Luisa Prochnik
Em tempos onde o estar e o permanecer tornaram-se verbos fora de moda, o estilo “day use” de curtir a vida faz cada vez mais sentido quando o assunto é turismo. Seja para quem vem de fora do estado do Rio de Janeiro ou mesmo para quem mora na região, a possibilidade de usar hoteis por um dia, sem ter que arcar com tarifas de preço cheio, é a oportunidade única de se permitir viver momentos em lugares até antes proibitivos, tanto pelo custo alto como pela falta de acesso.
– Antigamente, eu tinha uma imagem de que esses lugares que oferecem uma vista bacana e muito conforto seriam fora da minha realidade. Depois, comecei a perceber que há muitos lugares bacanas, para estar com uma pessoa ou com os amigos, e não é tão caro assim – diz Marcus Vinicius Santos
– Então, o “day use” te oferece isso, você gasta pouco e desfruta do que o hotel proporciona.
Marcus faz parte de um grupo de cariocas que adora turistar na própria cidade. Conhecer novos lugares ou explorar os antigos a partir de diferentes pontos de vista. O visual importa muito, a piscina também entra na conta e, com um sorriso no rosto, ele completa que um bom “day use” precisa ter, sempre, uma cerveja gelada e bom atendimento. Atualmente, ele e a esposa são sócios de um clube localizado na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, o Costa Brava, com matrícula, mensalidade, conforto e, acrescenta, uma oportunidade de bons negócios e parcerias.
– Eu trabalho com vendas e alugando quartos. Nesse clube, eu posso levar meus convidados e eu acabo proporcionando uma diária para os meus clientes, que ficam muito satisfeitos. E na avaliação chove de elogio – explica Marcus.
Mas se hoje ele tem um porto seguro dentro da cidade onde mora, quando vai turistar em outros estados o “day use” segue sendo uma ótima opção, como fez em viagem recente à Maceió, capital de Alagoas. Marcus conheceu o mundo dos “hotéis por um dia” através de sua amiga, Daniella Carvalho. Daniella é esteticista e massoterapeuta, mas a paixão que a move é ser uma turista dentro do próprio bairro, o Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste da cidade.
Para quem nunca visitou, o Recreio é repleto de praias lindas, limpas e algumas selvagens. O Recreio também respira esporte aquático, como surfe, stand up paddle e barcos a remo. Na época, em 2016, Daniella nem morava na região, mas começou a se interessar pelas praias locais, inclusive para praticar esportes.
– Eu vejo a escolha do day use como as pessoas querendo ser um pouco mais livres, não ficarem presas a um clube – considera Daniella.
Hoje moradora oficial do bairro que tanto ama, Daniella frequenta “day uses” em hotéis, hostels e pousadas locais, aproveitando com amigas, entre umas ondas e outras e remadas em cima da prancha. A paixão por turistar perto de casa é tanta que ela desenvolveu um projeto, no momento esperando mais investimento, de guiar interessados por trilhas e em praias desconhecidas do Recreio dos Bandeirantes.
Da Zona Oeste para Santa Teresa, Centro até o mais famoso de todos, o Copacabana Palace. Vários hotéis de preços diferentes entre si e voltados para perfil variado de público oferecem a possibilidade de “day use” com propostas diversas para os hóspedes de um dia só, como piscina, acesso facilitado à praia, quadras esportivas, espaço para crianças, entre outras. Quem não gostaria, por exemplo, de dizer que deu um mergulho na piscina do Copa? Piscina que recebeu e ainda é desfrutada por artistas, músicos, políticos e personalidades mundialmente conhecidas.
No entanto, não é apenas para os turistas, locais ou de fora, que o “day use” traz vantagens: os hotéis e pousadas também se beneficiam quando resolvem adotar essa estratégia. Sites especializados em negócios na área de hotelaria defendem essa opção como uma forma de alavancar a receita do estabelecimento, ainda mais quando se fala na temida baixa temporada. No Copacabana Palace o pacote “day use” oferece quarto por algumas horas ao dia, o que não é uma regra em outros estabelecimentos, que, muitas vezes, abrem apenas as áreas comuns ao visitante. A preferência é para os hóspedes pagantes da tarifa cheia e que se hospedam com a intenção de pernoite e permanência por mais dias. Mas se 24 horas antes existirem quartos disponíveis, o interessado em passar apenas um dia por lá terá a chance de concretizar o seu plano de experimentar os seus famosos apartamentos.
Outros estabelecimentos além de hotéis e pousadas investem no conceito de uso por um dia. Casas de festa com piscina, churrasqueira, quadra de futebol, por exemplo, podem ser alugadas para um evento em que pessoas chegam e vão embora no mesmo dia. Espaços bem estruturados para receber crianças são outro modelo de negócio para que os pais organizem festas fora dos salões dos prédios, com a chance de curtir um dia agradável sem pernoitar no local.
Uma opção bem diferente da ofertada pelos hotéis foi citada por Daniella Carvalho: a Casa do Remo, localizada em Guaratiba. No site oficial do estabelecimento, encontra-se a possibilidade de ser sócio e, inclusive, deixar pranchas guardadas no galpão local. Mas também há o que eles chamam de taxa de permanência: “Para quem quiser apenas desfrutar do ambiente da casa sem remar, ou pra quem quiser trazer sua própria prancha e não for sócio, cobramos taxa de permanência ou de serviço”. Ou seja, um “day use” sem estrutura de hotelaria, mas, com possibilidade de ser um espaço de lazer, para a prática desportiva, para encontros, workshops, ensaios fotográficos e festas de confraternização.
Fica, então, como sugestão para o ano de 2025: turistar com estilo dentro do próprio estado, pagando menos e usufruindo do melhor que o local tem a oferecer.