CONHEÇA BOTASOHO: O BROOKLYN CARIOCA

A piada já circula faz algum tempo pela cidade. O Flamengo está em outro patamar; o Fluminense surpreendeu com bons resultados na última temporada; o Vasco está de volta à primeira divisão; e Botafogo…cada vez mais se consolida como um dos mais importantes pólos gastronômicos da cidade. Maldade dessa gente desocupada. Se por um lado, o clube tem diante de si boas perspectivas esportivas com a grana de John Textor, por outro, há uma verdade escondida na blague. A chegada de casas como  o Lasai, Oteque, Irajá Gastrô, entre muitas outras com uma pegada meio hipster e um arzinho do Brooklyn nova-iorquino, já deu novo nome ao pedaço. Agora é BotaSoho, local de uma cena tão eclética quanto tentadora, acrescentando novas cores e sabores à gastronomia carioca.

Veja o caso da The Slow Bakery  (Rua São João Batista, 93), cuja entrada se dá por uma porta discreta em uma rua apinhada de oficinas mecânicas. Em apenas seis meses a padaria artesanal do casal Ludmila Espindola e Rafael Brito (padeiro autodidata) já virou point. Verdade tão pura quanto a receita: farinha, água, sal e tempo. Os pães sourdough levam até 30 horas para ficar prontos, e o fermento usado tem 154 anos! O pão na chapa que derrete na boca faz par perfeito com os cafés servidos a 90°C. “Nossos cafés são feitos para serem tomados aqui”, diz uma tatuada atendente.

A 600 metros da padaria, surge outra jóia: o Chanchada Bar (R. Gen. Polidoro, 164 b) que caiu nas graças do pessoal alto-astral e descolado que frequenta este pedaço hipster da cidade. Aberta por sócios do Pope e do Quartinho Bar, em parceria com os donos do Nosso, outras três casas que valem a vista, o Chanchada é todo decorado com capas de LP, com direito à estátua de São Jorge e televisão de tubo. Tem um salão minúsculo interno, que abriga apenas um balcão de sete lugares. E, claro, as disputadíssimas mesas ficam todas na calçada, para alegria dos cariocas. Mas o endereço não vive só de badalação. As comidinhas de boteco são simples mas cheias de sabor. Não perca o bolinho de bochecha de boi desfiada (R$ 8 a unidade) e as porções de quiabo grelhado (R$ 20), de coração de pato (R$ 32), de língua bovina aperitivo ao molho madeira com jiló em conserva (32 reais) e do espetacular torresmo de barriga de porco (28 reais), carnudo e certamente um dos melhores da Zona Sul.

Praticamente do outro lado da rua, a Di Biasi Pizzas Artesanais (R. Gen. Polidoro, 167 – Loja A), carrega o título de queridinha dos famosos, graças a uma lista de clientes que vai de Aerosmith a Maroon5, de Neymar a Deborah Secco. Com um cardápio variado e opções que contemplam amantes das pizzas tradicionais, gourmands e até mesmo veganos, a marca conta com 20 sabores tradicionais, 13 especiais, 10 veganas e 16 versões doces da redonda, além de opções de bordas recheadas.

Seguindo em direção ao Humaitá, o foodie pode dar uma paradinha no Surreal (Rua Paulo Barreto, 102), tido como o bar mais geek da cidade. Além da decoração repleta de referências às suas séries, filmes, quadrinhos e games favoritos. O cardápio também é cheio de referências à cultura pop, como os hambúrgueres Miranha, The Batman e Hulk Smash; ou pratos mais substanciosos como O Poderoso Chefão ou a Jóia da Alma. Entendedores entenderão.

Na mesmíssima calçada, uma das mais celebradas casas da cidade: o Entreamigos (Rua Paulo Barreto 64 A), fundado pelos antigos maitres do Antiquarius Uedson Dias e Luciano Fernandes, que convidaram para a empreitada craques da antiga cozinha, como os chefs João Batista de Almeida, Sebastião de Souza, José Maria Pontes, Luiz Ademar e Francisco Viana. A casa oferece a mais tradicional receita do melhor arroz de pato do Rio de Janeiro, além de diversos outros itens do cardápio do saudoso português do Leblon.

Na saída, você pode aproveitar e tomar um drinque no Vuvu (Rua Sorocaba 601), que abriu as portas em um ponto que já abrigou um depósito de bebidas, um bingo clandestino e até uma Igreja Universal. Com nova vocação, o espaço ganhou ambientação moderninha, com cimento queimado, mobiliário de madeira e ferragens pretas. O protagonista do salão é o bar central, com oito metros de largura, de onde saem criações à base de gim, especialidade local. É o caso do floral easy breeze (R$ 32,00), com licor de lúpulo, aperitivo Lillet e perfume de absinto (R$ 32,00). A gastronomia, focada na cozinha nikkei (meio japonesa, meio peruana), destaca o ceviche roll (R$ 36,00, dez unidades), enrolado de peixe branco, batata-doce glaceada e cebola-roxa em arroz.

A apenas 10 minutos do Vuvu,  o Galeto Sat´s (R. Real Grandeza, 212), xodó de Copacabana desde 1976, abriu sua primeira filial no bairro. O galeto _ que merece a fama de melhor da cidade _ vem em porção petisco ou inteiro. O espaço é muito maior (dois andares, 110 lugares e bar externo) do que o de Copa, mas o menu, igualzinho. Inclusive a gostosíssima farofa de ovo (não deixe de provar, nunca, jamais). E a cozinha só fecha às 6h!

Já os de paladar mais apurado, e bolso mais fornido, tem entre outras opções o Lasai (Largo dos Leões, 35) restaurante cosmopolita com uma estrela Michelin do chef Rafa Costa e Silva e sua mulher Malena Cardiel. Sua gastronomia é ao mesmo tempo inédita, vibrante, leve, madura e sensual. Usando técnicas modernas e insumos brasileiros cultivados em suas próprias hortas e na de pequenos agricultores do Rio de Janeiro, Rafa cria pratos com ênfase em legumes e verduras sem dispensar o uso dos produtos mais frescos do mar e as melhores carnes. O Lasai, cujo significado é tranquilo em Euskera, idioma do país Basco, onde o chef passou grande parte de sua formação antes de voltar ao Brasil, fica em uma casa carioca antiga com ambiente moderno, acolhedor e informal com elegância. O serviço, eficiente e sem bravata, deixa sempre a comida como protagonista, proporcionando aos clientes uma experiência surpreendente.

Outra dica mais sofisticada é aquele que é considerado um dos melhores restaurantes do Rio de Janeiro, o Oteque (Rua Conde de Irajá, 581), do chef Alberto Landgraf, que tem uma cozinha contemporânea com um menu que muda diariamente. Aqui, sabor, criatividade e precisão reverteram em prêmios e uma memorável experiência gastronômica. Teque em latim significa lugar. Com a ideia de ser “o lugar”, surgiu o nome Oteque. E merece seu nome de batismo de “o” lugar. O ambiente impressiona, ao cruzar a pequena porta de entrada de um casarão histórico de 1938, o visitante se depara com um amplo salão, cozinha aberta ao fundo e tubulação do ar à vista, dando uma ar de despojado. Mesas de madeira, taças e talheres sofisticados e uma boa carta de drinques mostram que o refinamento está nos detalhes. E na comida.

Nossa lista poderia seguir indefinidamente com sugestões para todos os gostos e bolsos: De opções mais finas como as carnes do Tragga, aos populares como o Plebeu (point da turma jovem do teatro), o veterano Aurora e seu incrível arroz de polvo, as porções generosas da Caravela do Visconde, ou mesmo os restaurantes da Cobal do Humaitá, entre vários outros. Ao contrário do que brincava Miguel Falabella anos atrás, dizendo que Botafogo não era um bairro, mas passagem, o jogo virou. E a região hoje em dia é um dos melhores lugares para se estar no Rio.