Ricardo Bruno – Chefe de redação
Administrar uma cidade com as dimensões do Rio de Janeiro, onde vivem mais de 6,5 milhões de pessoas, é tarefa, em si, hercúlea. São problemas graves, crônicos, de degradação urbanística e desigualdade social – agravados por crise econômica recorrente – que parecem insolúveis. Recuperá-la, após um vendaval de descasos, inação e completa incapacidade gerencial do titular anterior, é desafio ainda maior. Aparentemente, insuperável.
Quando assumiu pela terceira vez o comando da prefeitura carioca em 2020, Eduardo Paes estava diante de um quadro desolador: déficit de cerca de R$ 10 bilhões, ausência de recursos para pagamento do 13º salário dos servidores, serviços essenciais de saúde paralisados, hospitais municipais em pandarecos e o sistema de transportes BRT completamente sucateado. Em caixa, irrisórios R$ 12 milhões.
O legado maldito não o desencorajou. Com a adoção de medidas de boa governança – revisão de custeio, contenção de despesas e esforço de arrecadação – um ano depois o Rio apresentaria disponibilidade de caixa para investimentos de R$ 6,7 bilhões – uma mudança e tanto diante da situação pré-falimentar encontrada.
A despeito das falhas ainda existentes na administração – e elas naturalmente são muitas – o Rio de Janeiro experimenta um momento alvissareiro. Há a percepção nítida de que a cidade melhora, sob a gestão do atual prefeito. Entre moradores e visitantes, cresce a crença de que o Rio de Paes é infinitamente melhor do que o Rio de Crivella. Esqueçam as justificativas, as relativizações e outras tentativas vãs de desmerecer as mudanças. O que importa é se a vida aqui melhorou. E, seguramente, isto se firma como verdade a cada dia para a maioria dos cariocas. O mais é irrelevante no pragmatismo das escolhas populares, especialmente as eleitorais.
Não por outra razão, Eduardo Paes caminha sem sobressaltos para um feito inédito na história político-eleitoral da cidade: eleger-se prefeito pela quarta vez. Nenhum outro político carioca conseguiu tal façanha – hoje tranquilamente factível para o alcaide. Não há sequer opositor para valer na lista de prováveis candidatos. Os que se apresentam para o embate buscam, na verdade, projeção pessoal, visando a objetivos eleitorais secundários nas eleições parlamentares de 2026.
As intervenções na administração da cidade se desenvolvem em alguns eixos centrais, a partir dos quais se percebe avanço na qualidade da prestação de serviços e mão firme no ordenamento urbano.
Na saúde, com a zelo de Daniel Sorans, um dos mais qualificados quadros da medicina pública nacional, Eduardo Paes conseguiu desatar o nó górdio da fila do sistema de regulação para internações (Sisreg). O tempo de espera por um procedimento é um indicador palpável da eficiência do aparato público de saúde. Para reduzir a angústia de enorme parcela da sociedade que aguarda anos por exames e cirurgias, inaugurou o Super Centro Carioca de Saúde – um devorador de filas. O tempo médio de espera para consultas e exames caiu à metade: de 160 para 80 dias. Até o fim de 2024, a expectativa é reduzir para 30 dias.
Estatizado, o sistema BRT já não exibe os sinais de descaso e abandono da gestão anterior. Estações reformadas, ônibus novos e ar condicionando tinindo revelam a recuperação do modal. Em parceria com o governo do presidente Lula estão sendo investidos R$ 2 bilhões na compra de 628 ônibus.
Guardando as proporções e as circunstâncias da época, a ousadia de Eduardo Paes na gestão lembra Pereira Passos, o interventor federal que estabeleceu as linhas fulcrais do ordenamento urbano ainda vigente na capital. Passos foi responsável por um enorme conjunto de obras e remoções que assegurou o desenvolvimento do Rio a partir de três eixos centrais: a fixação dos trabalhadores na Zona Norte, a elite na Zona Sul e o Centro como área reservada ao trabalho. A configuração, grosso modo, ainda permanece.
A exemplo de seu antecessor mais notório, Eduardo Paes é também responsável por um bota abaixo implacável para conter o crescimento desordenado da cidade. Desde o início de sua gestão, 2.970 construções irregulares foram demolidas. Sete em cada dez em áreas dominadas pela milícia ou pelo tráfico. Há um nítido esforço para se reconfigurar a cidade segundo padrões urbanísticos modernos, socialmente mais justos. Ao estimular a construção de moradias no Centro, por exemplo, Paes promove uma gentrificação às avessas: traz para a região moradores da periferia e recupera a área degradada.
Político de centro, Paes administra o Rio com uma pegada progressista. Incorporou o PT ao governo – com três secretarias – e adotou um conjunto de iniciativas identificadas com esse campo ideológico. Recentemente, assinou em Denver (EUA) o Pacto de Combate ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial, colocando o Rio no topo das cidades mundiais comprometidas com a causa. Sem falar que é fã do presidente Lula, a quem apoiou sem ressalvas nas últimas eleições.
Na reportagem central desta edição, o repórter Aydano Motta conversou com Eduardo Paes e esquadrinhou, com a participação da repórter Caroline Rocha, as principais iniciativas que emprestam ao Rio e aos cariocas o resgate da autoestima e a certeza de que caminhamos na direção correta.
Boa leitura