O ROXY DEVOLVIDO AO RIO

O cine Roxy, uma verdadeira joia do estilo Art-Déco

Jan Theophilo

Na década de 1960, a cidade do Rio de Janeiro contava com nada menos que 198 cinemas de rua. Entre eles, 62 salas com capacidade superior a mil espectadores. Muito mais do que meros locais de entretenimento, eles se constituíam em espaços de socialização comunitária e construção de cidadania. Nas décadas seguintes, muitas foram as últimas sessões para um público cada vez menor, e cada vez mais retraído em casa graças aos confortos ofertados pelas novidades tecnológicas. Com o tempo, as salas de exibição foram sendo ocupadas por farmácias, templos religiosos ou academias. Mas uma boa notícia para os cariocas chegou para quebrar essa lógica que conspira contra a cultura. Inaugurado em 1938, o cine Roxy, uma verdadeira joia do estilo Art Déco, localizado na esquina da Nossa Senhora de Copacabana com Bolívar, foi adquirido pelo empresário Alexandre Accioly, sócio da rede de academias Bodytech. Em parceria com Dody Sirena, empresário do cantor Roberto Carlos, o espaço será reaberto no segundo semestre como uma casa de espetáculos.

“O Rio que já teve casas inesquecíveis e lendárias como Oba Oba, Plataforma e Scala, que foram vencidas por empreendimentos imobiliários, ficou sem nenhuma alternativa do tipo para cariocas, turistas nacionais e estrangeiros que visitam nossa cidade. Queremos trazer uma nova experiência com gastronomia, drinques, música ao vivo e um espetáculo sensacional. Com certeza mostraremos o melhor da cultura brasileira com muito profissionalismo e respeito à nossa brasilidade”, diz Alexandre Accioly.

Segundo ele, o projeto do novo Roxy buscou inspiração em outros estabelecimentos internacionais, como Moulin Rouge, em Paris, e Le Extravagance, em Buenos Aires. O projeto da casa é um investimento de R$ 40 milhões. Além das inspirações em modelos de outros países, Accioly revela que se espelhou também na experiência da cidade de Gramado. “Gramado é uma cidade que tem quase o mesmo número de quartos de hotel em relação ao número de habitantes e recebe cerca de sete milhões de turistas nacionais por ano. Ao passar quatro noites lá, você tem uma programação diurna, inclusive para crianças, e muitos equipamentos de entretenimento. O Natal lá dura mais de um mês. É disso que o Rio precisa”, afirma o empresário.

Para voltar aos anos dourados, o Roxy está sendo completamente restaurado pelo arquiteto e urbanista Jorge Astorga, a convite de Sérgio Dias e Ana Lúcia Jucá, autores do novo projeto arquitetônico da casa, que vem sendo trabalhado desde março do ano passado. O glamour já começa na entrada: a nova calçada de pedras portuguesas tem desenho semelhante ao do calçadão da praia de Copacabana. A cúpula, projetada pelo engenheiro Emílio Henrique Baumgart com 36,2m de diâmetro, e que já foi a maior do mundo, voltará a compor a sala de teatro. Seu piso de mármore de rochas tipo calcário lioz rosa, as pilastras do lobby e a famosa escadaria logo na entrada também estão sendo recuperados.

O palco contará com um grande painel LED, e as luzes nas mesas e abóboda vão interagir com o que é apresentado ao público, em um trabalho de light design assinado por Maneco Quinderé. A plateia terá mesas e cadeiras, como toda boa casa de espetáculos, e 180 dos 920 lugares serão no balcão. A proposta é que o público possa desfrutar de uma viagem sensorial, visual, sonora e gastronômica, e viva a experiência de visitar todo o país estando em um espaço grandioso.

A noite começará às 19h, com um jantar embalado por um show de bossa nova comandado por um sexteto. Às 21h30 terá início o espetáculo, e a noite se encerrará às 23h. O objetivo é de que as apresentações tenham foco nas músicas e características culturais das cinco regiões do Brasil e sejam uma atração para a visita de turistas. A expectativa é que 80% do público compre a experiência completa e 20% adquiram somente o espetáculo. Já a equipe será composta por 200 funcionários, cerca de 70 deles só no elenco do espetáculo.

“Acreditamos muito nesse projeto. O Roxy é um lugar histórico para mim. Tenho várias memórias de garoto e recordo de diversos filmes a que assisti aqui. Esse lugar tem uma história gigantesca, e o mercado mudou, hoje as pessoas vão a shoppings para ir ao cinema.  O Roxy também será para cariocas, e todos eles vão ter a chance de conhecer o lugar como ele foi construído.

De acordo com o engenheiro Sergio Dias, o projeto apresentou muitos desafios — talvez o principal deles o de não haver uma planta original guardada em qualquer arquivo técnico. Foi necessário realizar levantamentos topográfico e fotográfico e redesenhar toda a planta. Ele recorda que o projeto original era de um cineteatro com palco, cortina e backstage, como será o novo. No seu auge, o Roxy comportava 1.630 pessoas em sua plateia. “Estou completamente apaixonado pelo projeto. Quando pensamos que já fizemos de tudo, encontramos uma nova paixão desafiante. Fui criado naquela rua, assisti aos melhores filmes ali, e aquele era o cinema do Rio mais perfeito para mim. O Roxy estava desfigurado, com suas principais características arquitetônicas escondidas, e agora todos poderão ver sua beleza novamente”, afirma Dias.