Bruno Agostini
Para entrar na Casa 201 da rua Lopes Quintas, que acaba de ser inaugurada, é preciso tocar a campainha, como se estivéssemos visitando um amigo; mas, antes disso, é obrigatório reservar. Os jantares acontecem de terça a sábado, a partir das 20h. A novidade nasce cheia de expectativas.
Quem está por trás do projeto é o chef João Paulo Frankenfeld, de 38 anos, que tem currículo invejável: de ascendência alemã, ele estudou gastronomia na França onde se formou no Instituto Paul Bocuse, em Lyon, uma das principais escolas de gastronomia do mundo, e passou por restaurantes estrelados em Paris, como Guy Savoy, Gordon Ramsey e Hotel de Crillon. Ao voltar ao Brasil, ainda foi chef executivo e professor do Cordon Bleu carioca, em Botafogo. Técnica é o que não lhe falta. Inclusive, ele faz queijos e embutidos, que serve em seu menu, apresentados em várias etapas, seguindo a tradição francesa. Tem pães caseiros de fermentação natural e picles, tudo feito ali mesmo; além de amuse bouche, entradas, prato principal, serviço de queijos artesanais brasileiros (incluindo o da casa), sorbet, sobremesa e petitfours.
– Esse lugar é a realização de um sonho. Um restaurante de cardápio clássico, mas com serviço um pouco mais informal. São apenas 20 lugares, de modo que eu consigo ir às mesas apresentar cada prato, podendo interagir com os clientes, que jantam no seu tempo, pois só recebemos um grupo por noite – conta o chef, que promete mudar o cardápio a cada dois meses.
Neste menu inicial ele prepara pratos certeiros, como o trio de amuse bouche, formado por tradicional patê de campagne com pistache, crocante de peixe, com limão caviar e creme azedo e tartelette de repolho fermentado e caramelizado, com espuma de barriga de porco; além de cremeux de foie gras e uva e ravioli de frutos do mar, com molho de espumante e mousseline de couve-flor, que são as entradas. Para o principal, “Déclinaison” de pato, com o peito da ave curado na casa, servido com batata confit, jus de pato e cogumelo Paris. Depois da rodada final de petitfours, vale pedir chá ou café – porque a curadoria de produtos é do mais alto nível.
Perto dali, na rua Pacheco Leão, descendo em direção ao Horto, encontramos mais uma novidade muito aguardada pelos cariocas: é o restaurante Elena, que tem dois craques no comando. Na cozinha, quem dá as cartas é o chef Itamar Araújo, que trabalhou no Copacabana Palace, época em passou um período na Ásia, estudando a gastronomia daquele continente, antes de assumir o Mee. No bar, outra referência na hospitalidade carioca, o mixologista Alex Mesquita, que está de volta ao Rio depois de uma temporada em São Paulo.
A dupla é responsável pelo burburinho em torno da casa, que é superlativa em todos os sentidos. São dois andares, num casarão histórico que passou por grande reforma, com decoração moderna, projeções de vídeos, trilha sonora bem selecionada, num trabalho que contou com a participação de outro nome de peso: Batman Zavarese, que cuidou da concepção visual e musical do espaço, que se for classificado de suntuoso não é exagero. É bom também reservar, apesar dos quase 200 lugares.
No primeiro andar ficam o bar, logo à entrada, e o salão principal, de onde avistamos a cozinha envidraçada, da qual sai um menu vasto e certeiro, que passeia pelo continente asiático, produzindo receitas bem elaboradas, como kimchi de acelga fermentada com especiarias coreanas; salada de folhas e tangerina, alho crocante, amendoim e molho thai; vieiras grelhadas no molho X.O; espetinho de barriga de porco, caramelo de misso e picles de mostarda; dumplings de camarão; gyoza de porco e nirácom molho shoyu e vinagre; harumaki de wagyu e molho sweet chili; katso sando, com pão tostado, barriga de porco empanada, coleslaw e molho tonkatsu; rolinhos vietnamitas de porco, black funghi, e molho sambal de tangerina; tempurá de milho; pad thai de frango, com coentro, tofu, broto de feijão; e curry vermelho, filé mignon, berinjela, tomate cereja, ervas e cebola crocante. Tem até um braseiro, onde assam peixes, camarões carabineiro e wagyu, entre outras peças.
Confeiteiro renomado, Itamar (da sensacional CreamyPatisserie) faz sobremesas incríveis, e elas não devem ser dispensadas, como o bolo de chocolate, ou mesmo a banana frita com toffee de missô.
As duas casas abriram as portas juntas, na segunda semana de maio, atraindo as atenções para a vizinhança, que desde o ano passado ganhou outras novidades altamente recomendáveis. Em abril, um outro chef tarimbado chegou ao Jardim Botânico: é Bruno Katz, que trabalhou no Olympe de Claude Troisgros, e que cuida da cozinha de outros dois lugares badalados: o Nosso, em Ipanema; e o bar Chanchada, em Botafogo. Em seu novo endereço, o Katz Sü, ele mostra mais uma vez sua versatilidade, apostando em um cardápio de comidas de rua da Ásia, num ambiente despojado, em frente ao prédio da TV Globo, na Rua Von Martius: tem ficado lotado, com público jovem, que se farta com receitas como tataki de atum com farelo de tempura, furikake, óleo de gergelim, cebolinha, gochungaru; as asinhas de frango ling, glaceadas em molho picante; a “costeleta” de milho, em manteiga de missô coreano e mel; a fritada filipina com nirá, cebola, batata doce, abóbora, cenoura em tempurá, dip de tofu e gengibre e o okonomiaki, o omelete japonês, com legumes, maionese kewpie, molho Katz-sü, pó de nori e cebolinha; a salada de ovos, batata, kimchi e ajitamae o arroz frito de porco, com o “ovo perfeito”, gohan, kimchi, cenoura, milho, acelga e maionese kewpie, entre outras receitas. Para encerrar, tamarindo slurp é uma boa pedida, com ganache de chocolate branco, sorbet de tamarindo, pralinê de amendoim e calda de maracujá.
Ainda este ano teremos, pelo menos, mais duas novas casas, que já nascem com futuro promissor: no final de julho, no máximo, será inaugurada a Quinta da Henriqueta, expansão da casa portuguesa, que nasceu há um ano, no Leblon, e agora ganha um endereço irmão, que vai ter no comando o mesmo chef Carlos Gleyson. Ficará na Lopes Quintas, onde foi a Casa Carandaí. E, até dezembro, nasce o Mar Salgado, dos mesmos donos da ibérica Adega Santiago, que também vai apostar no receituário lusitano, mas com foco nos pescados.
O trio de novidades que já nasceram badaladas, e as duas que estão por vir, chegam para reforçar a tradição gastronômica da área, que no ano passado também ganhou, ao menos, dois outros endereços importantes: a Absurda Confeitaria, do chef Henrique Rossanelli, que trabalhou no Oro e no Lilia, autor de alguns dos melhores doces do Rio, e um pão de queijo espetacular; e o Prosa na Cozinha, onde acontecem disputadas aulas, com alguns dos melhores chefs da cidade, e que organiza feiras mensais, com pequenos produtores artesanais. Aliás, a Absurda, tão pequena no tamanho quanto enorme na qualidade, comprou o imóvel vizinho, para expandir.
Isso sem falar no Malkah, aberto no final de 2021, na rua Visconde de Carandaí, esquina com Lopes Quintas, da chef Ludmila Soeiro, ex-Zuka; do Escama, casa de peixes e frutos do mar, que abriu as portas no início daquele ano, exatamente em 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, a Rainha do Mar, bem em frente, do outro lado da rua, que já tem o Grado, premiado italiano do chef Nello Garaventa, e o Sud, o Pássaro Verde, de Roberta Sudbrack.
Por ali, temos ainda a Ella Pizzaria, muito premiada, o Malta Beef Club, outra casa que está sempre encabeçando as listas de melhores carnes do Rio, restaurantes um pouco mais velhos, de 2017. Quem quiser tradição não se decepciona: sempre teremos (se Deus quiser) o icônico Filé de Ouro, desde 1966 com seus bifes impecáveis – pra muitos, é o melhor Oswaldo Aranha do Rio, o que não é pouca coisa, não.
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