CULTURA: O PRIMEIRO TEATRO DE RUA DO RECREIO

Jackson Antunes e Luiz Antônio

Caroline Rocha

O   “pontinho colorido” em meio ao acinzentado padrão da cidade logo entrega qual daqueles imóveis é o primeiro teatro de rua do Recreio dos Bandeirantes. Grafites nas paredes, letreiro iluminado e as clássicas máscaras gregas, da tragédia e da comédia, garantem que o número 593 da Rua Maurício da Costa Faria é reduto de arte.

O pioneiro no bairro se chama Moral da História e surgiu para facilitar o acesso de moradores da Zona Oeste à cultura. A missão foi fruto das vivências do diretor artístico do espaço. Nascido em Curicica, Luiz Antônio do Nascimento, que interpretou o carismático Buscapé, da novela O Cravo e a Rosa, sentiu na pele os desafios de escolher a carreira de ator sem viver nos grandes centros. 

“A Zona Oeste é a região mais populosa da cidade, mas a cena cultural é concentrada na Zona Sul. Apesar do Recreio ser visto como área nobre, ele é cercado por comunidades e periferias, assim como todo o nosso Rio de Janeiro. Aqui existem muitos artistas que precisam de escuta, de espaço e de acolhimento. O Moral da História chega no bairro para mudar essa situação”, declarou Luiz Antônio.

O teatro possui capacidade máxima para 70 lugares, com assentos adaptados para pessoas com deficiência, e palco em formato italiano. A programação de agosto conta com Desfazendo Ideias, stand up comedy com Felipe Ferreira, viral nas redes e uma das principais revelações do humor brasileiro; o clássico infantil Os Saltimbancos; o musical Pela Estrada Afora, sobre a Chapeuzinho Vermelho, com coreografias inspiradas na Broadway; as travessuras de Maria Minhoca; e o espetáculo Drummond para crianças.

Além de peças e stand up comedy, o espaço recebe oficinas gratuitas para todas as faixas etárias. As aulas são para desenvolver habilidades para atuar nos palcos ou nas telinhas. Com turmas baby, adolescente, adulto e sênior, o incentivo é para que pessoas de todas as faixas etárias participem das dinâmicas. “Bebês a partir de três anos já podem participar das aulas e não há limite de idade. Nosso objetivo é acolher a todos os públicos. Nós estruturamos um espaço inclusivo que seja capaz de atender às necessidades de crianças, idosos, PCDs, adultos e quem mais tiver interesse em aumentar seu repertório cultural”, afirmou a produtora e cineasta Lívia Santhiago.

Homenagem em vida

Os sorrisos do público ao ver a placa prateada externam o orgulho e admiração dos amantes da arte. A Sala Jackson Antunes, em homenagem ao ator de 63 anos, é uma iniciativa incomum em uma cultura acostumada a celebrar a história de personalidades apenas após a morte. “Chega de homenagens póstumas. Tem que fazer enquanto o caboclo está aí, para ele curtir e ficar feliz. Aqui eu virei um menino, contando causos e brincando. Muito obrigado! Me sinto muito honrado!”, afirmou Jackson, que atualmente dá vida a Deocleciano no remake de Renascer, novela das nove da TV Globo.

Foi na primeira versão desta novela que ele iniciou sua carreira, em 1993, na pele do matador “Damião”. Durante as mais de três décadas dedicadas à atuação, participou de diversas teledramaturgias, entre elas, O Rei do Gado, Anjo Mau, Terra Nostra e A Favorita. O caminho até o sucesso, no entanto, não foi nada simples para o menino nascido em Janaúba, cidade de cerca de 70 mil habitantes no interior de Minas Gerais. “Eu entendo o cabra que não acreditava que eu iria ser ator. Não tinha como acreditar”, lembra Antunes. 

O nome da sala foi uma forma de agradecimento do diretor artístico do teatro ao tratamento que recebeu de Jackson na novela A Padroeira, em 2001. “Era minha segunda novela. Eu acreditava que não dava mais, que era hora de botar o pé no chão e ‘voltar para a vida real’. O Jackson me acolheu e fez acreditar que era possível viver disso. É um momento de muita gratidão pelo o que ele fez por mim, mas, principalmente, pela contribuição dele para a arte”, disse Luiz.