Por Chico Júnior
Segundo a recente pesquisa “Panorama do consumo de orgânicos no Brasil”, realizada pela Brain Inteligência Estratégica para a Organis (Associação de Promoção dos Orgânicos), com público de todas as regiões brasileiras, em 2021, o número de consumidores de orgânicos cresceu 63%, em relação a 2019 (a pesquisa é feita de dois em dois anos).
No país, já são mais de 26.000 unidades de produção de orgânicos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), grande parte de pequenos produtores da agricultura familiar.
No Estado do Rio de Janeiro são 508 produtores registrados (dados de março de 2022).
Quando se fala em alimento orgânico a gente logo pensa em frutas, verduras e legumes.
É natural, pois o estudo revelou que os hortifrutis são os mais consumidos, com 75%.
Mas, atualmente, o mercado de orgânicos é muito mais que isso, considerando os alimentos processados, que têm, por lei, em sua composição um mínimo de 95% de ingredientes orgânicos.
Hoje, temos no mercado de “um tudo”: arroz, farinha de mandioca, fubá, farinha de trigo, molho de tomate, biscoito, doces, geleias, conservas, cachaça, leite, ovo, mel, granola, carne bovina, frango, vinagre, mistura para pães e bolos, refrigerantes, sucos, café… e vai por aí.
Sítio do Moinho
No início parecia um sonho do casal Angela Thompson e Dick: produzir alimentos orgânicos, sem adubos químicos e pesticidas na lavoura, respeitando o meio ambiente e preservando os recursos naturais.
Mas o pioneirismo do Sitio do Moinho no Rio de Janeiro valeu a pena. O que começou em 1989 de maneira tímida virou um negócio que emprega mais de 70 pessoas e tem duas lojas: a de Itaipava (Petrópolis), onde tudo começou e fica a sede do sítio, e a da Barra da Tijuca.
Além das hortaliças e frutas que compunham o mix de produtos iniciais, hoje o Sítio produz outros itens, como os pães orgânicos Molino D’Oro (a primeira de pães orgânicos no Rio certificada pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural – IBD).
GP Brejal
Outro exemplo de sucesso, de organização e cooperativismo é o Grupo de Produtores do Brejal, que reúne mais de 40 famílias da região do Brejal, em Petrópolis, envolvendo um total superior a 200 pessoas na produção, logística e comercialização. Com uma vasta lista de produtos, incluindo hortaliças, frutas, ovos e frango, o GP Brejal está presente no Circuito Carioca de Feiras Orgânicas.
Armazém Sustentável
Também no Brejal está instalada a pequena fábrica de produtos orgânicos artesanais Armazém Sustentável, fundada por Gustavo Aronovick e Luiz Henrique Fonseca, que faleceu no ano passado. E é no Brejal, principalmente, que Gustavo, consegue, por intermédio de produção própria ou de agricultores locais, os produtos – tomate, berinjela, alho, jabuticaba, laranja da terra, por exemplo – para fazer as suas conservas e geleias orgânicas.
Cachaças
No Rio tem até aguardente orgânica, como a Cachaça da Quinta, produzida no município do Carmo, região serrana do estado. O seu certificado de produto orgânico é de 2015.
Já a Werneck, de Rio das Flores, conseguiu a certificação orgânica em 2017, depois de cinco anos “transformando” seu canavial em cultura orgânica.
Sítio Cultivar
Em Nova Friburgo, a ex-funcionária do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) Jovelina Fonseca, a Jô, e o marido Luis Paulo, que faleceu em 2018, começaram a praticar na propriedade do casal, o Sítio Cultivar, a agricultura orgânica em 1991, numa época em que esse tipo de cultivo ainda era novidade no Brasil.
A gama de produtos é grande e vai desde tomates, cenouras, cebolas e beterrabas a rúculas, salsas, alfaces (32 tipos), brócolis, feijão vermelho, milho, batata doce, ovo caipira etc.
Orgânicos da Fátima
A vida da cearense e ex-professora Fátima Anselmo tem sido bem atribulada. Saiu de Fortaleza, em companhia do marido Adilson Silva e dos dois filhos – Samuel e Gabriel – e foi para São Paulo. Dali, foram para um apartamento na cidade de Petrópolis, região serrana do Rio.
“Pensando em oferecer para os meus filhos uma alimentação mais saudável, livre de agrotóxicos, e estar mais perto da natureza, fomos morar na área rural”, diz Fátima.
No distrito do Brejal começou a produzir, em 2001, legumes e verduras. O negócio ia bem até que, em 2011, aconteceu uma tragédia na Serra Fluminense: um temporal e uma enxurrada devastadores destruíram toda a sua produção.
Então, não tinha alternativa a não ser a de encontrar uma nova terra, no município vizinho de Areal, e recomeçar do zero.
Durante quatro anos ficou produzindo na nova terra e alimentando o sonho de ficar mais próxima do mercado da cidade da cidade do Rio de Janeiro e praticar uma agricultura urbana.
Acabou indo parar no Alto da Boa Vista, no Rio, onde se instalou em 2015.
Fazenda Dom Bosco
Formada em desenho industrial e marketing, Anita Santoro deixou Niterói e partiu para reconstruir a vida em Silva Jardim como agricultora agroecológica.
É lá que fica a Fazenda Dom Bosco, uma propriedade de 100 hectares que, de abandonada, se firmou como uma das estrelas da produção orgânica do Rio de Janeiro.
Ao todo, cerca de 40 itens são produzidos na Dom Bosco. Desses, a vedete é a mandioca que, na própria fazenda, vira farinha e tapioca.
Também produz abacaxi, manga, maracujá, feijão, berinjela, milho, limão, abóbora, batata, quiabo, tomate.
Todos os produtos da Dom Bosco são comercializados sob a marca Quitanda Natural.
Fazenda Vale das Palmeiras
Há mais de 20 anos, quando o ator Marcos Palmeira comprou a hoje Fazenda Vale das Palmeiras – localizada em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, existia no lugar uma imensa produção convencional de hortaliças e estava bem degradada, com diversas áreas desmatadas.
Diante daquele quadro. Marcos montou “um plano simples e viável” de recuperação da área.
No início, substituiu-se a cultura de hortaliças “convencionais” pela cultura orgânica. Mas, aos poucos, um sonho antigo foi se tornando realidade: iniciar a produção de leite 100% orgânico para a fabricação de laticínios, como queijo minas frescal, ricota, queijo cottage e iogurte.