Por Rosayne Macedo
O maior puxador de samba do Carnaval carioca de todos os tempos vai contar com uma companhia de peso este ano na Sapucaí. Neguinho da Beija-Flor escolheu Ludmilla, um dos maiores nomes do funk, pagode e pop nacional da atualidade. Não é a primeira voz feminina a acompanhá-lo. Em 2022, a catarinense Karinah assumiu o posto de primeira mulher escalada para cantar ao lado do intérprete, que há 47 anos puxa os sambas da Azul e Branca de Nilópolis.
“No ano passado, fiz um convite para a grande cantora Karinah e para a Ludmilla. A Ludmilla ficou feliz com o convite, mas estava impossibilitada de aceitar porque já tinha um compromisso. Mas veio a Karinah e ficou um resultado maravilhoso, deu super certo. E a Ludmilla ficou para este ano. Ela seguiu a agenda dela e está vindo agora para nossa felicidade. A Karinah não vai vir porque já tinha assumido outro compromisso”, contou Neguinho à RIO JÁ.
A cantora, ao anunciar a novidade em novembro aos seus quase 29 milhões de seguidores, escreveu: “É isso mesmo galera! Em 2023 eu vou puxar o samba da soberana @beijafloroficial na Avenida junto com o @neguinhodabeijafloroficial. Obrigada pelo convite, mestre. Será uma honra dividir esse momento com você! A mãe agora é intérprete de escola de samba”.
No Instagram da Beija-Flor, durante a gravação do samba, ao lado de Neguinho e demais puxadores e compositores, ela comentou sobre o samba-enredo enredo ‘Brava Gente – O Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência’, assinado pelos compositores Léo do Piso, Beto Nega, Manolo, Diego Oliveira Julio Assis e Diogo Rosa. “Caraca, isso é uma obra de arte mesmo. É muito interessante isso que vocês fazem, trazer a História do Brasil”. Já Neguinho, com a simplicidade de sempre, é só alegria em dividir o brilho de sua fama à frente da Deusa da Passarela com a estrela pop.
“Vamos ter a Ludmilla, uma das grandes vozes da Música Popular Brasileira. Estou muito feliz que ela tenha aceito o convite, tenho certeza que vai dar certo. Já deu na gravação e tenho certeza que vai dar na Avenida também, assim como deu com a filha do Wantuil na Tijuca. Tudo isso começou com a menina Giovana, que hoje está cantando em outros segmentos. Estou feliz que a Ludmilla tenha aceito o nosso convite”, revela.
Para o artista, “falta voz feminina no desfile das escolas de samba”, um reduto predominantemente masculino por tradição. E por isso decidiu puxar um movimento de inovação no mundo do samba para mudar essa realidade, num país com tanta potência vocal feminina. E nada melhor que contar dessa vez com a popularidade de Ludmilla, que é negra, vem da favela e arrasta multidões, além de conectar seu nome a questões de gênero e ao movimento LGBTQIA +.
“Admiro a Ludmilla, a Anitta, a menina Giovana (Galdino), que hoje é uma adolescente, a Karinah, a Alcione, a Teresa Cristina, que inclusive me substituiu no Globeleza com muita propriedade, assim como admirava vozes que já se foram, como Beth Carvalho, Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara e a grande Elza Soares, que eu admirava desde criança”, revelou Neguinho.
Neguinho, que se confunde com o próprio nome e a história da escola, ninguém tem dúvidas. E com a experiência e maestria de um veterano da Sapucaí, ele diz que não segue nenhuma preparação especial nem ritual antes de se apresentar, a não ser o repouso vocal.
“A minha voz eu já venho preparando. São 47 anos de Avenida. Nesse período, é mais repouso mesmo. Hoje a tecnologia nos facilita bastante, não tem muito mistério. É mais um repouso de umas 12 horas antes, no mais, é tudo beleza”, diz, confiante. O puxador de 73 anos já enfrentou com coragem um câncer de intestino e hoje desfruta de uma saúde de causar inveja a jovens como Ludmilla, de apenas 27 anos.
Grito dos excluídos
Sobre o que espera para esse Carnaval, o ícone da Azul e Branca de Nilópolis, vice-campeã de 2022, é otimista. “No ano passado, a Beija-Flor fez um excelente carnaval, tanto que ficou em segundo lugar, por décimos. Este ano vamos brigar, estamos preparadíssimos e tenho certeza que vamos estar disputando esse título. Temos um excelente samba, que caiu bem no carro de som. O carro está bonito, a rapaziada se enquadrou. Tenho certeza que a Beija-Flor vai fazer um bom desfile”.
O enredo ‘Brava Gente – O Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência’ passa uma forte mensagem de cunho social, num ano em que o Brasil estará sob novo governo, que tem um claro compromisso com a redução das desigualdades sociais. O samba é uma verdadeira aula de História: questiona a cultura racista e opressora ainda fortemente presentes no país e destaca o perfil subversivo da escola em trazer temas sociais para a Avenida.
Para Neguinho, o enredo forte e impactante contará pontos a favor da Beija-Flor, que busca seu 15º título de campeã. “Maravilhoso esse enredo, não vou falar muito para não ser mal interpretado. Tenho certeza que está nos planos do novo governo a preocupação com essa desigualdade e vai nos favorecer muito. E esse enredo vai nos proporcionar esse campeonato, com certeza”. A conferir!