Ricardo Bruno – Chefe de redação
Há figuras que ganham notoriedade pela disposição permanente de atender à imprensa. São convocados em qualquer dia ou horário para entrevistas ou rápidos comentários sobre fatos a respeito dos quais, em tese, têm autoridade. Sempre solícitos, os especialistas de plantão formam, contudo, um bloco heterogêneo, onde perfilam técnicos de alta reputação e alguns exibicionistas hipnotizados pela fama repentina, advinda das aparições frequentes no noticiário.
O biólogo Mário Moscatelli forma entre os sérios. Tornou-se conhecido pelo jeito sempre afável de comentar fatos de repercussão ambiental. Por décadas, por exemplo, era convocado com regularidade para explicar a mortandade de peixes na lagoa Rodrigo de Freitas. Em acidentes ambientais, sua aparição se fazia obrigatória, dada a carga de conhecimento que dispõe para interpretar, com propriedade e simplicidade, as distopias ecológicas da metrópole.
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No correr dos anos, fez-se a principal referência ambiental da cidade. Recentemente, trocou de lado. De crítico inclemente dos descasos ambientais passou a consultor de empresas privadas e da prefeitura do Rio – este trabalho, em missão pro bono. Numa ou noutra posição, cumpre a tarefa com dedicação plena, num sacerdócio público de devoção à natureza.
Na reportagem central desta edição, o competente Aydano Motta deslinda a história de abnegação de Moscatelli à causa ambiental. E revela a parceria com as filhas na Manglares Consultoria, a empresa familiar em que atuam nos trabalhos de preservação.
Em entrevista, o biólogo faz uma espécie de anamnese do Rio sob o ponto de vista ambiental e diagnostica: “O Rio era um paciente a caminho do necrotério; hoje ainda está na UTI, mas melhorando. Em 5 anos, vai para o quarto e em 15 terá alta.”
Nesta edição, Jan Theóphilo mostra a quantas anda a recuperação da Casa da Marquesa de Santos – o palacete presenteado por Dom Pedro I à sua lendária amante Domitila de Castro Canto e Meio. Cercado por histórias saborosas a respeito da notória infidelidade do Imperador, a construção teria um túnel ligando-a à Quinta da Boa Vista, através do qual Dom Pedro dava suas escapadas em direção ao ninho de amor que, cuidadosamente, mandara construir para a manceba mais famosa do reinado.
Bússola das novidades gastronômicas da cidade, a Rio Já mostra a tendência predominante do momento: as ostras, molusco cada vez mais presente nos cardápios da cidade. Bruno Agostini, o mais talentoso crítico gastronômico dessas plagas, mergulha no universo de restaurantes estrelados e botecos à procura da ostra mais saborosa.
Bom apetite.
Ou melhor: Boa leitura.