Aydano André Motta
GRANDES MUDANÇAS URBANÍSTICAS DO RIO
O Rio sonhou ser a Paris Tropical, toureou suas montanhas para se expandir como metrópole, inventou manobras ambiciosas na busca por mobilidade e criou equipamentos que serviram de complemento virtuoso à beleza natural da cidade. A seguir, as maiores transformações urbanas da história carioca:
1 Os túneis para Copacabana. O desafio de conquistar as montanhas que apartavam a então capital do Brasil de suas praias oceânicas obrigou a abertura de túneis – o primeiro deles, o Real Grandeza, rebatizado mais adiante de Alaor Prata, mas isso ninguém sabe, porque o nome adotado pela população é Túnel Velho, e não se fala mais nisso. Inaugurado a 6 de julho de 1892, permitiu a passagem do bonde que viabilizou o início da ocupação de Copacabana, até ali um distante arrabalde. Em 1906, ganhou companhia fundamental com a abertura do Túnel Carioca, na Avenida Princesa Isabel. Duplicado em 1949, virou o Túnel Novo.
2 O Bota-Abaixo de Pereira Passos. O século 20 chegou com o Rio em grande efervescência cultural e seu prefeito, o empresário e engenheiro Alberto Pereira Passos (dono da Estrada de Ferro do Corcovado), pensou a cidade como uma Paris Tropical. À frente de um grupo de urbanistas, iniciou ambicioso plano de reformas, apelidado pela população de “Bota-Abaixo”. O nome bem-humorado era, em verdade, projeto higienista e elitizante, que removia os pobres dos cortiços localizados no Centro, para dar lugar à Avenida Central (hoje Rio Branco). Ligando a Praça Mauá à Avenida Beira-Mar, aproximou o Porto do novo centro comercial. Para completar, foram inaugurados o novo prédio da Biblioteca Nacional (1905), o Museu Nacional de Belas Artes (1908) e o Theatro Municipal (1909). Os excluídos foram morar em favelas nas franjas do Centro.
3 O Plano Dioxiadis. Então governador da Guanabara, Carlos Lacerda (1960-1965) contratou o arquiteto e urbanista grego Constantino Doxiadis para estabelecer as linhas mestras do urbanismo no Rio. Consistia na abertura de grandes vias para circulação de automóveis, na metrópole que nunca apostou no transporte ferroviário. Seriam, na teoria, 403 km de pistas expressas – Linhas Vermelha, Amarela, Azul, Marrom, Lilás e Verde – e 517 km de avenidas municipais. No fim, materializaram-se parte da Lilás (de Laranjeiras a Santo Cristo, pelo Túnel Santa Bárbara), a Vermelha (do Túnel Rebouças à Via Dutra, na Baixada Fluminense) e a Amarela (de Jacarepaguá à Ilha do Fundão). A Linha Vermelha foi feita por Leonel Brizola e a Linha Amarela por César Maia.
4 Aterro do Flamengo. Joia carioca, o Parque do Flamengo ocupa 1,2 milhão de metros quadrados à beira da Baía de Guanabara, do Aeroporto Santos Dumont à Praia de Botafogo. Inaugurado em 17 de outubro de 1965, o complexo de lazer cortado por vias expressas surgiu a partir de ideia de Carlota de Macedo Soares, tem opulenta vegetação, de espécies nativas selecionadas pelo paisagista Roberto Burle Marx. Lá, estão o Museu de Arte Moderna, o Monumento aos Mortos da II Segunda Guerra Mundial, a Marina da Glória, o Memorial Getúlio Vargas e o monumento a Estácio de Sá. Tudo diante do Pão de Açúcar e do Cristo Redentor. Um espetáculo.
5 Túnel Rebouças. Principal conexão entre as Zonas Norte e Sul da Cidade, liga o Rio Comprido à Lagoa por 2.800 metros em duas galerias paralelas. Seu nome homenageia os irmãos baianos Antônio e André Rebouças, engenheiros abolicionistas criadores da infraestrutura e do saneamento no Segundo Reinado. Inaugurado em 3 de outubro de 1967 pelo governador Negrão de Lima, serviu, por nove anos, exclusivamente aos carros de passeio. Em 1976, começaram a trafegar ônibus, serviço só massificado em 1983, com a implantação de linhas ligando São Cristóvão a Copacabana, Ipanema e Leblon.
6 Rio Cidade. Obras de urbanização em 27 bairros, que duraram oito anos, mudando a cara da cidade. Redimensionamento do sistema de escoamento das águas pluviais, construção de galerias subterrâneas para fios e cabos, reforma de calçadas, retirada e substituição de postes, modernização da sinalização horizontal e vertical, plantio e replantio de árvores, renovação do piso asfáltico e da iluminação, remodelamento do mobiliário urbano de praças e calçadões estiveram entre as mudanças, realizadas nos governos de Cesar Maia (1993-1996) e Luiz Paulo Conde (1997-2000).
7 BRT. Sistema de transporte coletivo sobre rodas (na sigla para Bus Rapid Transit) ainda em construção, que circula pelos corredores interligados TransOeste (Jardim Oceânico-Santa Cruz, via Recreio), TransCarioca (Barra-Aeroporto Tom Jobim), TransOlímpica (Recreio-Magalhães Bastos) e TransBrasil (Deodoro-Centro). Inaugurado parcialmente em 2012, para os Jogos Olímpicos de 2016, é a grande obra das gestões de Eduardo Paes na prefeitura, mas só teve concluída a última parte, o TransBrasil, em fevereiro passado, com sete anos de atraso. Atende atualmente 950 mil passageiros por dia, em 31 linhas e 133 estações.
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