Jan Theophilo
Um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos, o antropólogo, ex-ministro e ex-senador Darcy Ribeiro surpreendeu meio mundo quando fugiu do hospital em 1995, durante o tratamento de um câncer e uma pneumonia, e se mandou para Maricá. Seu objetivo era concluir o livro “O Povo Brasileiro”. No prefácio da obra, Darcy deixou claro que a inspiração para concluir os escritos foi a praia de Cordeirinho, em Maricá, onde tinha uma pequena casa projetada por Oscar Niemeyer. “Nesses anos todos, o livro, este, ficou por aí, engavetado, amarelando, esperando até hoje. Agora, estou aqui na praia de Maricá, para onde trouxe as pastas com o papelório de suas várias versões”, contou na obra.
O local funciona hoje como Museu Casa de Darcy Ribeiro. O espaço conta com uma exposição permanente sobre sua vida e obra, com objetos, documentos, instalações artísticas e vídeos. As peças proporcionam uma experiência imersiva e interativa, segundo o arquiteto Gringo Cardia, responsável pelo projeto. O novo museu de Maricá conta com duas salas de cinema, espaço para gravação de podcast (de uso público mediante agendamento), sala de karaokê, sala de vídeo interativa, sala de espelhos infinitos e trilha sonora que também destaca ritmos contemporâneos como rap e trap. Estão em exposição, ainda, parte do acervo da vida do sociólogo, como a escrivaninha que usava e uma réplica do seu fardão da Academia Brasileira de Letras. Só que vem mais por aí.
A Prefeitura acaba de terminar a primeira fase das obras de recuperação da antiga casa de veraneio da cantora Maysa, que também passará a funcionar como um museu. Entre os objetos que comporão o acervo estão as centenas de cartas manuscritas que falam de amor a desabafos, letras de músicas escritas em guardanapo, fotos, pinturas, músicas que não foram gravadas, pintura de quadros, publicações de jornais da época, entre outros objetos.
“Nosso objetivo é criar um “caminho das artes”, que inclua as casas de Darcy Ribeiro, Maysa, Beth Carvalho e Sérgio Buarque de Holanda”, explica o secretário municipal de Cultura, Sady Bianchini. A antiga casa de Beth Carvalho será adaptada como um Museu do Samba, com salas de exposições, espaço para apresentações, além de áreas de convivência e pesquisa. A museografia é assinada por Gringo Cardia e a pesquisa, coordenada pelo historiador Luís Antônio Simas.
Já a Casa de Ideias Sérgio Buarque de Holanda, segundo Sady, será “um espaço para repensar e interpretar o Brasil e fomentar a arte como instrumento de transformação social. Que crie novas identificações no território com os elementos que compõem a nossa ancestralidade”. Alguns detalhes do funcionamento da casa estão sendo amarrados com a filha do intelectual, Ana de Hollanda. “Vai surgir uma casa de cultura ou um centro cultural voltado para se repensar e refletir sobre um Brasil humanista, mais vivo que nunca, no século XXI”, afirmou ela. A Prefeitura negocia ainda a instalação do acervo do Instituto Zuzu Angel na cidade, que terá também um Centro das Tapeceiras do Espraiado e uma grande escola de moda. Maricá também disputa com outras três cidades do estado, incluindo a capital, para abrigar a sede do Instituto Cravo Albin, o maior acervo da música brasileira, com mais de 50 mil itens. A ideia é também construir um prédio para abrigar um centro de estudos e pesquisa e uma escola de música. O otimismo é grande, já que no caso de Ricardo Cravo Albim, ele já foi secretário de Cultura da cidade e mantinha uma casa, onde recebia grandes nomes da música brasileira.