Caroline Rocha
A mensagem em amarelo na faixa rosa pink pendurada estrategicamente ao lado de parte dos livros antecipa a importância desta livraria na luta contra o preconceito. “Venceremos”, berram as letras garrafais. Elas representam o orgulho que paira no ar da La Lorca, residência literária especializada em cultura LGBTQIAPN+ inaugurada em dezembro no Arco do Teles.
Inicialmente, o espaço contará com 80 títulos, a maioria de obras nacionais, além de apresentações, clubes de leitura, saraus, lançamentos e outros eventos que possam promover conteúdo e debate. “Pretendemos focar especialmente em obras de autores e editoras independentes, mas não somente, com uma curadoria cuidadosa que possa agregar as mais diversas demandas de um coletivo que é tão amplo como o nosso”, explicou o editor Jean Cândido, em referência ao coletivo Casa Queer.
O projeto multilinguagem chega ao Rio após sucesso na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) de 2023, quando foi “coroado” como primeira casa literária exclusivamente voltada para a cultura LGBTQIA+ da Festa. Este ano, o projeto ainda passou pela capital paulista em uma parceria com a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo.
A expectativa é repetir o sucesso de livrarias europeias, como a parisiense “Le mots à la bouche”, símbolo da resistência e diversidade. “Em uma cidade como o Rio de Janeiro, um dos principais destinos turísticos mundiais para pessoas LGBTs, uma livraria especializada é um atrativo a mais. Importantes cidades europeias, como Paris, Madrid, Barcelona possuem há décadas lojas do gênero que são referências para os turistas e os próprios moradores. No Brasil, ainda patinamos neste aspecto. Além da questão turística, as livrarias são uma espécie de guardiães do conhecimento e da cultura e espaços de troca e debate”, afirmou o editor da livraria e um dos idealizadores da Casa Queer.
O terreno é fertil, mas ainda apresenta grandes obstáculos. De acordo com o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, o Brasil assassinou um LGBT a cada 38 horas em 2023. Dentre os estados com o maior número de vítimas, o Rio de Janeiro ocupa o terceiro lugar no ranking, atrás apenas de São Paulo e Ceará, respectivamente.
“Somos ambiciosos, com visão de futuro sobre a diferença que podemos fazer, mas não somos ingênuos. Temos certeza de que para que espaços como a La Lorca sobrevivam, precisamos do apoio do coletivo. Também tenho plena consciência de que somos muito diversos e que será um aprendizado mútuo. Mas eu acredito que o conflito é a chave para a coexistência. Vai ser uma luta boa de ser lutada”, completou Jean.
PARA ENTENDER A SOPA DE LETRINHAS
Pode não ser tão fácil acompanhar a evolução das pautas (e das siglas), caro leitor. E, por isso, a ‘Rio Já’ separou um glossário para você entender o que cada letra do LGBTQIAPN+ significa. Caso tenha alguns anos de estrada, você deve lembrar que, na década de 1990, a sigla que definia a comunidade era GLS, um acrônimo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes. O termo caiu em desuso em 2008, por não ser considerado inclusivo. Novas letras – e diversidades sexuais – surgiram e outras foram realocadas. Mas o que elas representam?
Lésbica: mulher que é atraída afetivamente e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero
Gay: homem que é atraído afetivamente e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero
Bissexual: a pessoa que se relaciona afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os sexos/gêneros.
Transexual: pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. (Identidade de gênero é a percepção que uma pessoa tem de si como sendo do gênero masculino, feminino ou de alguma combinação dos dois, independente de sexo biológico).
Queer: Identidades e expressões de gênero e sexualidade que não se encaixam nas normas da heteronormatividade. (A heteronormatividade é uma expressão utilizada para descrever ou identificar uma suposta norma social relacionada ao comportamento padronizado heterossexual, isto é, de pessoas que se atraem pelo gênero oposto).
Intersexual: Se refere a uma variedade de condições (genéticas e/ou somáticas) com que uma pessoa nasce, apresentando uma anatomia reprodutiva e sexual que não se ajusta às definições típicas do feminino ou do masculino.
Assexual: Aqueles que não sentem atração sexual por outras pessoas
Pansexual: Indivíduos que sentem atração sexual e/ou afetiva por outras pessoas, independentemente do gênero ou identidade de gênero
+ Simboliza outras identidades de gênero e orientações sexuais que não estão explicitamente incluídas na sigla, abrangendo e reconhecendo a ampla diversidade existente.