Por Rosayne Macedo
Petrópolis já se recupera do trauma das chuvas e aposta em eventos e novos investimentos para a retomada do turismo
Após o trauma dos temporais de 15 de fevereiro e 20 de março deste ano, que deixaram 242 mortos, dois desaparecidos e mais de 3,5 mil desabrigados e desalojados, Petrópolis já começa a dar sinais de recuperação. O dado é confirmado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O número de contratações no setor de alojamento e alimentação em maio mostra que a Cidade Imperial registrou saldo positivo em contratações pelo segundo mês consecutivo. Foram gerados 55 novos postos de trabalho, o que representa mais do que o dobro de novas contratações realizadas em abril, que teve saldo de 24.
Um exemplo é o Grande Hotel Petrópolis, um dos mais tradicionais do centro histórico da Cidade Imperial. Fundado em 1930, o hotel ficou muitos anos fechado e após cinco anos em obras, foi reinaugurado em 2011. Hoje oferece 67 leitos, sendo um dos principais da cidade. Com a tragédia, que se concentrou na região central da cidade, o estabelecimento foi fortemente impactado com a baixa procura de turistas. Desde maio, voltou a contratar: dos 29 funcionários que trabalhavam antes das chuvas, 27 já estão na ativa.
“Estávamos com altas expectativas para este ano. Janeiro foi um bom mês e fevereiro prometia seguir a mesma coisa. Com as chuvas, perdemos praticamente o primeiro andar todo, onde fica a recepção, bar e lobby do hotel, além de três salas da gerência e administração. Tivemos um prejuízo inestimável e os custos ficaram por conta própria. O que o governo ajudou foi com a forma de pagamento dos empréstimos”, diz a dona do estabelecimento, Bianca Ghidini.
Segundo ela, os meses subsequentes foram de ocupação baixa, e continua baixa, se comparando aos anos ‘normais’. “Nossa alta temporada ainda não está alta. Tivemos um movimento bom no Dia dos Namorados e último feriado de Corpus Christi. Tivemos que fazer demissões na época das chuvas, e agora recontratamos e contratamos”, explica a empresária.
Para Germano Valente, presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Petrópolis (Sindturismo), as contratações entre abril e maio já são reflexo da alta temporada. “As baixas temperaturas e a realização de grandes eventos – ajudaram a movimentar o setor nesse período, contribuindo com a retomada econômica que a cidade precisa”, afirma. Embora os sinais de recuperação já sejam nítidos, ele destaca que a ocupação hoteleira, por exemplo, ainda não chegou ao que era no período pré-pandemia.
Tudo indica que o segundo semestre será promissor. Pelo menos se depender da animação das mais de 50 mil pessoas que prestigiaram a quarta edição da Oktoberfest Petrópolis, realizada nos dois últimos fins de semana de junho, com números impressionantes. Além do recorde de público, cerca de 48 mil litros de chope foram consumidos em mais de 90 horas de programação. A cultura alemã foi celebrada com muita comida típica, shows e atrações para todas as idades. A média de consumo das 16 marcas de cervejas artesanais foi de quase 7 mil litros em cada dia de festa, número ainda maior que os da edição anterior.
A XXXIII Bauernfest – Festa do Colono Alemão, dias 12 e 28 de agosto, é outra importante aposta do município. “A Bauernfest é a nossa festa mais tradicional e será símbolo da retomada do turismo da cidade. O setor turístico gera emprego, renda e é um dos principais segmentos econômicos de Petrópolis. Vamos realizar uma grande festa ao lado dos grupos germânicos e toda a sociedade”, diz o prefeito Rubens Bomtempo.
No final de julho, o Festival de Inverno do Sesc traz shows gratuitos de Lulu Santos, Leo Jaime, Iza e Melim, no Sesc Quitandinha e Parque Municipal de Itaipava.
Casal de empresários se reinventa após perder tudo
A jovem empresária Bruna Gallozio Dias, de 29 anos, e o marido José Augusto Dias, 39. da Cafeteria Inverno D’Itália, perderam tudo nas duas chuvas, menos a resiliência. Metade da loja foi abaixo. Máquina de gelo, forno industrial, móveis… Tudo foi perdido. No primeiro temporal, em 15 de fevereiro de 2022, o prejuízo avaliado pelo casal foi de R$ 50 mil.
“Foi um drama, a equipe de funcionários ficou presa com clientes no girau de 3 x 3 metros. Eram 11 pessoas presas no escuro e a água não parava de subir. Todos saíram bem de saúde, não digo psicologicamente porque todo mundo teve que buscar ajuda profissional depois desse trauma”, conta Bruna.
O casal de empresários recorreu ao crédito emergencial da Agerio – a agência de fomento do estado – logo no dia em que foi anunciado, em 17 de fevereiro, mas reclama da falta de celeridade. “No dia 19 de março, reabri de novo a cafeteria, fui aos responsáveis e o recurso ainda não tinha saído. O mesmo aconteceu com vários outros empresários”, conta Bruna.
A reinauguração na badalada Rua do Imperador foi um sucesso. Mas mal eles recuperavam o fôlego e já no dia seguinte veio o segundo grande temporal, em 20 de março. Era um dia de domingo. Bruna foi abrir a loja, por volta das duas horas da tarde, e foi surpreendida pelas águas. “Os rios estavam completamente sujos de lixos. Só tive tempo de trancar a loja, peguei o carro e saí correndo. Infelizmente estourou um paredão de água e perdemos tudo de novo”, relembra.
Graças à vaquinha e à ajuda dos amigos, o casal conseguiu se reerguer novamente e adaptou a cafeteria em um espaço menor, dessa vez, na Avenida Ipiranga, logo atrás da Catedral São Pedro de Alcântara, segundo maior ponto turístico da cidade, reinaugurado no começo de julho. Tudo o que podia recuperar da outra loja foi aproveitado. A estratégia de reinvenção foi reduzir o cardápio, só colocando o que os clientes mais gostavam. Uma novidade foi introduzir o wafle belga, com 15 opções. Para isso o casal teve que fazer um curso especializado.
“Desde que abrimos, as pessoas têm sido muito solidárias. Agora temos que apostar em excelência no atendimento, produtos de qualidade,conforto para o atendimento e música ambiente agradável. Apostamos no conceito ‘coffee to go’: tiramos o pedido rápido para o cliente pegar e sair bebendo. O ambiente é mais simples, porém, aconchegante e acolhedor, com preço acessível”, conta a empresária.
Para Bruna, a retomada econômica de Petrópolis está acontecendo, mas ainda longe dos tempos áureos do turismo na Cidade Imperial. “Sinto que existe uma recuperação econômica do município como um todo. Mas na questão da infraestrutura, a recuperação ainda é lenta, é só maquiagem no Centro. A Rua Coronel Veiga, que é uma das principais vias, ficou interditada por muito tempo. Está dando movimento, mas ainda é bastante insatisfatório. A Rua Teresa (principal polo de moda do município) foi muito abalada. Houve celeridade só na maquiagem, uma corrida para ficar tudo bonito. Mas aos poucos as pessoas estão voltando por ser uma cidade turística”, conta.
