BOTECO TAMBÉM É COISA DE FRANCÊS

O chef Claude Troisgros é frequentador de botequins cariocas

O chef francês mais carioca do mundo, Claude Troisgros, logo que chegou ao Brasil se apaixonou pela cultura dos botequins, e passou a frequentá-los. Até que, no início dos anos 2000, ele criou o seu Boteco 66, no Jardim Botânico.

— Se eu tenho uma referência de boteco, que obviamente evoluiu muito, e não é mais aquele bar da esquina, onde você come uma coxinha de galinha, e bebe uma boa cerveja ou uma cachaça, é o bistrô. Eu fui um dos primeiros, há uns 25 anos atrás, a criar o Boteco 66, que era parecido com um bistrô francês, mas servindo comida brasileira, pratos brasileiros. Então, o boteco evoluiu. De 2020 para cá, ganhou um sentido mais gastronômico. O que significa um boteco? Comparo a um bom bistrô, onde você vai realmente comer, neste caso, comida tradicional, com bom cardápio de vinhos, tudo com preços baratos. E o boteco é basicamente isso: um bar e restaurante que serve comida brasileira, barata e boa, bem-feita, com uma boa cerveja, uma boa cachaça, uma boa caipirinha. Às vezes um pouco personalizada, como a Katia Barbosa, que criou o bolinho de feijoada. Enfim, sempre ligada a essa tradição brasileira. Então, é isso: eu quero comer bem, barato, simpático, em ambiente agradável e divertido, eu vou num boteco. É um lugar para encontrar gente. Geralmente você vai com amigos. Se vai sozinho, vai para encontrar os amigos, ou para fazer amizades. As mesas, em geral, são apertadas, também com esse propósito, de fazer as pessoas dividirem comida, bebida e histórias. É uma coisa sempre generosa, amigável e divertida – conta Troisgros, um sobrenome que é referência na gastronomia mundial há quatro gerações.    

Seu conterrâneo Didier Labbé coordenava as cozinhas de seus restaurantes, como chef executivo, e ficou com o ponto quando Troisgros decidiu se dedicar ao Chez Claude, no Leblon. Agora em Ipanema com seu Didier Bistrot, ele é outro francês – como quase todos os outros que vivem no Rio – que adora um bom boteco. Tanto que criou o seu próprio Botecô, nome de seu serviço que, ao menos por enquanto, atende a eventos, como o Quintal dos Botecos, com menu que traz petiscos como caldo de mocotó com feijão branco, linguiça e bacon.

— Pra mim, o boteco é um lugar para encontrar os amigos, onde é servida comida bem brasileira, simples, e bem temperada. Gosto de rabada, de croquete… Gosto de tudo. Para você bater um papo, boa cerveja, chope. Adoro isso: para ficar horas e horas conversando, falando besteira com os amigos. Claro, recentemente os botecos mudaram muito, a decoração, mais moderna de verdade, antes era mais pé-sujo. A concepção hoje é bem diferente de quando conheci, é mais cuidadoso. Com comida feita com mais pesquisa. Também acho importante boa música, bem brasileira — diz Didier.

Porque, além de democrático, boteco não tem fronteiras. (B.A.)

LEIA MAIS:
– GASTRONOMIA: AFINAL, O QUE É UM BOTEQUIM?
– A ESSÊNCIA E A SIMPLICIDADE DO ESPÍRITO DEMOCRÁTICO