POR CHICO JÚNIOR
Você vai ao mercado, ou pede pelo delivery, e compra um pote da sua conserva preferida, ou geleia, ou compota, ou aquele molho especial, ou um doce. Ou compra movida(o) pela curiosidade de conhecer um produto do qual você já tinha ouvido falar bem.
E nem imagina que o conteúdo de muitos desses potes começou a ser preparado da maneira mais artesanal possível, dentro de casa, ou como experiência em um restaurante. E o que começou de maneira tímida, experimental, hoje é produzido em pequenas agroindústrias espalhadas pelo Estado do Rio.
Arte em Conservas
Esse é o caso, por exemplo, da Arte em Conservas, de Cristina Salles e Flávia Guedes, instalada no Vale das Videiras, no distrito petropolitano de Araras. Autodidata na cozinha, a formação profissional de Cristina Salles foi a moda, mercado em que atuou por 15 anos. Mas, desde jovem, a cozinha esteve presente em sua vida. “Sempre gostei; ainda jovem gostava de uma alimentação mais saudável; então, ia criando meus pratos e fazendo minhas experiências”, diz.
“Assim, quando decidi não trabalhar mais com moda, entrei para o ramo da gastronomia; aos poucos fui descobrindo mais sabores e resolvi desenvolver minhas conservas”.
Até que abriu um restaurante em Copacabana, onde as conservas que criava faziam sucesso.
Mas há 14 anos, em busca de uma melhor qualidade de vida, Cristina resolveu se mudar de mala e cuia para o Vale das Videiras. Na bagagem, as receitas das conservas que produzia no Rio. Nascia, assim, a Arte em Conservas, que hoje produz cerca de 30 produtos e está instalada em uma chácara de dois mil metros quadrados, onde produz geleias, conservas, chutneys e azeites aromatizados feitos com ingredientes colhidos da sua horta própria. Sua linha de conservas feitas com berinjela é o carro-chefe, com diferentes tipos, como a italiana e a marroquina, além das minis recheadas com nozes e alho embebidas em azeite.
Armazém Sustentável
O Armazém Sustentável, referência em produtos orgânicos manufaturados no estado, surgiu há 12 anos no Brejal, também em Petrópolis, onde o chef Gustavo Aronovick tinha um sítio e fazia uma especialíssima conserva de berinjelas orgânicas, antepasto que oferecia a amigos que o visitavam na Serra. Na Semana Santa de 2010, os organizadores do primeiro festival de gastronomia do Brejal pediram que Gustavo apresentasse no evento a sua já então bem falada conserva.
“Como eu chefiava a cozinha de um restaurante em Búzios, e não podia deixar a casa no maior feriado do ano do lugar, resolvi deixar pronta uma caixa da conservas para o festival. Luiz Henrique, que viria no futuro a ser meu sócio, levou a caixa para degustação e vendas no evento e os 24 potes produzidos foram todos vendidos”, diz Gustavo. Estava, assim, criado o Armazém Sustentável e seu primeiro produto: a Conserva Orgânica de Berinjela.
“Hoje temos 19 produtos (geleias e conservas de frutas e vegetais), sendo 15 deles orgânicos, feitos na nossa unidade de produção no Brejal. Ainda comercializamos e distribuímos, com marca própria, fabricados por terceiros, uma linha com cinco rótulos de molhos de tomate, mel, calda doce de arroz e vinagre de caldo de cana, todos orgânicos, além de três sabores de Atum em Azeite de Oliva Extra Virgem.”
Vale do Formoso
Quando era estudante de gastronomia, o hoje empresário e chef de cozinha Ronaldo Canha descobriu uma forma de ganhar um dinheiro para o seu sustento: uma compota utilizando tomates secos (na realidade, semidesidratados), “um produto que pudesse ser de fácil preparo e conseguisse ter qualidade em sabor.”
Da preparação caseira para a pequena fábrica no bairro carioca de Benfica, nasceu a Vale do Formoso, hoje produzindo seis itens, entre antepastos e molhos. Para Ronaldo, o segredo dos seus produtos é considerar “o valor da qualidade, do carinho e da simplicidade na hora de oferecer um alimento para o consumidor.”
“Nossos produtos são feitos sem nenhum aditivo ou conservante de espécie alguma, diz.
Ronaldo explica que os insumos usados na produção de suas conservas são adquiridos diretamente do produtor e selecionados manualmente.
Sítio Humaytá
Há pouco mais de 30 anos, as irmãs – Carmen e Rita – do arqueólogo gaúcho José (Zé) Adolfo Pompermaier foram visitá-lo no sítio mantido por ele e pelo engenheiro e economista Gilson Gomes, no distrito petropolitano de Secretário. As duas acharam um desperdício que as árvores do sítio – laranjas, goiabas, figos, bananas – dessem tantas frutas não aproveitadas no local.
Zé Adolfo – e Gilson – se dedicava à criação de cabras e à produção de leite e derivados, o que não lhe dava muito tempo para se dedicar ao seu maior prazer: cozinhar.
Carmen e Rita, então, foram para a cozinha e produziram algumas compotas e geleias, colocadas em vidros simples, que já existiam na casa. Os potes ganharam as prateleiras de algumas lojinhas locais e rapidamente, sumiram delas. Assim, nascia a Delícias Artesanais de Secretário, o Sítio Humaytá.
Em pouco mais de três décadas, o Sitio Humaytá cresceu, desenvolveu uma série de produtos e hoje produz mais de 50 tipos de compotas, doces, geleias, chutneys, antepastos, molhos e conservas.
Pessoalmente, Zé desenvolve os produtos, pilota o fogão e divide a cozinha com uma equipe de oito funcionários.
No caso dos doces, um detalhe: todos têm até 70% de açúcar a menos do que os produtos normais.
