EDITORIAL: O FUTURO DO RIO É JÁ!

Tirolesa: projeto polêmico no cartão-postal

Ricardo Bruno

Invariavelmente, intervenções urbanas não convencionais despertam polêmicas, alimentam debates, inflam posições antagônicas. As reações contrárias, contudo, nem sempre expressam o ponto de equilíbrio abstrato onde residem a lógica e a razão, base de uma análise sensata. Mudanças trazem apreensão – sempre. Há um medo atávico de se perder espaço, de se alterar a rotina ou de se ver reduzida a relevância de nossas posições no conjunto da sociedade. Enfim, há um reacionarismo culturalmente arraigado, sempre à espreita – supostamente pronto a nos proteger das ideias ou projetos ameaçadores.

A situação se agrava quando enveredamos no debate ambiental. Há quase uma histeria na oposição a propostas que de alguma forma mudam a configuração de espaços públicos ou privados. Quase nada está a salvo do cerco implacável de grupos organizados ou de ações da chamada tutela coletiva do ministério público. Instaurou-se uma severa patrulha nesta seara.

É verdade que, historicamente, houve displicência, desídia e irresponsabilidade no trato de questões ambientais.  A postura negligente trouxe degradação e danos irreparáveis ao ambiente. Ocorre que, em sentido contrário, criou-se uma barreira insensata – às vezes intransponível – a qualquer iniciativa que altere minimamente a paisagem das cidades. Em defesa do interesse coletivo, por suposto, estabeleceu-se regra não escrita, mas aceita como politicamente correta, de que nada pode ser alterado na ordem ambiental vigente.

Para usar uma expressão motivacional britânica da Segunda Guerra Mundial, é necessário manter a calma e continuar analisando os fatos objetivamente (keep calm and carry on). Não se pode ceder a todo e qualquer argumento politicamente correto apenas para não se indispor com o senso comum. É necessário enfrentar o debate com lucidez e coragem.

Neste diapasão, a Rio Já apresenta a polêmica sobre a construção da tirolesa ligando o Pão de Açúcar ao Morro da Urca. Aprovada após exaustivas análises dos órgãos ambientais municipais e federais, a novidade colocou em lados opostos ambientalistas e entusiastas do turismo na cidade. Empedernidos, os arautos do mundo ecologicamente perfeito veem grave ameaça na obra – diferentemente da análise técnica dos órgãos de controle.

O repórter Jan Theóphilo se aventurou na adrenalina do debate sobre a obra polêmica. Descobriu que até os prováveis gritos de pavor dos futuros frequentadores são usados como argumentos da suposta interferência no ecossistema e na tranquilidade dos moradores da Urca. Detectou, de resto, os exageros da crítica mas, igualmente, deu voz ao outro lado, onde perfila o indômito Carlos Minc. O parlamentar denuncia o corte de pedaços do bloco rochoso, patrimônio mundial da Unesco – o que configuraria intolerável agressão ambiental.

Em meio a tantas cizânias urbanas de uma metrópole em permanente mudança, nasce um outro projeto importante para reerguer o turismo carioca: a transformação dos salões do extinto Cine Roxy – uma verdadeira joia do estilo Art Déco – em casa de espetáculos para turistas, ao estilo do Moulin Rouge, de Paris. Alexandre Accioly, sócio das academais Bodytech, e Dody Sirena, empresário de Roberto Carlos, se juntaram na empreitada que visa a novamente dar vida àquele espaço hoje  totalmente degradado.

Benfazeja, a obra vai recuperar em minúcias o lendário prédio do Roxy, cujo glamour se esvaiu na esteira da substituição dos projetores à carvão, primeiro, pelo videocassete, e mais recentemente pelo streaming. O Roxy, como de resto as salas de projeção em geral, sucumbiu ao avanço tecnológico.

O prédio não será transformado em supermercado, tampouco uma igreja fará púlpito no local. O espaço continuará destinado às artes, abrirá mercado de trabalho para músicos, cantores, cenógrafos alimentando toda a cadeia produtiva dos espetáculos. Mas, pasmem! , há opiniões contrárias. Lamentam a destinação da área e reclamam a volta dos salões de  cinema dos anos 60, com pipoca e lanterninhas. É saudosismo apenas.

Nesta edição também, a talentosa Caroline Rocha visitou o ‘Fazendo a Diferença no Jiu-Jitsu’, projeto que visa a utilizar o esporte como ferramenta para inclusão social de pessoas com deficiência. Ela ouviu relatos densos de emoção a respeito das consequências da iniciativa, aparentemente corriqueira, na transformação da vida de crianças com Down ou autistas.


E mais: Bruno Agostini mostra as maravilhas gastronômicas dos quiosques à beira mar. E Aydano Motta revela em sinopse a concepção criativa da série Encantado’s, o supermercado que vira escola de samba e, agora, chega à TV Globo.


À leitura.