Duas cidades litorâneas, dois balneários que se tornaram célebres por várias razões que vão além da beleza de suas orlas: Camboriú, em Santa Catarina, e Maricá, no Rio de Janeiro, são frequentadoras assíduas da mídia brasileira e internacional. Quase sempre por motivos opostos, que acabam por ressaltar um antagonismo entre os dois municípios quanto aos seus projetos, suas escolhas públicas e seus estilos de vida.
A ‘Rio Já’ decidiu fazer um exercício de comparação entre as duas cidades, chamando a atenção para aquilo que os seus habitantes consideram vantagens e —por que não? — motivos de orgulho. Sendo o que somos – uma revista que tem o Rio de Janeiro como foco de sua atenção e de seu afeto — nos preocupamos mais em observar a nossa pequena e notável Maricá.
Os dois municípíos são os que mais cresceram em seus estados nas últimas duas décadas. Mas, diga-se, cada um cresceu em direção própria, e diferente. Camboriú tornou-se uma espécie de Dubai tupiniquim – luxuosa, reduto de celebridades e subcelebridades, regrada pela ostentação e por sinais exteriores de riqueza. Maricá também enriqueceu – relativamente, até mais do que sua coirmã catarinense – mas passou a ser reconhecida mundialmente como cenário de bem sucedidas políticas públicas de ascensão social do povo pobre e significativas vitórias sobre a exclusão e a desigualdade.
Jan Theophilo revela os segredos que fazem de Maricá, segundo a definição de publicações internacionais, como a alemã Der Síegel e o espanhol El País, um microcosmo da desenvolvidíssima Noruega, e cidade-modelo a ser seguida em todo o mundo.
No mais, enquanto a elite de Camboriú se envaidece da grande quantidade de Ferraris que circulam entre fálicos arranha-céus que já alcançaram 290 metros de altura, os maricaenses respondem, em igualmente exibida jactância: os nossos vermelhinhos são os ônibus de graça para toda a população.
Identificada com a ancestralidade e a história do estado, a ‘Rio Já’ não despreza seu lado identitário e abre suas páginas para que Aydano André Motta conte a linda história de João Diamante, chef oriundo da favela que se transformou em estrela da gastronomia brasileira, conjugando saberes das comunidades populares e o aprendizado com ícones planetários do setor. Aluno do mestre dos mestres Alain Ducasse, em Paris, Diamante trouxe ao Brasil o esmero do grande cozinheiro e a grandeza do compromisso com seu povo. Ganhou o Champions of Change, concedido no World’s 50 Best Restaurants, o Oscar da gastronomia, como reconhecimento aos cursos de culinária, nutrição e hospitalidade que oferece a jovens de favelas e periferias do Rio. São mais de 400 formados e 3,5 mil beneficiados, nos últimos oito anos.
Mas o nosso maior atrevimento nesta edição foi a decisão de levar ao leitor uma reportagem sobre a maior batalha de rimas do país, conhecida como Coliseu, na qual competem grandes MCs do hip-hop brasileiro. Só isto já seria relevante, mas ganhou dimensão inédita quando a repórter Caroline Rocha decidiu escrever o texto a quatro mãos com Allan Freestyle, gestor da competição – tudo em forma de rima e jeito de grafite, a mais contemporânea das formas de arte popular. Como eles dizem:
Parar nunca será uma opção
Pro hip-hop em sua essência
“Antes de sermos Coliseu,
Seremos sempre resistência”
Boa leitura, em qualquer linguagem!