CULTURA: NELSON SARGENTO, ETERNO BALUARTE

Com quatro grandes espetáculos, o Rio prestará tributo ao sambista

Caroline Rocha

Faltou pouco para Nelson Sargento “parar o Rio de Janeiro,” como tanto desejava fazer em seu centenário. Quatro anos após seu falecimento, a tão sonhada festa vai acontecer através do projeto “Samba! Agoniza mas não morre”, tributo que vai traçar uma jornada musical pela obra do baluarte. Serão quatro shows gratuitos entre setembro e novembro na cidade, que irão explorar clássicos imortais, como “Falso amor sincero” e “As  Quatro Estações”.

Os espetáculos prometem oferecer uma vivência musical do ambiente autêntico e envolvente do samba. Entre as obras apresentadas, estarão músicas criadas em parceria com renomados artistas, como Cartola, Nei Lopes e Zé Luiz do Império. “Esse projeto nasce do nosso desejo de preservação da memória do Nelson, multiartista e cidadão do mundo. Entendendo, inclusive, que cuidar e propagar a memória dele é extremamente importante para a história do samba carioca e da música afro-brasileira”, explica Lívea Mattos, nora (e produtora) do mestre.

Livea e o marido, Ronaldo Mattos, filho caçula do baluarte, encabeçam o projeto. Único filho a seguir a trajetória do pai, Ronaldo é produtor e músico desde a adolescência. “Realizar esse projeto é contribuir para eternizar o meu pai, minha maior referência como pessoa e como artista, mas é, principalmente, uma maneira de me sentir próximo da energia de sabedoria e entusiasmo que ele me transmitiu durante toda a sua vida”, contou o músico.

Os shows de “Samba! Agoniza mas não morre” contarão com interpretações das canções de Sargento, intercaladas por frases icônicas do mestre – algumas já registradas em seu livro “Pensamentos”. O elenco é composto pelos cantores Lazir Sinval, Mingo Silva e, claro, pelo filho Ronaldo Mattos.                        

Cantor, compositor, pesquisador, artista plástico, ator e escritor, Nelson Sargento fez do morro da Mangueira seu lar e contribuiu significativamente para a cultura do país. O baluarte morreu em 2021 por complicações da Covid-19.

Os shows

Teatro Ruth de Souza  06/9

R. Murtinho Nobre, 169 – Santa Teresa

Arena Fernando Torres 05/10

Ru. Bernardino Andrade, 200, Madureira

Centro da Música Carioca 23/11

R. Conde de Bonfim, 824

Arena Jacob do Bandolim 30 /11

Praça do Barro Vermelho s/nº

O LEGADO ESTÁ AQUI

O legado de Nelson Sargento segue na Verde e Rosa, agremiação da qual ele foi presidente de honra. Não apenas por suas obras, mas também através dos bisnetos que integram a escola de samba mirim Mangueira do Amanhã.

Conhecida como Bombom de Mangueira, a bisneta Ágatha Sofia, de três anos, viralizou nas redes sociais ao mostrar toda sua fofura e samba no pé ao lado do comentarista Milton Cunha. O vídeo, que já ultrapassa 23 milhões de visualizações, foi compartilhado até pela atriz norte-americana Viola Davis. “Que linda”, comentou a vencedora do Oscar.

Há mais outras dezenas de registros da Bombom como o que apaixonou a web, afinal, é só ouvir um batuque que os pezinhos da passista começam a se movimentar. “Ela sempre gostou de escola de samba. No início, cismou que queria ser porta-bandeira, mas desistiu. Agora, cismou de ser passista. Não tem para onde correr, porque é ancestralidade”, garantiu a manicure Suelen Souza, mãe de Ágatha.

A desenvoltura surpreende, mas o que realmente apaixona é o sorriso da pequena sambista, que esbanja animação ao “desfilar” com sua faixa de mascote da Mangueira do Amanhã. Bombom se inspira nos irmãos: Rian Souza, de 15 anos, e Lorrana Souza, de 11. A dupla é segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mangueira do Amanhã.

“É uma importância imensa ver meus filhos dando continuidade ao legado do bisavô. Quando está no sangue mesmo, não tem como negar. Afinal, o samba nunca vai morrer”, afirmou Suelen.