Caroline Rocha
Um levantamento da imobiliária online QuintoAndar apontou a Tijuca como a localidade mais buscada no Rio de Janeiro para compra e venda de imóveis. Um dos poucos bairros cariocas cujo nome originou um gentílico próprio – e ser tijucano é motivo de orgulho para seus moradores – o bairro subiu nas buscas da plataforma em 2024 e ultrapassou regiões como Barra da Tijuca (2°), Copacabana (3°) e Botafogo (4°).
Com mais de 250 anos de existência, a Tijuca abriga diversas instituições tradicionais, entre elas: educandários, como o Colégio Pedro II, ISERJ e o Colégio Militar do Rio de Janeiro; instalações esportivas, como o America Football Club e o Tênis Clube; e construções históricas, como a igreja de São Francisco Xavier e a Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus dos Carmelitas.
“Tijucano raiz”, como gosta de se definir, Ralph Guichard é morador da Praça Saens Peña desde que nasceu e descreve a Tijuca como um “bairro completo”. “A Tijuca é ideal para todas as idades e perfis”, afirma. Apaixonado pelo lugar onde vive há 34 anos, ele recorda com nostalgia: “Quem não sente saudades de tomar um café no Palheta, assistir a um filme em um dos extintos cinemas de rua, participar de um ensaio de escola de samba na Conde de Bonfim ou vibrar com uma final de campeonato nacional de basquete no Tijuca Tênis Clube?”
O relatório do QuintoAndar não especifica os critérios considerados pelos compradores e vendedores na hora da decisão por determinado bairro, mas para o subprefeito da Grande Tijuca, Higor Gomes, é a localização estratégica que pesa na decisão. “Acredito que a busca de imóveis na Tijuca se dê pela proximidade com o Centro e o acesso rápido à Zona Sul através do metrô, além do bairro ter muita movimentação e comércio em abundância”, afirmou Gomes.
Ana Carolina Pereira, de 20 anos, compartilha desta visão. Moradora da Tijuca há seis anos, ela deixou a Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, para dividir um apartamento com a avó e o pai próximo à Igreja dos Capuchinhos. “Na Barra, eu não tinha independência, pois não dirigia e não podia contar com bom transporte público. Eu sinto que aqui eu tenho experiências muito boas. Eu posso me divertir em um bar ou assistir a um jogo no Maracanã, por exemplo, sem dificuldades”, explicou a jovem, que cursa o ensino superior há poucos minutos dali, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
“Acredito que a busca de imóveis na Tijuca se dê pela proximidade com o Centro e o acesso rápido à Zona Sul através do metrô, além do bairro ter muita movimentação e comércio em abundância”
(Subprefeito Higor Gomes)
A ampla oferta de transporte público torna a Tijuca uma alternativa atrativa e acessível para novos moradores. Além das estações de metrô Afonso Pena, São Francisco Xavier, Saens Peña e Uruguai, o bairro possui diversas linhas de ônibus que fazem ligações com bairros como Penha, Olaria, Irajá, Praça Seca e Marechal Hermes.
Ana e Ralph recomendam a compra de imóveis na região, destacando a excelente mobilidade urbana, que facilita o acesso a diferentes pontos da cidade, e uma ampla variedade de comércios e opções de lazer, incluindo shopping centers, supermercados, lojas e restaurantes. No entanto, alertam: o principal desafio segue sendo a segurança. “Tem vários relatos de roubos e furtos, alguns que ocorreram na frente da minha casa e nas redondezas. Está melhorando, mas ainda acontece”, diz Ana.
Outra dificuldade é o aumento dos preços: “O custo de vida também está cada vez mais caro no bairro, com os preços de imóveis e aluguéis aumentando desproporcionalmente à infraestrutura deles, que geralmente são antigos”, lamenta Guichard. Mas é possível encontrar bons apartamentos com o mesmo conforto preços menores que os da Zona Sul.
“O principal desafio segue sendo a segurança. Tem vários relatos de roubos e furtos, alguns que ocorreram na frente da minha casa e nas redondezas. Está melhorando, mas ainda acontece”
(Ana Carolina Pereira, estudante da UERJ)
A Tijuca ocupa a 18° posição no Índice de Progresso Social (IPS) de bairros do Rio de Janeiro, com 72,15 pontos. Entre os 159 bairros analisados, a Barra da Tijuca lidera o ranking com 79,29. Um pouco abaixo, aparecem Copacabana em 7° lugar (76,69) e Botafogo em 10° (75,14). O IPS da cidade do Rio de Janeiro é 65,2. O índice é uma ferramenta utilizada para avaliar o desenvolvimento humano nos bairros da cidade, considerando indicadores sociais e ambientais. As pontuações variam de 0 a 100, sendo que valores mais altos indicam melhor desempenho.
De acordo com o gerente de Dados do Grupo Quinto Andar, Thiago Reis, o ranking dos mais buscados para compra e venda de imóveis funciona como um termômetro da demanda da cidade, “já que mostra os bairros mais procurados – não necessariamente os que estão crescendo mais ou que possuem uma oferta maior de imóveis.” Apesar da liderança de um bairro da Zona Norte, ele afirma que o destaque continua na tradicional Zona Sul, onde o preço médio do m² chega a R$ 9.827,90, praticamente o dobro do praticado na cidade no geral (R$ 5.000).
É perto das praias onde está a maioria dos mais buscados. “É possível ver uma concentração grande de bairros da Zona Sul (Copacabana, Botafogo, Flamengo e Ipanema), o que explica o alto preço nas localidades. A lista dos ‘10 mais’, que já contou também com o Leblon, não costuma mudar muito. Bairros como Méier e Freguesia estão sempre no ranking. Por isso, o perfil dos compradores é bastante amplo: há desde pessoas sozinhas procurando apartamentos menores (principalmente em bairros mais bem localizados e com oferta de transporte e serviços) até famílias (que costumam privilegiar espaços maiores)”, explica o gerente de dados.
Aos interessados em investimentos, o olhar deve se voltar para o Centro, indica Thiago. A região tem a maior rentabilidade potencial da cidade: 7% ao ano, “o que mostra a localidade como uma possibilidade atrativa de investimento imobiliário”. Enquanto na Zona Sul o preço/m² é de R$ 9827,9, a região central do Rio tem valores em média quase 45% menores (R$ 5480,8).
A valorização da região não é aleatória. Em 2021, a Prefeitura do Rio lançou o programa Reviver Centro para promover a recuperação urbana, social e econômica da área central da cidade. O Plano Urbano tem na construção de novas moradias e na transformação de uso de prédios comerciais para residenciais ou mistos o carro-chefe para atrair moradores para a região, aproveitando o grande potencial já construído e terrenos vazios e sem uso há décadas.