Ricardo Bruno – Chefe de Redação
Detectar mudanças na geografia urbana do Rio é desafio permanente da Rio Já. Estamos sempre atentos a transformações que, correr dos anos, acabam por alterar a fisionomia da cidade. Não são obras espontâneas, resultantes do acaso urbanístico, tampouco se dão atreladas somente às leis de mercado.
As mudanças de relevo no perfil da cidade resultam de políticas públicas acertadas; são movimentos de ajuste e correção na ocupação dos espaços a partir de um conjunto de ações entrelaçadas entre a Prefeitura do Rio, pilotada por Eduardo Paes, e a Câmara de Vereadores, capitaneada por Carlo Caiado.
Quando o poder público consegue essa sintonia fina, ganha a sociedade. E esse ganho é ainda maior quando a matéria em jogo é pautada exclusivamente pelo interesse público – exemplo rematado das ações desencadeadas pela prefeitura para emprestar vida ao Centro da cidade, área que se tornou esquecida e degradada; primeiro, pelo esvaziamento do setor financeiro no Rio na década de 90; mais recentemente, pela descoberta do home office durante a pandemia.
A Petrobras, por exemplo, funciona ainda nos dias atuais com 40% de sua força de trabalho em sua sede, num sistema hibrido com frequência presencial apenas duas vezes por semana. Esta é a situação da maioria das empresas. A ponte Rio-Niterói não tem mais tráfego pesado às segundas-feiras mas sim às terças e quintas, dias de trabalho presencial na maioria das companhias.
Como ensina Karl Max, para mudar é necessário primeiro entender a realidade diante da qual estamos colocados. A compreensão é o primeiro passo do processo nem sempre tranquilo de mudanças do status quo.
A falta de entendimento às vezes leva a equívocos como a investir na recuperação da região portuária com edificações voltadas exclusivamente a corporações empresarias, uma vã tentativa de reviver algo cujos fundamentos já não existem mais. Recentemente, o poder público fez uma correção de rota cirúrgica: abriu o espaço para projetos habitacionais na região. Com mudanças de parâmetros edilícios e incentivos fiscais atraentes, estimulou uma espécie de gentrificão às avessas: trouxe novos moradores para uma região antes quase fantasma.
Diferentemente dos anos 70/80, quando o Centro pulsava na cadência frenética das oscilações da bolsa de valores, o que se pretende agora é garantir vida na região a partir da fixação de novos moradores. É criar pertencimento para que num futuro não distante se tenha orgulho de residir na região. Quem sabe, em alguns anos, um novo gentílico será criado para definir habitantes apaixonados pelo Centro da cidade. Este é um eficiente antídoto à degradação urbanística de qualquer região.
Nas páginas desta edição, o texto sempre saboroso de Aydano Motta traduz, com minudências de uma apuração precisa, as transformações do Centro. (Para ler, clique aqui).
Da metrópole, cenário de mutações urbanísticas que alteraram o tecido social da cidade, partimos para uma das mais bucólicas cidades brasileiras: Paraty. Fundada no século XVI, a cidade registrou um período de prosperidade nos anos 1800 quando se tornou importante entreposto para escoamento do ouro de Minas Gerais através do porto local. Com o esgotamento do metal, mergulhou em aguda decadência econômica, agravada pelo isolamento geográfico. Com o asfaltamento da Rio-Santos em 1971, resplandeceu intacta às intempéries do tempo, alavancada pelo turismo.
Hoje, atrai turístas de todo o mundo – alguns, encantados, resolvem fixar residência em meio ao casario colonial, com suas ruas de pedras que enchem de água todas as tardes quando a maré sobe. Paraty é mais do que uma cidade bela; é cenário deslumbrante de fragmentos históricos do Brasil colonial.
A três horas e meia do Rio, Paraty foi visitada pelo repórter Jan Theophilo, que nesta edição nos relata o estilo e os prazeres de vida caiçara. (Para ler, clique aqui).
Boa leitura.