Caroline Rocha
O número 140 da Rua Amaral Costa mantém há cinco anos um espaço cultural que é referência em obras de autores da Zona Oeste carioca e um dos maiores acervos literários afro-brasileiros do município. Após dez meses de portas fechadas, a Biblioteca Manuel Ignácio da Silva Alvarenga voltou a atender os leitores da região.
São mais de nove mil títulos no acervo, além de opções de programas educativos, oficinas, atividades, palestras e cursos. O espaço é gerido pela primeira autora infantojuvenil quilombola do país, Pituka Nirobe, que começou a “escrever para salvaguardar a história do povo negro”, marcada pela oralidade. Um dos principais objetivos do trabalho de Nirobe na unidade – que recebe o nome de um importante poeta brasileiro defensor de princípios democráticos já na época colonial – é ampliar os conhecimentos e saberes étnicos a partir da perspectiva de personagens quilombolas.
“Uma luta de mais de 40 anos para conseguir um espaço como esse”, comentou a autora de “Pedras, Pedrinhas e Pedregulhos”, narrativa ficcional baseada na relação de cuidados e ensinamentos entre o avô e seu neto no Quilombo da Marambaia, local onde Nirobe nasceu. Orgulhosa de suas origens e dedicada ao coletivo, ela também colabora com bibliotecas comunitárias da cidade.
Durante a requalificação, a Biblioteca Manuel Ignácio da Silva Alvarenga recebeu novos espaços de leitura, mobiliário adequado e as áreas antigas foram modernizadas. “Nossa ideia é fazer com que a comunidade do entorno entenda que é parte integrante e essencial para o funcionamento, debatendo assuntos importantes como a temática antirracista e de sustentabilidade, trazendo a comunidade para o debate”, afirma Marjory Rocha, coordenadora do projeto”.
“É muito bom ter um espaço de leitura perto de casa. Nem sempre tenho condições de buscar lazer por falta de dinheiro, mas gosto de ler, e assim consigo ‘visitar vários lugares’ sem gastar nada”, conta Marina Souza, de 20 anos, moradora de Campo Grande.
A revitalização do espaço faz parte do programa Cultura do Amanhã, o maior investimento da Secretaria Municipal de Cultura neste sentido. Ao todo, 22 dos 55 equipamentos culturais passaram por obras nos últimos meses. Segundo a pasta, o aporte ultrapassa R$ 75 milhões.