Por Rosayne Macedo
O samba carioca nasceu há um século bem ali do lado da Apoteose, na Praça Onze, reduto de descendentes de escravos. Subiu o Morro da Favela, como era chamada a Providência, primeira comunidade da cidade do Rio de Janeiro, e rapidamente foi se espalhando por outras favelas, num tempo em que o samba e seus autores – maioria negra – ainda eram marginalizados.
Favela e samba tornaram-se praticamente faces de uma mesma moeda. É lá que o ritmo se criou, ganhou enredo e cresceu forte, conquistando moradores de várias partes da ‘cidade partida’. Não tardou muito para ganhar o Brasil e o mundo inteiro, que passaram a valorizar a música produzida, em sua grande maioria, por um povo tão sofrido que trabalha o ano inteiro para fazer bonito na Avenida.
Mas como não amar a arte, a cultura e a tradição da favela, levadas com tanta emoção, suor e alegria para a Avenida? A favela também já foi muitas vezes cenário, enredo e tema central do Carnaval carioca. Por isso, nada mais justo do que homenageá-la e também a seus moradores, dos mais simples e humildes aos mais conhecidos e ilustres.
É justamente com a proposta de reverenciar o berço do samba carioca, que tanto orgulho traz ao Rio de Janeiro, que o Camarote Favela estreia neste Carnaval 2022 prometendo sacudir a Sapucaí. Nos cinco dias – dois pela Série Ouro, dois pelo Grupo Especial e também no sábado das campeãs – o Setor 4 vai ferver com uma programação recheada de atrações entre um desfile e outro.
Organizadores do Camarote Favela garantem que “serão cinco dias memoráveis, onde todos serão celebridades”, afirma. O maior show da Terra poderá ser visto de um local ainda mais privilegiado: há seis espaços na frisa de 20 lugares e quarro espaços no nível superior com 15 lugares cada
Fernando Salvador, gerente de Projetos, Marketing e Comercial da Vivere Entretenimento, traz a experiência muito bem sucedida dos últimos três carnavais à frente do camarote do Jornal O Dia para o novo projeto. “O camarote está ainda mais inspirado e enraizado no samba, e para isso trouxemos a parceria do Samba Social Clube que comandará nosso palco com outras grandes atrações nacionais’, destaca.
A folia no Camarote Favela começa na quarta-feira (20), primeiro dia do desfile da Série Ouro, tendo como convidado especial o grupo Fundo de Quintal. No dia seguinte, é a vez de Mart´nália. Sábado (22), primeiro dia de desfiles do Grupo Especial, quem faz o show é Maria Rita e domingo (23), é a vez de Xande de Pilares. Para arrematar a programação, o Sábado das Campeãs terá Leci Brandão como atração especial.
“Não me leve a mal, me leve ao samba”, “Meu nome é favela”, “Meu coração não bate, ele samba”. Frases como estas estarão espalhadas por todo o ambiente. A concepção cenográfica do camarote leva em conta elementos visuais importantes das comunidades e promete surpreender com o colorido e a ‘arquitetura’ típica da favela. Há também espaços instagramáveis para ativação, no melhor clima carioca. Tudo, é claro, de uma forma glamourizada – afinal, como diria Joãosinho Trinta, carnavalesco que foi ícone de muitas gerações e morreu em 2011. ‘povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual’.
Por lá, deve passar muita gente oriunda da favela, desde grandes sambistas, compositores passistas e musas até gente que trabalha duro nos bastidores do Carnaval. O espaço deve atrair personalidades conhecidas nos meios artístico, cultural e político do país no Carnaval mais esperado dos últimos tempos, após o jejum forçado pela pandemia do novo coronavírus.
Professor de Sociologia e autor do livro “Da Favela ao Poder”, Washington Quaquá, ex-prefeito de Maricá e atual vice-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), é um dos apoiadores do Camarote Folia. Apaixonado por samba, ele espera reunir no espaço nomes importantes no atual processo político eleitoral do país. Afinal, samba também é lugar de política, por que não?
Saiba mais detalhes
Com capacidade para 1.200 pessoas e entrada pelo Setor 2, próximo à estação do Metrô Praça Onze, o Camarote Folia escolheu o meeting point mais perto da Sapucaí. Fica no Espaço Sulamérica, a 1,2 km de distância da entrada para o Sambódromo, o que corresponde a apenas cinco minutos de transfer de ida e volta. Com estacionamento no local, o espaço recebe os convidados a partir de 18 horas, para credenciamento, retirada dos abadás, customização de camisetas e o transfer.
Como toda boa festa lembra bebida e comida, a fartura está garantida. Os convidados terão direito a open bar e um cardápio variado de petiscos, jantar e sobremesa. Para entrada, tábua de queijos e frios com pães e torradas, brie com damasco, patê de geleia de amora, canapés de atum, queijos, presunto e salame, além de salgados quentes, pastéis de forno e folheados.
O jantar tem churrasco misto em tiras ou uma massa diferente a cada dia: talharim com tomate pelati e manjericão; rigatoni a matriciana; penne ao triplo burro; fettuccine ao tomate casse e tomilho; farfalle ao frango a la creme; rondelle de peru defumado; penne aos quatro queijos e espaguete ao alho e óleo. Como guarnições, batata rústica, arroz branco, farofa brasileira e salada caesar. De sobremesa, doces tipicamente brasileiros como goiabada artesanal com queijo minas e sorvetes variados para refrescar.
A favela em números
De acordo com o último Censo do IBGE, realizado em 2010, o Rio de Janeiro possui 763 favelas, que abrigam 22% da população de toda a cidade. Com tamanha proporção, o Rio se tornou o município brasileiro com o maior número de moradores em favelas: 1.393.314 habitantes.
Só na Região Metropolitana há pelo menos 1.702.073 pessoas morando em favelas, o que corresponde a 14,4% da população. De 2010 para cá, com o empobrecimento cada vez maior da população, o número de moradores em comunidades só tem aumentado, mas só será conhecido quando sair o novo Censo, que foi adiado para este ano em função da falta de verba do governo federal.