RIO NOTA 10: LULA MONTA GOVERNO COM FORTE PRESENÇA CARIOCA

Ronald Sorriso, o carioca nomeado Secretário Nacional da Juventude, tem uma missão de peso pela frente durante o governo Lula


Lula montou um governo com fortissima presença do Rio de Janeiro. São 10 cariocas, fluminenses ou “adotados” – entre ministros e assessores de primeiro escalão encarregados de temas imprescindíveis para a restauração da democracia, do respeito aos direitos humanos e para a reconstrução social e econômica do Brasil.
O time do Rio tem orçamentos poderosos, grande peso político e experiência com os fundamentos básicos da inclusão social e do combate à desigualdade e à injustiça.
Veja a seguir quem são os cariocas no poder, escalados para ajudar Lula a resgatar o Brasil da crise e restabelecer direitos e serviços públicos de qualidade.

Verba de R$ 150 bi e o enorme desafio de salvar a saúde pública

Nísia Trindade Lima aassumiu aquele que certamente é, junto com a educação, o maior desafio do governo Lula no trabalho imprescindível de reconstruir o Brasil e resgatar o país do caos ao qual foi jogado pelo acúmulo de quatro anos de neoliberalismo radical – sob o comando de Michel Temer – com quatro anos de descalabro e deliberada destruição – sob o desgoverno de Jair Bolsonaro. Mas esta carioca criada no bairro do Flamengo não tem medo de bicho papão. Nunca teve. Cientista social, socióloga e professora universitária, Nísia foi a primeira mulher a presidir a centenária Fundação Oswaldo Cruz. E não foi um ato de reparação histórica às mulheres. Tornou-se presidente da Fiocruz pelo voto direto dos servidores – eleita e reeleita com 85% dos sufrágios. Com ela, e pelo trabalho extraordinário feito contra a pandemia, a instituição foi declarada pela OMS como referência para as Américas no combate à Covid19. Nísia assumiu o ministério da Saúde – também neste caso a primeira mulher da história – para administrar um orçamento poderoso, de R$ 150 bilhões, ainda assim insuficiente, pela dilapidação promovida pela incúria dos dois últimos governos. Mas chegou e já anunciou as suas prioridades: fortalecimento do SUS e extensão da rede a áreas remotas, retomada da vacinação como prioridade nacional e, também importante, fazer andar as filas das cirurgias na rede pública hospitalar.

Brasília – Entrevista com o Ministro de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (Elza Fiúza/Agência Brasil)

Ex-trotskista, ex-peemedebista e com orçamento de R$ 11 bi para a ciência

Celso Pansera nasceu no Rio Grande do Sul, mas foi criado no Rio de Janeiro, onde construiu sua vida, desde os tempos de estudante. Foi convocado pelo governo Lula para restabelecer o financiamento à ciência e à tecnologia, abandonado pela infeliz experiência que Bolsonaro impôs aos pesquisadores na pessoa de um astronauta e garoto-propaganda de travesseiro. O novo presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) vai comandar o maior orçamento da história do país para o  setor – R$ 11 bilhões, este ano. A vida de Pansera faz lembrar uma montanha-russa: foi militante da tendência estudantil trotskista Convergência Socialista, mas escolheu o PMDB para se eleger deputado federal; ministro do governo Dilma, voltou à Câmara para rejeitar o impeachment, mas votou a favor do teto de gastos, embora tenha votado contra a reforma trabalhista de Temer e apoiado a abertura de investigação contra o ex-presidente.

A posse desta carioca foi um emocionante grito contra o racismo

Anielle Franco é uma das protagonistas da posse mais emocionante e concorrida do ministério de Lula. Assumiu a pasta da Igualdade Racial na mesma solenidade em que Sônia Guajajara foi nomeada Ministra dos Povos Indígenas. Realizada na semana seguinte aos atos golpistas que depredaram as sedes dos três Poderes, a posse conjunta tornou-se um momento épico e um grito de protesto contra o fascismo, o racismo, a violência contra as mulheres e a discriminação à população LGBTQIA+. Anielle é tão carioca quanto cidadã do mundo. Formou-se em letras e  literatura na UERJ, mas viveu 12 anos nos Estados Unidos, onde fez faculdade de jornalismo e um mestrado. Assumiu em 2018 o legado e a preservação da memória da irmã, Marielle Franco, cujo assassinato nunca teve os mandantes identificados.

Um carioca afrancesado preside a MAIOR empresa estatal do país. O Rio está de olho

Jean Paul Prates, advogado e economista com nome francês e, no entanto, carioca da gema, criado em Botafogo e botafoguense fanático, tem uma missão dificílima pela frente. E não só por presidir a maior empresa brasileira, dilapidada pelos dois últimos governos, que praticamente retiraram-na das mãos do Brasil para entregá-la ao bolso apátrida dos grandes acionistas estrangeiros. Corrigir a gestão criminosa e lesa-pátria já seria um trabalho gigantesco, mas a Petrobrás tem uma enorme dívida política, fiscal e de respeito para com o Rio de Janeiro. O Rio depende – e merece – de um envolvimento da Petrobrás com o estado que a acolhe. Até agora, exceto pelos royalties, que qualquer estado produtor recebe, a Petrobras obteve do Rio muito mais do que concedeu. Está na hora de restabelecer uma relação de equilíbrio e justiça. Quem sabe, o carioca Jean Paul resolve?

Um oriundi nascido em Nilópolis tem a missão de construir consensos

André Ceciliano aprendeu na vida a ensinou na presidência da Alerj que politica se faz com articulação, respeito às diferenças e busca obstinada de consenso. Não há razão mais importante para que ele tenha sido nomeado por Lula Secretário Nacional de Assuntos Federativos – responsável direto pelo relacionamento do governo federal com os prefeitos e os governadores. Apaziguar conflitos, debelar crises e estabelecer entendimentos são as especialidades deste oriundi nascido em Nilópolis, duas vezes prefeito de Paracambi e quatro vezes deputado estadual. Foi assim que, na presidência da Alerj, aparou arestas politicas que inviabilizavam a superação do colapso a que o Rio havia sido levado. Ajudou o governo do estado a aprovar decisões fundamentais para tirar o Rio do buraco. E gosta de trabalhar. É autor de 420 leis que estão em vigor – uma façanha num país que foi presidido até o ano passado por alguém que em 28 anos de mandato jamais apresentou um projeto relevante.

De mais votada do Rio à ministra: o resultado de uma aliança legítima

Daniela Carneiro foi a deputada federal mais votada do Rio de Janeiro na eleição do ano passado, com impressionantes 213.706 votos. Em parte, sem dúvida, por seu trabalho no Congresso e pela companhia de seu marido, Waguinho, um dos mais populares prefeitos da história de Belford Roxo. Mas em parte, também, pelo fato de ter compreendido que o país precisava mudar e, com isso, ter aderido à candidatura de Lula à presidência. Foi uma aproximação de interesse mútuo e necessário. Daniela e Waguinho criaram na sua cidade uma espécie de cabeça-de-ponte para que Lula obtivesse na Baixada Fluminense um apoio que, naquele momento, políticos amparados nas igrejas evangélicas tratavam de negar, porque optaram desde sempre por Bolsonaro. Daniela representa esta circunstância no governo Lula. Uma aliança que foi legítima na eleição e que poderá ser importante ao longo do governo.


Um ícone da Esquerda no Rio vai cuidar da imagem do Brasil no exterior

Marcelo Freixo é mais do que o deputado estadual que inspirou o filme ‘Tropa de Elite 2’, e que teve que passar por um exílio na Espanha por ser ameaçado de morte pelas milícias. É verdade que, como deputado estadual e presidente da CPÌ das Milícias, enriqueceu a reputação, que já havia conquistado, de corajoso defensor dos direitos humanos. Mas foi além disso. Foi o deputado estadual mais votado do Brasil em 2014, candidato a prefeito que, embora derrotado, fez mais de 40% dos votos, e se elegeu deputado federal em 2018 com 342 mil votos, justamente quando a onda direitista elegia Bolsonaro presidente. Freixo oscilou entre o PSOL, o PT e o PSB – neste último caso mais por razões de necessidade eleitoral. Sempre foi um politico defensor das pautas da esquerda, nem sempre bem acolhidas pela parte do povo que costuma decidir as eleições. Sua nomeação para a Embratur é uma solução: um carioca na maior agência brasileira de incentivo ao turismo, inclusive no exterior, e o reconhecimento a um apoiador importante de Lula.

Um carioca é nomeado para defender o consumidor brasileiro

Wadih Nemer Damous Filho, apesar do nome cheio de indicações étnicas, é carioca de nascimento, formado no movimento estudantil de esquerda, presidiu a OAB do Rio de Janeiro, foi coordenador da Comissão da Verdade no estado, e como deputado federal lutou bravamente contra o impeachment ilegal de Dilma,  tendo sido um dos advogados que defenderam Lula quando de sua prisão ilegal. Wadih foi nomeado para um cargo relevante: Secretário Nacional do Consumidor. E já deu sinais muito claros que não pretende ser um ator passivo de um problema que assola o Brasil: o endividamento dos cidadãos brasileiros, que atingiu índices jamais vistos no país e praticamente inviabiliza a retomada da economia.

Um botafoguense e torcedor da Viradouro tem a missão de rejuvenescer o PT

Ronald Sorriso, o carioca nomeado Secretário Nacional da Juventude, tem uma missão de peso pela frente durante o governo Lula: renovar um partido que, aos 43 anos, precisa do sangue novo e do entusiasmo dos jovens militantes que o fundaram e que, agora, são mulheres e homens de meia idade. O PT nunca precisou tanto dos jovens para se modernizar, e Sorriso, com a experiência de militância no movimento estudantil deste milênio, já tem planos: lutar pelo mercado de trabalho para o primeiro emprego, reduzir e prevenir a violência contra os jovens, uma verdadeira epidemia no Brasil, sobretudo entre pobres e negros. Sorriso, que teve apoio político de Benedita da Silva para o cargo, se declara, além de petista, botafoguense e torcedor da Viradouro.

No governo Lula, não podia faltar um velho amigo de Brizola

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, apesar do duro combate que o seu candidato à presidência moveu contra Lula, foi nomeado ministro da Previdência Social do novo governo. Não pode surpreender ninguém que conheça a herança política de Leonel Brizola no Rio de Janeiro e no país. Lupi não é carioca, mas viveu praticamente toda a sua vida no Rio. Foi jornaleiro, dono de banca de jornal e, nesta condição, tornou-se amigo de Brizola, a quem fornecia os jornais do dia de graça na época em que o governo do estado passava por dificuldades financeiras. Lupi foi ministro do Trabalho de Lula e Dilma, nos primeiros governos deles. Está de volta.