Jan Theophilo
Raros são os turistas que não apreciam bater pernas e fazer compras em mercados públicos daqui ou do exterior. Do Mercadão de São Paulo ao Ver o Peso em Belém. Do ultra modernoso Markthal, em Roterdã, na Holanda, ao milenar (isso mesmo) Borough Market, em Londres, esses estabelecimentos costumam ter em comum a vasta oferta de itens de gastronomia, principalmente daqueles difíceis de achar, e restaurantes oferecendo o melhor da comida local. E, enquanto o Rio cometeu dois erros de uma tacada só, demolindo, em 1962, o Mercado da Praça XV, para erguer a hoje implodida Perimetral, Niterói percebeu a oportunidade dando sopa e vai inaugurar no segundo semestre seu novíssimo Mercado Municipal. Serão quase 200 lojas com produtos de todo o estado, points altamente instagramáveis para almoço ou jantar, além de um polo cervejeiro – vai ter até o sandubão com recheio pantagruélico de mortadela, como no famoso endereço paulistano.
Para se ter uma ideia do impacto positivo desses mercados nas economias locais, só em Lisboa, por exemplo, existem nove estabelecimentos deste tipo, sendo um dos mais conhecidos, o Mercado da Ribeira, que serviu como base para a versão niteroiense. “Assim como o Mercado San Miguel de Madri, na Espanha, e o próprio Mercadão de São Paulo. Estudamos estes equipamentos, selecionamos o que funcionava bem e adaptamos para cá”, explica a diretora do Mercado de Niterói, Rafaela Muniz.
O edifício da Avenida Feliciano Sodré, que abrigou, de 1930 a 1976, o Mercado Municipal da cidade e depois passou a ser o Depósito Público Estadual, faz parte de um conjunto arquitetônico da região portuária de Niterói. Com uma área de cerca de 9.700 m², o local estava desativado há mais de 40 anos. A restauração mantém o estilo art decô e o espaço promete se tornar uma referência no estado e para os turistas.
A Prefeitura de Niterói e o Consórcio Novo Mercado Municipal firmaram uma Parceria Público Privada (PPP) para a reforma e gestão do espaço por 25 anos. O investimento do consórcio será de R$ 69 milhões em três anos, sendo R$ 30 milhões na reforma do atual prédio, de arquitetura neoclássica. O empreendimento também será responsável por gerar mais de 2 mil empregos diretos e indiretos.
Segundo a diretora Rafaela Muniz, dos 172 stands, cerca de 120 já estão alugados – o menor sai a R$ 3 mil mensais. E dos quase 80 restaurantes previstos só há mais três vagas disponíveis. A intenção é trazer para o Novo Mercado Municipal pequenos produtores de Niterói e do interior do estado do Rio, que hoje só têm o Cadeg, no Rio, como opção para levar seus produtos. O térreo será um espaço para comercialização de frutas – incluindo espécies raras e de cultivo orgânico e oriundas da economia familiar – verduras, legumes, produtos tradicionais da região, açougue, empórios especiais, produtos gourmet, queijos, laticínios e especiarias. No mezanino, ficarão restaurantes, cervejarias artesanais e uma adega. Haverá uma nova praça, boulevard e estacionamento com cerca de 200 vagas. O local contará com medidas de sustentabilidade, como o uso da luz natural, reaproveitamento de água de chuva e telhado verde.
“A gente não quer que isso aqui vire mais um shopping center. Então você não vai encontrar uma franquia do Mc Donald’s, Burger King ou do Spoletto, você vai ter uma experiência mais artesanal”, diz Roberta. Ela cita como exemplo a produtora ‘Dr Cogumelo’, de Lumiar, que fornece champignons e portobellos para os melhores restaurantes do estado e terá seu primeiro ponto de vendas com foco no consumidor final. Entre outros nomes já confirmados estão uma nova filial do restaurante e cervejaria niteroiense NOI, o primeiro Bar do David Brazil, o Sagrado Mar (especializado em frutos do mar) e operações como os Produtos do Nordeste, um investimento dos proprietários da paraibana Cachaça Matuta e o Botequim Arlequim, da Cervejaria Therezópolis.
Segundo o ex-prefeito e atual secretário executivo da Prefeitura de Niterói, Rodrigo Neves, o projeto fazia parte do Plano Estratégico de Niterói, concebido em 2013, junto com o Túnel Charitas-Cafubá e o Centro Integrado de Segurança Pública. “Na época, fizemos um trabalho grande e criamos uma força tarefa de vários órgãos da administração municipal porque essa era uma área que estava abandonada. O espaço foi inaugurado por Getúlio Vargas, em 1938, e era o antigo mercado do estado do Rio de Janeiro, quando Niterói era a capital do estado. Os produtos do interior chegavam pelo porto e pela estação ferroviária. Então é uma retomada, depois de 40 anos, de um mercado que tem uma importância histórica e arquitetônica e que vai gerar emprego e revitalizar uma área degradada de Niterói”, ressaltou Rodrigo Neves.
O Mercado Municipal está em fase de ajustes finais das obras. Já foi concluída a drenagem, a rede de infraestrutura de iluminação e telefonia subterrânea, além da restauração de piso, iluminação e vidros. A previsão é de que no fim de julho os donos dos stands e restaurantes comecem as obras de finalização dos seus espaços e, em outubro, seja agendada a inauguração oficial. “Todos os projetos estão em harmonia com o design histórico do Mercado. Esperamos que, em breve, esse espaço se torne um marco para a cidade de Niterói como um local de gastronomia, de entretenimento, de lazer, e que fomente o desenvolvimento econômico na cidade. Queremos encantar o cliente, oferecer uma experiência que ele não terá em nenhum outro polo comercial”, diz a diretora Rafaela Muniz. Abre o olho, Cadeg!
Mercados que associam gastronomia e venda de produtos locais são item obrigatório na agenda dos operadores de turismo mundial. Que o diga a boa e velha Londres, que mantém desde o século XII, exatamente no mesmo local, o Borough Market. Lá funcionam mais de 100 stands, onde se encontra o que há de melhor de vários países da Europa, além das antigas colônias do Reino Unido. De hambúrgueres de canguru a comida de rua iraquiana, aqui se acha de tudo um muito. No Fish! por exemplo, se come o melhor fish ’n’ chips da cidade, e há até mesmo uma lojinha de deliciosos molhos venezuelanos, a La Pepiá.
Foi de olho nesse filão turístico que a cidade de Roterdam, na Holanda, inaugurou em 2014, depois de cinco anos de obras, o Markthal, um colorido prédio em formato de túnel localizado bem no centro da cidade. Com arquitetura inovadora, o prédio conta com 100 mil m² e abriga 96 stands e 20 lojas e restaurantes oferecendo o que há de mais fresco e delicioso nos Países Baixos. O destaque aqui vai para o stroopwafel. Em uma tradução livre, seria um “waffle com calda”. A tradicional iguaria holandesa consiste justamente em um biscoito formado por duas finas camadas de massa em forma de disco recheadas de um caramelo bem consistente. Diferentemente do tradicional “waffle” belga, o stroopwafel é crocante, e o caramelo do recheio é o que garante a textura perfeita.
Os mais aventureiros talvez apreciem mais os mercados tailandeses. Bangkok é apinhada deles, como o divertido Maeklong Railway Market, o famoso Mercado do Trem. Ele funciona literalmente sobre uma linha ferroviária. Quando a locomotiva passa, os vendedores recolhem as tendas e produtos expostos para o trem passar. E menos de 30 segundos depois, tudo está montado novamente, como se nada tivesse acontecido. Mas a capital é famosa principalmente pelos mercados fluviais, como o Damnoen Saduak ou, o melhor de todos, o Amphawa Floating Market, todos a cerca de uma hora da cidade. Não se surpreenda se ao longo do seu passeio um comerciante puxar seu barquinho com um gancho para oferecer desde estatuetas douradas do Buda e sacos imensos de incenso a cachos de banana. Imperdível é relaxar e se sentar na beira do canal enquanto seu pad thai é preparado ali mesmo dentro do barco. Mas se tamanho for documento, o Grand Bazar de Istambul é considerado o maior do mundo. Ele tem mais de 60 ruas cobertas por quase quatro mil lojinhas, é frequentado por 250.000 a 400.000 pessoas diariamente, e calcula-se que cerca de 20.000 trabalhem ali. Inaugurado em 1461 vende desde as coloridas louças turcas a tapetes persas e, principalmente, os melhores tipos de açafrão do mundo. Uma brincadeira cara. Alguns deles tem preços estratosféricos, como o Açafrão de Flores Roxas, que, por módicos US$ 20 mil o quilo, é considerado o tempero mais caro do mundo.
E MAIS:
– Entrevista com o prefeito de Niterói, Axel Grael (clique no link para ler)
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