EDITORIAL: PETROBRAS SE RENOVA AOS 70 ANOS

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Ricardo Bruno

O Rio e a Petrobras guardam afinidades que ultrapassam os limites do quadrilátero da avenida Chile, onde repousa encarapitado numa pequena elevação o majestoso edifício-sede da empresa. Num presságio do que viria a acontecer décadas depois, a cidade foi palco das grandes manifestações nacionalistas de defesa do petróleo. Em 1948, na sede do Automóvel Clube do Brasil, no Passeio Público, foi instalado o Centro de Estudos e Defesa do Petróleo. A entidade logo se converteria numa espécie de dínamo propagador da campanha “O Petróleo é Nosso” – abraçada pelos brasileiros e liderada por nacionalistas da estirpe de Barbosa Lima Sobrinho, então presidente da ABI, entre outros.

À época, não se imagina encontrar óleo na Bacia de Campos, tampouco tinha-se notícia das portentosas jazidas do pré-sal no litoral fluminense. Ao longo do tempo, portanto, o Rio se credenciou naturalmente a se tornar a capital brasileira do petróleo. Primeiro, por sua centralidade política, com atuação de vanguarda nas campanhas em defesa da causa. Depois, por dádiva da natureza, que nos presentou com a mais expressiva fração das formações rochosas petrolíferas offshore. Respondemos por 83 % da produção nacional.

Nem sempre, contudo, a relação entre a empresa e o Rio foi de respeito e harmonia. Na gestão anterior, sob Bolsonaro, a direção da estatal ignorou o papel que lhe é reservado na indução do desenvolvimento nacional, o que atingiu duramente a indústria naval, com forte base de produção no Rio. Houve um distanciamento completo entre as iniciativas da companhia e os objetivos estratégicos da economia fluminense, essencialmente por conta da ótica enviesada do lucro aos acionistas a qualquer preço, mesmo em prejuízo de interesses coletivos, por mais republicanos que fossem. Sob o jugo de entreguistas confessos, a Petrobrás se tornou uma espécie de madrasta do Brasil e do Rio especialmente.

O processo calculado de corrosão da imagem pública da Petrobras, executado durante a gestão dos execráveis Paulo Guedes e Roberto Castelo Branco, chegou ao requinte de determinar o fechamento do edifício-sede. A justificativa pública era a necessidade de reformá-lo. Na verdade, o movimento foi determinado pela sanha de demolir os símbolos históricos da empresa, subtrair-lhe a própria identidade e, assim, dar vazão ao projeto privatista em curso. Lacraram as portas do icônico edifício da Avenida Chile sem sequer projeto executivo elaborado, o que inviabilizou a rápida execução da obra. Antes de entrega-la ao capital internacional, era necessário despir a Petrobras das marcas e símbolos identificados com a sociedade brasileira.

O carioca Jean Paul Prates tem, entre outras missões estratégicas, a responsabilidade de resgatar esse passivo socioeconômico. Em entrevista a Rio Já, ele antecipa a retomada dos compromissos com a economia fluminense:

– Nascemos aqui, em 1953, e essa parceria vai continuar se renovando e apontando para um futuro cheio de novas oportunidades e de crescimento. O estado abriga hoje os principais ativos da Petrobras e responde por cerca de 80% da produção nacional de petróleo e gás, além de concentrar a maior fatia dos campos do pré-sal.

Destruído criminosamente pela Lava Jato, o Comperj será retomado numa planta não só de lubrificantes, como prevê o projeto do Gaslub. Com a chegada do gás natural da rota 3 e a ligação da Reduc ao centro petroquímico de Itaboraí, teremos a possibilidade de nos transformarmos em um dos mais importantes polos de produção petroquímica do país. É a Petrobras voltando à centralidade do desenvolvimento nacional.

Serão ainda investidos cerca de US$ 18 bilhões na recuperação dos chamados campos maduros da Bacia de Campos, com previsão de crescimento da produção em 63%. Isto significa mais emprego e mais royalties para os municípios do Norte Fluminense, numa cascata de efeitos econômicos benfazejos na região.

Ao completar 70 anos, a Petrobras experimenta um agudo processo de renovação. Prepara-se para deixar de ser exclusivamente produtora de petróleo e se transformar numa empresa de energia, explorando todas as formas de geração, especialmente as mais limpas, de baixa emissão de carbono.

A mudança, profunda e visceral, ao lado da ampliação das metas de produção de petróleo, vai se dar a partir de sua base no Rio de Janeiro. Há, portanto, uma enorme perspectiva de novos negócios à vista. O Rio deve se preparar para explorar ao máximo a janela de oportunidades deste momento afortunado da história da maior e mais emblemática empresa nacional.

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