LAZER: FEIRA MODERNA É NA GLÓRIA

Gastronômica e artística, a Feira da Glória também tem barracas de frutas

Caroline Rocha

Faça sol, chuva ou até uma impossível nevasca, todo domingo, incluindo feriados, as icônicas barraquinhas listradas dão forma à maior feira livre do Rio de Janeiro. Desde as clássicas frutas e verduras de toda feira de bairro até roupas descoladas, artesanatos, culinária internacional e antiguidades – que só tem por lá – as opções são tantas que as mais diversas tribos se reúnem na Feira da Glória para aproveitar as novidades e promoções. 

Em alguns pontos ao longo das mais de 200 barracas é preciso jogo de cintura para desviar dos compradores distraídos com as “vitrines”. Uma família seleciona tâmaras, um casal de jovens conversa distraidamente comendo pastéis, turistas argentinos discutem a melhor as peças de roupa, atletas recém-saídos das corridas no Aterro do Flamengo buscam uma opção de lanche pós-exercício enquanto ostentam as medalhas no pescoço.

Foi por conta dessa diversidade (de produtos e pessoas) que a família de Luiz Claudio Ribeiro escolheu passar o Dia dos Pais na feira. “Cada um tem seu estilo, sua preferência de gastronomia e uma disposição de gasto financeiro. É muito difícil agradar a todos indo para um restaurante, por exemplo, então escolhemos vir para a Glória”, afirmou o motorista. Entre as opções, há pratos equatorianos, peruanos, japoneses e indianos. Para quem prefere os clássicos, há barracas de hambúrguer, sanduíche, bolinho de bacalhau e fritas.

O espaço também é um facilitador para os vendedores, que conseguem fidelizar o público e ter mais conforto. É o caso da Joana Bonzi, de 37 anos, dona de uma loja de acessórios. A artesã começou as vendas carregando um expositor nas areias das praias cariocas – sugestão de um amigo que viu no até então hobby a possibilidade de geração de renda. 

“Eu tinha um estoque de cerâmica plástica sem uso desde 2008. Em 2018, passei por um ano muito difícil na vida profissional, pois estava muito infeliz como professora. Eu não tinha prazer nenhum em dar aula e vivia insatisfeita. Como uma boa artista incubada, me virei para a arte para aliviar meus anseios. E assim, de forma inesperada, redescobri meu lado artístico. Dali não parei mais!”, conta a dona da bee_joux. Durante uma das vendas debaixo de sol, mais uma sugestão mudaria o rumo de sua vida: “por que você não vende na Feira da Glória?”. 

Já são quase dois anos que a artesã é figurinha carimbada todos os domingos. E, desde 2022, os brincos coloridos têm ultrapassado fronteiras. “A Feira da Glória já está consagrada entre os turistas estrangeiros. Isso eu acho muito interessante. Na praia eu vendia para gringos, claro, mas sinto que na Glória o público é muito maior”, explica Joana.

Aos 58 anos, Andréa da Conceição, dona da Afreto, barraca de roupas com tecidos étnicos, enxerga a feira como muito mais que um local de trabalho: “Parece uma grande família, onde todos gostam de estar e se acolhem, além da beleza da diversidade de pessoas e povos de todos os lugares do Brasil e do mundo. Aqui é muito eclético. É para todos, independentemente de idade, gênero ou raça.”

A tradicional feira tem recebido um “empurrãozinho” da modernidade. Influenciadores e criadores de conteúdo acumulam milhões de visualizações nas redes sociais revelando “quanto custa”, “tudo o que tem para comer”, “o que fazer” e “rolês imperdíveis”. Os vídeos que mais bombam são das animadas rodas de samba que reúnem centenas de pessoas para curtir música e dança. “Todo carioca deveria conhecer. É muito bacana fazer esse roteiro de feira e depois samba. Sem contar que o samba é muito bom, é samba raiz! E tem um público muito diverso. É um ambiente muito rico culturalmente”, afirmou Lúcia Franklin, frequentadora assídua dos encontros de bambas.

Além dos apaixonados por samba, a feira é espaço para madames passearem com seus cachorros e crianças brincarem no parquinho da Praça Edson Cortes, área de lazer no entorno da Avenida Augusto Severo, junto ao Largo da Glória e à Praça Paris. O lugar, antes sem nome, passou por uma requalificação no ano passado, através do projeto Dias de Glória, da Prefeitura do Rio, e foi batizado em homenagem ao pioneiro das rodas de samba do local e fundador do grupo Galocantô, morto em 2018. 

A Feira da Glória acontece na Rua Augusto Severo, em frente à saída da estação do metrô da Glória, a partir das 7h. Também é possível chegar de ônibus ou carro de aplicativo. Há vagas nas ruas adjacentes, entretanto, as mais próximas tendem a estar ocupadas. A maioria das barracas fecha às 16h. As rodas de samba começam a partir das 15h.