A EMBAIXADA DE LULA NA SAPUCAÍ

POR JAN THEOPHILO

Com grande presença de políticos da base aliada do governo, Camarote Favela será uma espécie de extensão do Palácio do Planalto em plena Marquês de Sapucaí

Nunca dantes na história deste país, tantos políticos se concentraram em um mesmo lugar para apreciar o Carnaval carioca. E justamente por isso, não é exagero afirmar que o Palácio do Planalto terá uma verdadeira embaixada este ano na Marquês de Sapucaí. A lista de autoridades que marcará presença no Camarote Favela, que estreou no carnaval do ano passado, é robusta em números e representatividade. Até o fechamento desta edição, mais de 100 deputados e senadores que compõem a base governista já haviam confirmado presença na folia, além de pesos pesados como os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; do Secretário-Geral da Presidência, Márcio Macedo; do ministro-chefe da Casa Civil, Ruy Costa; e do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, entre outros. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, será responsável por um dos principais shows e não está ainda descartada uma passadinha do “primeiro-casal”, formado pelo presidente Lula e sua companheira Janja pelo espaço. Mas, naturalmente, não é só com políticos que se faz um bom carnaval. Personalidades conhecidas nos meios artístico e cultural também vão evoluir pelo camarote.

“Este ano, estamos fazendo um camarote com um perfil mais corporativo, sem vendas individuais, e assim ele terá um número reduzido e mais controlado de pessoas, com lounge VIP. Ano passado, tivemos um público muito maior que o esperado e mesmo assim foi um grande sucesso”, diz Gabriela Lopes, uma das principais responsáveis pela organização do espaço, idealizado pelo professor de sociologia, ex-prefeito de Maricá e deputado federal Washington Quaquá, autor do livro “Da Favela ao Poder”. São esperadas cerca de 1.200 pessoas por dia. O camarote deste ano promete funcionar como uma espécie de materialização das pautas que Quaquá pretende levar para Brasília em sua estreia no parlamento nacional, como a defesa da cultura afrodescendente do Rio, a cultura independente e das favelas e, naturalmente, do samba.

E essa proposta vai evoluir da decoração ao cardápio, passando pela programação dos shows nos intervalos dos desfiles. Além da ministra da Cultura, já estão confirmadas apresentações entre um desfile e outro de nomes como Jorge Aragão, Sandra de Sá, Júlio Sereno, Arlindinho, Jô Borges e da equipe Furacão 2000. “Temos um parceiro que está finalizando um projeto de cenografia baseado em rostos de pessoas de comunidade para a nossa cenografia”, conta Gabriela Lopes. O colorido e a ‘arquitetura’ típica da favela, que marcou o local no ano passado, serão mantidos. No quesito comes e bebes também estará presente a informalidade que o carioca tanto aprecia. “Bebidas teremos para todos os gostos, mas as comidas serão essencialmente de boteco, com vários dos petiscos mais famosos dos bares cariocas”, dia Gabriela.

Segundo a organizadora, para o carnaval deste ano as instalações foram reformadas para proporcionar maior conforto entre os foliões. “O camarote Favela já está consolidado e é muito procurado. Este ano queremos um controle maior de pessoas para que não tenhamos nenhum desconforto e nossos serviços sejam bem aproveitados. Queremos ser um camarote cada vez maior e melhor, voltado para o público que quer efetivamente assistir aos desfiles, que são a grande estrela da Sapucaí”. Haverá ainda seis espaços na frisa de 20 lugares e quatro espaços no nível superior com 15 lugares cada para quem quiser ver o espetáculo mais de perto.

Com capacidade para 1.200 pessoas e entrada pelo Setor 2, próximo à estação do Metrô Praça Onze, o Camarote Favela escolheu o ponto de encontro para os usuários mais próximo da Sapucaí. Fica no Espaço Sulamérica, a 1,2 km de distância da entrada para o Sambódromo, o que corresponde a apenas cinco minutos de transfer de ida e volta. Com estacionamento no local, o espaço recebe os convidados a partir de 18 horas, para credenciamento, retirada das camisetas e customização (para quem quiser). O camarote contará também com serviços de maquiagem e cabeleireiros.

A FAVELA EM NÚMEROS

De acordo com o último Censo do IBGE, realizado em 2010, o Rio de Janeiro possui 763 favelas, que abrigam 22% da população de toda a cidade. Com tamanha proporção, o Rio se tornou o município brasileiro com o maior número de moradores em favelas: 1.393.314 habitantes.

Só na Região Metropolitana há pelo menos 1.702.073 pessoas morando em favelas, o que corresponde a 14,4% da população. De 2010 para cá, com o empobrecimento cada vez maior da população, o número de moradores em comunidades só tem aumentado, mas só será conhecido quando forem divulgados os resultados do novo Censo, que só começou a ser aferido ano passado em função da falta de verbas no fim do governo Bolsonaro.