A POTÊNCIA CULTURAL CARIOCA NO RITMO DO SAMBA

Escolas de samba são potências culturais de magnitude planetária.

Aydano André Motta – Coordenador da edição especial  de carnaval

Certo cacoete, dos muitos que assolam a terra carioca, costuma exilar o Carnaval das escolas de samba na gaveta dos assuntos econômicos. Geradoras de emprego e renda na alta temporada turística (além de ativas o ano todo, com shows, feijoadas e ensaios), as grifes da folia viram reféns do rótulo excessivamente capitalista, como se fossem apenas um item do sortido setor de serviços da cidade.

Errado demais.

As escolas de samba são, acima de tudo, potências culturais de magnitude planetária. Usinas de conhecimento, empoderam e elevam a autoestima de comunidades inteiras, além de iluminar personagens e episódios apagados da história oficial do Brasil. No melhor ritmo, conjugam arte e cidadania, envoltas em beleza e alegria.

Para 2024, as protagonistas do maior espetáculo brasileiro dobram a aposta na cultura, com enredos que celebram livros, reverenciam estrelas da música, exaltam povos originários e evocam personagens invisíveis aos registros oficiais. Como ano passado e ano que vem, Rio Já mergulha no caldeirão da batucada, para trazer o melhor conteúdo sobre a maratona de fevereiro.

Caroline Rocha detalha enredos, sambas e artistas das 12 escolas do Grupo Especial, no melhor guia das duas noites de festa. Tudo que você precisa saber para decifrar fantasias, alegorias, enredos e sambas. Como bibelô, a pitada de controvérsia: a aposta dos editores sobre onde ficará cada participante, no taquicárdico resultado que sai das notas do júri da Liesa, na Quarta-Feira de Cinzas. A tortura deliciosa dos décimos que se vão a cada quesito.

Na reportagem de capa, Jan Theophilo desvenda encantos e surpresas do desfile da Mangueira, garantia de emoção com seu enredo-homenagem a Alcione. Como bônus, viaja no tempo, para lembrar uma dezena de desfiles que celebraram personagens famosos, divididos igualmente em sucessos e fracassos. (Para ler, clique neste link).

As escolas de samba são, acima de tudo, potências culturais de magnitude planetária. Usinas de conhecimento, empoderam e elevam a autoestima de comunidades inteiras, além de iluminar personagens e episódios apagados da história oficial do Brasil

Outro ícone do show, Martinho da Vila protagoniza sua Vila Isabel mais uma vez, agora na reedição de “Gbalá: viagem ao templo da criação”, mito iorubá levado à avenida originalmente em 1993. Jan Theophilo revela que o desfile acontecerá no dia do 86º aniversário do gênio de Duas Barras (RJ) e, claro, todas as homenagens serão poucas.

Martinho e Alcione são, de novo, estrelas do espetáculo que, em 2024, terá sua 92ª edição (desde 1932, só não aconteceu em 2021, devido à pandemia). Mas a saga quase secular reúne inúmeros personagens incríveis, muitos desconhecidos do público. O ostracismo acaba aqui – Caroline Rocha lista alguns, de tempos idos e da atualidade, com histórias surpreendentes e irresistíveis.

Como, aliás, canta o enredo mangueirense, “não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”, o futuro merece carinho e cuidado. É sobre o porvir a entrevista especial de Leonardo Bruno com Gabriel David, o jovem (26 anos) que presidirá a Liesa a partir de abril. Spoiler: nada será como antes.

Ainda na dicotomia passado/futuro, a Portela, escola mais tradicional de todas, aposta em jovens carnavalescos. Antonio Gonzaga estreia no Grupo Especial na criação (ao lado de André Rodrigues) do enredo sobre o livro-referência “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves. Em artigo exclusivo, ele enfileira reflexões pessoais sobre sua relação com a festa e o ofício.

Há um sopro de novidade também na tela da Globo, que transmitirá o desfile, como reza a tradição, mas em novo formato, voltado ao entretenimento e com certa pegada “BBB”. A mudança ainda está cercada de mistério e controvérsia – mas Luisa Prochnik adianta algumas novidades.

O Carnaval é, ainda, poderoso lançador de modas e tendências. Assim, Luisa Prochnik passeia pelas peças criadas com a estética única das escolas e dos sambistas. Usá-las corresponde a sair por aí embrulhado no mais sólido certificado de carioquice.

Bruno Agostini põe todo seu saber de especialista a serviço dos cardápios da folia. Famoso pelas feijoadas, o Carnaval tem muito mais a oferecer para saciar a fome de quem cai no samba.

Vai dar para se regalar na festa antes da festa, com a União de Maricá, escola que estreia na Passarela do Samba cheia de sonhos e ambições. Conduzida por profissionais da elite do ziriguidum, a tricolor da Região dos Lagos se apresenta sexta-feira, na Série Ouro, buscando chegar logo ao Grupo Especial. Como diz o povo do samba, “tem caixa” para sonhar.

E a festa se espalha pela cidade toda, no Carnaval de rua que também virou emblema do Rio. São mais de 400 desfiles, e Luisa Prochnik seleciona dez blocos imperdíveis para quem é do babado.

Como está na música, o melhor lugar do mundo é aqui e agora.

Bom Carnaval!