Luisa Prochnik
Multifacetada, tudo em uma só cidade. Florestas, montanhas, praias em meio ao caos da vida urbana. Um lugar maravilhoso e, ao mesmo tempo, uma metrópole desafiadora, que mistura a oportunidade de paz em um contato direto e rotineiro da natureza com os problemas comuns de uma metrópole. Essa é a cidade do Rio de Janeiro que, nesta reportagem, se apresenta a partir de três pontos de vista encantadores. Pontes de vida, pode-se dizer.
Que Rio de Janeiro você vê?
Da sua casa ou apartamento, da comunidade, da janela do ônibus, do carro, do local de trabalho? As possibilidades são infinitas e, a partir de cada uma delas, um diferente Rio de Janeiro se revela. Três moradores da cidade maravilhosa optaram por admirá-la e experimentá-la a partir de três pontos de vista peculiares. Três pontos de vista que que unem o amor ao esporte e à natureza. Três pontos de vista que enxergam o Rio de Janeiro em seu máximo esplendor.
– O Rio é deslumbrante, caótico, violento, e delicioso. Tudo ao mesmo tempo. Mas pra quem é amante da natureza, é ainda mais. Ele esconde no alto de uma montanha, a 15 minutos da zona sul, o nascer do sol mais bonito do mundo – diz Marcos Serra Lima, fotógrafo freelancer, praticante de ciclismo – Sou fotógrafo, por isso o ciclismo encaixou tão bem na minha vida. Pude enxergar a cidade por pontos de vista inimagináveis até então.
– Eu pratico Stand Up Paddle basicamente no Posto 6, em Copacabana. Mas também já fiz na Praia Vermelha, na Barra travessia pras Ilhas Tijucas, travessia do Posto 6 pras Ilhas Cagarras, no Arpoador, em Mangaratiba, em Pouso da Cajaíba (Paraty), no Saco do Mamanguá – revela Lívia Faria, jornalista e praticante de Stand Up Paddle, uma prancha pesada a remo, modalidade carinhosamente conhecida como SUP – Subir na prancha e ver tudo de dentro do mar é como se você saísse um pouco da cidade e visse as coisas de fora. E é o diferencial do Rio, você consegue mesmo numa cidade agitada encontrar lugares no meio do mato ou no meio do mar em que você sente que você tá fora da cidade.
– No Rio, escalar na Urca e no Pão de Açúcar são os meus locais favoritos, mas há ótimas escaladas também na Floresta da Tijuca. Itacoatiara, em Niterói, é outro lugar incrível. Na serra, costumo escalar muito em Petrópolis, Teresópolis e Friburgo – cita Flavio Daflon, guia de escalada, proprietário da Companhia da Escalada – As belezas naturais da cidade ficam mais evidentes vistas do alto. É a combinação praia-montanha que torna o Rio tão especial. E escalando temos a visão de ambas ao mesmo tempo.
Cada um começou em seu esporte de forma bem diferente, buscando objetivos distintos. Flávio já escala desde os 10 anos de idade, incentivado pela montanha em frente à sua casa, na Zona Oeste, em Jacarepaguá. Marcos pedalava para ir e vir pela cidade, mas o ciclismo como esporte ganha espaço aos 37 anos e, em pouco tempo, torna-se prioridade total diante de outras modalidades tipicamente cariocas, como o surfe. Para Lívia, o incentivo foi outro.
– Foi na pandemia que eu pensei, já que as pessoas não estão podendo se aglomerar, acho que esse é um esporte que eu posso me sentir meio fora de casa e, ao mesmo tempo, segura, porque você fica distante do contato com os outros e está em conexão com o mar, com o esporte e com o ar livre. Desde que eu comecei a fazer, que foi no fim de 2020, eu praticamente não parei – conta a jornalista.
A sensação de liberdade, de encantamento, momentos de conexão com a natureza são algumas das experiências que os três vivem durante a atividade. Gratidão pela vida e sentir-se renovado são outras sensações que aparecem durante e após a prática das três modalidades.
– O mar é o melhor lugar para extravasar as emoções. Entre uma remada e outra, paro para chorar, para gritar, para rezar, para agradecer, para meditar e para mergulhar – conta Lívia.
– Se der sorte de subir num dia de nevoeiro, aí você nunca mais vai esquecer. O Cristo Redentor sobre um mar de nuvens cobrindo o Rio – enaltece Marcos.
– Para mim, chegando ao cume a sensação é de leveza e relaxamento. Curtimos o momento durante algum tempo, mas, muitas vezes, temos que pensar na descida. Já diz o ditado, “o cume é metade do caminho” e a descida também pode ter seus desafios – pontua Flavio.
São três atividades físicas e intensas, exigem bastante concentração, preparo físico e conhecimento das variáveis naturais, comuns durante a prática de cada uma delas.
– Eu me sinto privilegiado de poder subir a mesma montanha várias vezes. Aprendi a lidar com o esforço do corpo de uma maneira boa. Dói. Frequência cardíaca alta, 30 minutos fazendo força e, quando você chega no topo, você se sente exausto e feliz – comenta Marcos, que, atualmente, reduziu a pedalada para duas vezes, mas pretende, em breve, aumentar novamente o ritmo.
– É ótimo sem dúvida, porém bastante cansativo. É uma atividade que exige esforço físico, carregar equipamentos, grande concentração e cuidados, já que envolve riscos. Então, precisamos ficar o tempo todo ligados. Escalando com amigos experientes podemos relaxar mais. Com alunos ou clientes, temos que ficar mais atentos – pontua Flavio que, mesmo quando está de folga, tem como momento de lazer uma boa e desafiadora escalada.
– Eu não remo só por lazer, eu remo com intenção, remo com velocidade, com força, faço alguns exercícios de explosão, contraio o abdômen. Fiz aulas para entender a técnica do esporte, eu uso como um aeróbico e também como um exercício para o crescimento do core – diz Lívia, que já enfrentou revezes de mar e vento enquanto remava – No mar, às vezes tem um balanço grande ou ondulações fortes, e, mais perigoso ainda, vento forte, que pode te jogar pra longe e dificultar ou mesmo impedir a volta. Então, precisa de muito treino de equilíbrio e propriocepção, além de leitura de mar e condições do tempo.
Marcos, Flávio e Lívia não escondem sua paixão pela cidade, pela versatilidade que o Rio oferece. Do centro de uma metrópole até uma paisagem exuberante em um curto espaço de tempo, antes ou depois de um dia de trabalho. Ou quando tudo se mistura tanto que a atividade, que para muitos é lazer, para outros é profissional, como no caso de Flavio.
– Trabalho com a minha empresa, a Companhia da Escalada. Oferecemos cursos e escaladas guiadas no Rio e nas montanhas de Teresópolis e Petrópolis – diz ele, que, mesmo no cume, silêncio mesmo, só quando sai da capital – Mais silencioso sim, porém não totalmente, ainda é possível escutar o barulho de automóveis, sirenes e em alguns pontos helicópteros turísticos.
– A cidade do Rio, acho ela muito única, porque você consegue, no mesmo dia, ir para a praia, ir para a cachoeira, ir para o shopping, ir para o cinema. São vários cenários em uma cidade só, vários estilos de vida na mesma cidade, natureza, e ao mesmo tempo, é uma cidade grande, onde você encontra tudo, né? De arte, trabalho, é uma cidade que trabalha – acrescenta Lívia.
– Quando você sobe a estrada Dona Castorina no inverno, e desliga a lanterna da bike por uns segundos, você se vê no escuro no meio de dezenas de vaga-lumes. Eu posso descrever a cena, mas só se vc é ciclista, e já passou por ali às 5h30m, você vai entender o que estou falando. A dona Castorina não fica a quilômetros de distância. Está ali, no Horto (Jardim Botânico); é a estrada que dá na Vista Chinesa. Ou seja, se vc mora no Rio e ainda não fez isso, deve fazer. É mágico – convida Marcos.
– Quando eu remo, eu também gosto muito de ver as tartarugas, de procurar arraia. Teve um dia que eu fiquei me distraindo com os peixes coloridos – completa Lívia, fã do nascer do sol, mas também atenta aos pequenos detalhes que a vida no Rio lhe oferece.
Uma cidade grande, onde há trabalho e lazer, vida urbana intensa e natureza exuberante caminhando juntas, o privilégio de se divertir e trabalhar dentro da rotina diária, em um dia de semana comum. Perfeito, se não fosse um problema bem conhecido de cidades grandes, no caso do Rio, apresentando estatísticas bem desfavoráveis.
– Tem o quesito da violência – cita Lívia.
– Segurança pública. Algumas montanhas e trilhas acabamos não frequentando devido a assaltos ou tiroteios – denuncia Flavio.
– Insegurança. Seja pela violência e falta de educação dos motoristas e o policiamento pouco ostensivo – completa Marcos.
Stand Up Paddle (SUP) – Por Lívia Faria
→Alertas para os iniciantes:
Primeiro: se atentar às instruções do profissional da tenda onde vai alugar a prancha. Segundo, saber ler o mar na entrada e na saída: saber a hora certa de entrar e sair da água, para não correr o risco de levar um caldo e se acidentar com a prancha. Terceiro, começar sentado antes de tentar ficar em pé, para ir testando o equilíbrio. Quarto, saber cair ou pular da prancha, para não se chocar com ela. Quinto, sempre usar o estrepe! E por último, se atentar ao vento! Já aconteceu de eu ficar presa em um vento sudoeste que me arrastou pro Leme e quando fui tentar voltar, parecia que eu estava remando em pedras, não na água. Ah! E não ir de óculos escuros ou celular. A chance de um iniciante principalmente deixar cair na água é 99%!
Muito importante também:
memorizar onde você entrou na água, pra saber o lugar certo de voltar. Olhar bem a cor da tenda, ou alguma referência. A visão de dentro da água, às vezes, confunde.
→ Cuidados e equipamentos:
A prancha, o remo e o estrepe. Eu remo sozinha, alugo da tenda Surf Rio, que tem bons equipamentos e bons instrutores. Quando fiquei presa no vento, eles me viram com binóculo e foram atrás para me acompanhar na volta, por exemplo.
Escalada – Por Flavio Daflon
→Alertas para os iniciantes: Buscar um curso ou instrutor capacitado com o respaldo de alguma entidade do esporte, como por exemplo a Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, a Federação de Esportes de Montanha do Rio e a Associação Brasileira de Guias de Montanha.
→ Cuidados e equipamentos:
Equipamentos como cadeirinha, capacete, mosquetões, freios, fitas e cordas, além da sapatilha de escalada. Escalada é realizada em duplas, enquanto um escala, o companheiro fica responsável pela segurança, travando a corda caso seja necessário. Assim é possível subir com o risco reduzido.
Ciclismo – por Marcos Serra Lima
→Alertas para os iniciantes:
Calma. Eu fui de um extremo ao outro em menos de um ano. Fiquei compulsivo, chato e monotemático. Comprei bicicletas mais caras do que poderia, achando que o próximo upgrade me faria mais veloz. Isso tudo com o condomínio atrasado. Até que tomei um tombo, e dei um ctrl alt del. Hoje tenho duas bicicletas não tão caras e levo o hobby de maneira mais saudável.
→ Cuidados e equipamentos:
Capacete e uma bicicleta que caiba no seu bolso.
Nota:
Para quem quer iniciar na prática do esporte, vale buscar ajuda com profissionais e pedalar em grupo, pelo menos em um primeiro momento.