O RIO, UNIDO, SALVA O PALÁCIO CAPANEMA

Um prédio situado à rua da Imprensa, número 16, no Centro do Rio, foi classificado em 1943, pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, como “o edifício mais avançado em construção no mundo” O poeta Carlos Drummond de Andrade, então chefe de gabinete do ministro da Educação, não fez por menos: definiu aquela obra como “a Capela Sistina brasileira”.
Este prédio foi erguido para ser a sede do então Ministério da Educação e Saúde, sob a supervisão de um gênio, Le Corbusier, e concepção de um grupo de jovens e rebeldes arquitetos brasileiros, que viriam a se tornar mundialmente famosos e respeitados. Posteriormente, passou a ser a sede do MEC e ganhou o nome do ministro de Getúlio Vargas que comandou a sua construção: Gustavo Capanema.
De tão importante como obra inaugural da moderna arquitetura brasileira e influência sobre a arquitetura mundial – a sede da ONU, em Manhattan, é inspirada nele – o edifício, tombado em 1948 como marco do patrimônio cultural, artístico e histórico do Brasil, foi homenageado com o título de Palácio, embora o povo sempre o tenha chamado de “prédio do MEC”.
Pois nada disso impediu o governo federal de incluir um dos imóveis públicos mais importantes do mundo numa lista de 750 mil prédios da União que serão vendidos à iniciativa privada na bacia das almas. Um insulto à memória de seus arquitetos, entre os quais Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, ao paisagista Burle Marx, autor de  seus três jardins magníficos, e artistas plásticos que produziram obras belíssimas para o prédio, como Portinari, Guignard, Pancetti, Bruno Giorgi e Athos Bulcão.
O Palácio Capanema estaria na lista para ser “passado nos cobres” não fosse a rápida reação das autoridades do Rio, dos arquitetos, artistas plásticos e da sociedade. O governador Cláudio Castro se reuniu com o presidente da Alerj, André Ceciliano, e decidiram exigir do governo federal a preservação do Capanema como prédio público, ainda que o estado tenha de comprá-lo. O ministro Paulo Guedes prometeu retirar o Palácio da lista de privatizações. Ceciliano denunciou que privatizar o Capanema será  tão absurdo quanto vender o Cristo Redentor e o Pão de Açúçar.
E assim, até prova em contrário, o Palácio Capanema está salvo, graças à mobilização das autoridades e da sociedade civil fluminense.

Um elemento muito marcante no Palácio Capanema é a integração entre arquitetura e artes gráficas. Parte do revestimento externo tem azulejos de Cândido Portinari. Também há obras do artista no Salão de Conferências Gilberto Freyre, onde ele produziu dois afrescos. No Hall Nobre ou Salão Jogos Infantis há outro grande afresco do artista. Seguindo pelo hall, encontram-se outras salas nas quais estão presentes telas de mais uma série de Portinari.

Todos os detalhes do Palácio Capanema foram pensados para traduzir o modernismo brasileiro, inclusive as esculturas. Celso Antônio de Menezes produziu três delas: Mulher Reclinada, em granito cinza; Maternidade, que foi, posteriormente, levada para a Praia do Botafogo; e Mulher de Cócoras, também chamada de A Índia.

A face norte do prédio, onde o sol bate de maneira inclemente, recebeu uma inédita invenção de Le Corbusier: o uso de um mecanismo chamado brise soleil, um quebra-sol com placas inclinadas junto às janelas que atenuam o calor, mas não reduzem a iluminação natural.

A face sul do edifício é vedada por cortinas de vidro que não parecem ter separações entre as janelas, o que faz com que, à noite, com as luzes acesas, o prédio se converta numa grande vitrine

Também era
inédito no Brasil o uso de pilotis. Os 16 andares do Capanema estão apoiados sobre pilotis de 9 metros de altura, como que contrariando a lógica e a engenharia conhecida até então. Com este formato, todo o térreo se integra, aberto, à rua, formando uma praça que permite a livre circulação de transeuntes.

O Capanema tem três jardins construídos pelo paisagista Burle Marx. O primeiro está na praça do térreo, o segundo suspenso sobre uma marquise e o terceiro sobre o 16° andar do prédio. 


A arquitetura modernista no Brasil confunde-se e é fruto do próprio movimento nascido na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Recebe também influência direta do movimento moderno europeu e, mais especificamente, de Le Corbusier. O Palácio Capanema é o maior exemplo desta escola no Brasil. Há quem o chame de “certidão de nascimento arquitetura moderna brasileira”.

Le Corbusier
Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido como Le Corbusier, foi um arquiteto, urbanista, escultor e pintor de origem suíça e naturalizado francês. É considerado, juntamente com Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto e Mies van der Rohe, um dos mais importantes arquitetos
do século XX.

Lúcio Costa
Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima Costa, ou apenas Lúcio Costa, é considerado um gênio da arquitetura brasileira. O Capanema já seria suficiente para colocá-lo entre os grandes, mas ele veio a ser, também, o arquiteto que desenhou o
Plano Piloto de Brasília.

Oscar Niemeyer
Figura chave na arquitetura moderna no Brasil e no mundo. Parceiro de Lúcio Costa na concepção do Capanema e do Plano Piloto de Brasília, tem obras autorais espalhadas pelo mundo. Desenhou o Sambódromo do Rio de Janeiro e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, entre dezenas de outras obras fundamentais.

Burle Marx
Roberto Burle Marx tinha talentos múltiplos: foi artista plástico, pintor, desenhista, designer, escultor e tornou-se um dos paisagistas mais respeitados no mundo. É autor do paisagismo do Capanema, do Aterro do Flamengo, do Museu de Arte Moderna do Rio e do Eixo Monumental de Brasília.

Cândido Portinari
Portinari é o pintor brasileiro mais conhecido e respeitado no mundo. Pintou mais de cinco mil obras, de pequenos esboços e pinturas de tamanho padrão, como O Lavrador de Café, até gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteado à sede da ONU. Foi um dos principais artistas a deixar suas obras no Capanema.