente Quartinho Bar, em Botafogo, uma referência ao filme “Forrest Gump”, cuja rede de restaurantes especializado em camarões saiu das telas para virar realidade nos EUA. O sanduíche, no pão de forma tostado, é feito com o crustáceo picadinho na ponta da faca, com “temperos interessantes”, como descreve o menu, empanado na farinha panko, com maionese kewpie, molho thundercat (apimentado) e cebolinha.

Koral: frango frito com unagui

O mais inusitado de todos, exemplo da criatividade do chef Pedro Coronha, é o sanduíche de frango frito com unagui, a enguia japonesa, defumada e caramelizada, com molho tártaro, pepino e picles de cebola. Tão surpreendente quanto delicioso. Assim como as profundezas do mar.