Bruno Agostini
Nas mesas debruçadas sobre a mureta centenária do Forte de Copacabana, a vista é privilegiada: Pão de Açúcar ao fundo e toda a orla curvilínea que vai até o Leme. Há temperos extras por ali, que tornam tudo ainda mais saboroso: as ondas batendo nas pedras, e o natural marulho, o vaivém das pranchas de stand up paddle, e até tartarugas são avistadas nadando por lá, com sorte. Isso faz do Café 18 do Forte um dos lugares mais agradáveis do Rio para uma refeição, seja um brunch, de manhã, um almoço ou lanche de tarde. A cozinha não é menos importante, e está à altura do panorama. Por trás do restaurante está Edu Araújo, que também comanda outras casas de sucesso no Rio, como o italiano Pope, em Ipanema, e os bares Chanchada e Quartinho, ambos em Botafogo.
Do lado, a filial de um ícone carioca, a Confeitaria Colombo, que ali serve um menu reduzido para um público gigantesco. Às terças, quando a entrada (normalmente R$ 10) é gratuita, fica mais difícil conseguir uma mesa em algum dos dois cafés vizinhos. Às 10h já tem populosa fila na porta, muitas vezes chegando até a Colônia de Pescadores do Posto 6. Com as temperaturas mais amenas e os dias de sol que marcam a temporada de outono-inverno carioca, tudo fica ainda melhor: menos calor, pouca chuva.
Do Forte de Copacabana até a Mureta do Leme são pouco mais de quatro quilômetros de extensão. De um ponto a outro, existem 64 quiosques, que apresentam os mais variados cardápios: tem charcutaria, cozinhas marinhas, pratos nordestinos e até clube de jazz, com direito a menu italiano para acompanhar o som – muito bom, por sinal.
Com a nova estrutura subterrânea, espaço para banheiros e cozinhas equipadas, encontramos alguns lugares que não ficam nada a dever a bons restaurantes, tendo a vista de brinde, e a brisa como ventilador.
Nas últimas semanas, pude comprovar isso ao visitar alguns desses estabelecimentos, começando pelo Café 18 do Forte e terminando na Mureta do Leme. Bebi Bloody Mary com camarão (servido de guarnição no próprio drinque), provei cobb salad de atum, polvo com baião de dois, caldinho de feijão e massas “veramente” italianas, entre outras coisas saborosas.
Nosso roteiro praiano começa no Café 18 do Forte, que está com menu novinho em folha, lançado em meados de abril. Alguns pratos não podem ser excluídos, caso do steak tartare, muito bem temperado, que pode ser escoltado por fritas de verdade, cortadas na faca, assim como a carne.
Ali, o menu é dividido em dois horários. De 10h às 13h e das 16h às 19h são servidos itens de café da manhã, como waffle, bagel com salmão e ovo, além de drinques leves, como mimosa. Ao meio-dia tem início o menu de almoço, que traz o tartare, alguns outros petiscos bons para beliscar, como bolinhos de brisket e o crudo de atum com stracciatella, além de sanduíches e pratos quentes. Entre as novidades está o arroz meloso de polvo, com linguiça.
A gente sai da fortaleza e praticamente tropeça no Tropik, primeiro quiosque do Posto 6, que pertence ao hotel Fairmont, logo defronte. Pertinho do mar, tem cardápio que também traz itens de café da manhã, além de pratos, privilegiando receitas mais leves, com destaque para peixes e frutos do mar, como a Tuna Cobb Salad, uma versão da famosa salada californiana, que fazia sucesso entre artistas de cinema, composta por atum selado, ovo, minimilho, tomatinhos, cebola roxa, azeitonas, brócolis e gergelim. Muito adequado. Assim como a carta de vinhos, com direito a bons rótulos próprios.
Continuamos o tour à beira-mar, e no caminho podemos tirar uma foto com Drummond sentado eternamente no seu banco de granito.
Em frente ao hotel Pestana está outra boa parada, com jeitão de boteco e menu irreverente: é o Coisa de Carioca, que tem um bom jazz nas noites de segunda, e shows diários, com altura moderada e bom repertório, também com muito samba. Prestes a completar 10 anos (foi inaugurado no dia 5 de junho de 2013), um dos pioneiros, serve petiscos com nomes bem humorados, que trazem expressões típicas da cidade, como o Tirando Onda (anéis de lulas à dorê servidos com molho rosé da casa) o Tá Ligado (dadinhos dourados de tapioca com queijo coalho servidos com geleia artesanal de pimenta de abacaxi), o Show de Bola (filé-mignon aperitivo acebolado servido com aipim crocante na manteiga de garrafa e queijo derretido, para até três pessoas), o Fala Sério! (camarões empanados em massa leve servidos com aïoli de ervas finas) e o Vem que Vem Quicando (camarões com casca salteados em azeite com alho). As receitas foram criadas com a consultoria das chefs Rô Gouvêa e Ciça Roxo. Já os drinques foram criados pelo bartender uruguaio Walter Garin, um dos melhores do Rio, criador de receitas como o Pôr do Sol, com maracujá, abacaxi e pimenta da Jamaica, incluindo versões sem álcool.
– Temos música ao vivo todos os dias. Segunda tem jazz, programa que está completando um ano. E também criamos temporadas temáticas, como a que celebrou os Novos Baianos e a homenagem à música de Minas Gerais – diz Dani Barreto, sócia da casa.
Continuando pelo calçadão projetado por Burle Marx aludindo às ondas atlânticas, temos uma dupla de quiosques vizinhos que se completam, ambos abertos recentemente.
De um lado está o Dumare, inaugurado na véspera de Natal do ano passado, em 24 de dezembro. Como o nome sugere, serve um menu voltado aos pescados, onde podemos degustar receitas como o polvo com baião da praia, os camarões empanados no coco, a frigideira de frutos do mar e a panela de peixada à escabeche, além de ceviches, entre outras receitas com pescados. Também tem chef consultor conhecido, Dudu Mesquita. Para beber, a pedida são os drinques, como o Iemanjá, que traz a combinação de gim, fireball, cordial de abacaxi, soda artesanal Dumare e espuma de pitaya com capim-limão.
Seu vizinho é a novidade mais recente, inaugurada no fim de março: é a filial oceânica do badalado botequim Enchendo Linguiça, que tem esse nome por fazer seus próprios embutidos, que estão entre os destaques do menu. Assim como o célebre joelho de porco, um dos melhores e mais fotografados do Rio. Uma TV de cachorro, onde ele é preparado, na matriz do Grajaú, ali surge em forma de cenografia, dominando a entrada do boteco.
Um pouco mais antigo, inaugurado em 2021, o Arrastapé poderia estar na Feira de São Cristóvão, mas escolheu Copacabana, e serve uma boa amostra da cozinha nordestina, o que atrai turistas interessados na cultura brasileira e cariocas. Foram os campeões do Prêmio Sabores da Orla 2022, promovido pela Orla Rio, que tem a concessão dos mais de 300 quiosques da cidade. Com capacidade para 250 pessoas e diversos ambientes que remetem à cultura nordestina, tem um menu repleto de carne-de-sol, queijo coalho e escondidinho de camarão, mas também tem picanha e até pratos vegetarianos.
Não falta nem mesmo uma boa trattoria, ainda que o nome não indique isso: no Gávea Beach Club, já no Leme, com unidades também em São Conrado e na Barra, quem dá as cartas são os irmãos napolitanos Jolanda e Maurizio Ruggiero. O menu é mediterrâneo, como eles. As massas são excelentes, cozidas no ponto certo, al dente, e com molhos clássicos, como o matriciana, ótima escolha. No subsolo existe até um club de jazz, a Taverna del Mar, que é um verdadeiro achado.
Terminamos o passeio na Mureta do Leme, onde está o quiosque de mesmo nome, famoso pelo pôr-do-sol e pela estátua de Clarice Lispector.
O menu é eclético, e vai de petiscos, como pastéis, batata frita com queijo e bacon, filé aperitivo e porções de frutos do mar empanados, a pratos como risoto de camarão cremoso, tornedor de mignon ao Madeira, picanha na chapa, com arroz, feijão e farofa, e costelinha ao barbecue. Encerramos vendo o cair da tarde e os anzóis sendo lançados no Caminho dos Pescadores, a continuação da calçada da Mureta.
Do desjejum no Café 18 do Forte até o fim de tarde na Mureta do Leme, cruzamos toda a orla, na zona mais turística do Rio. E podemos fazer isso comendo bem. Como, aliás, muitos cariocas andam fazendo.
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