Por Jan Theophilo
Após quatro anos de obras, que desenterraram dezenas de achados arqueológicos, símbolos da passagem da família real portuguesa pelo Rio de Janeiro, o prédio de três andares do antigo Convento do Carmo, localizado no cruzamento das ruas Primeiro de Março e Sete de Setembro, foi inaugurado como o mais novo centro cultural da cidade. Mas a recuperação do imóvel, bancada pela Procuradoria-Geral do Estado ao custo de R$ 30 milhões, está inserida em um processo mais amplo, o de recuperar aquela que por 200 anos foi a região onde foram tomadas algumas das mais importantes decisões, não só do Brasil, mas também do antigo império ultramarino português: o Largo do Terreiro da Polé, ou Praça do Carmo; ou Terreiro do Paço, ou para os mais íntimos Praça XV de Novembro _ uma região hoje degradada, abarrotada de edifícios de significativo valor histórico ou cultural: só uma lista com o nome de todos eles ocuparia o espaço desta reportagem. Construído em 1620, o Convento do Carmo, um dos prédios mais antigos do Rio, passou aproximadamente 100 anos cedido à Universidade Cândido Mendes e depois ficou inoperante. Em 2017, porém, a Procuradoria-Geral do Estado decidiu recuperá-lo por meio de recursos próprios e investiu R$ 30 milhões para adaptar no local bibliotecas, salas de aulas e exposição e um restaurante.
Durante a passagem da Corte Portuguesa que fugira da invasão napoleônica, o local foi residência da rainha Maria I, aquela que no Brasil é conhecida como “a louca”, em decorrência de uma severa depressão que a acometeu após a morte do marido e do filho primogênito_ o que a levava a ter surtos onde saía correndo e gritando pelos corredores. Curiosamente, em Portugal, Dona Maria é conhecida pela alcunha “a Piedosa”, por ter anistiado todos os envolvidos na Conjuração dos Pintos, um movimento pela independência de Goa, na índia, em vários aspectos semelhante à Conjuração Mineira.
Após a sua abertura, o novo centro cultural logo aderiu ao Programa “Caminhos do Brasil Memória: Centro Histórico Praça XV”, que articula outros 13 equipamentos culturais da região e se propõe a buscar soluções para recuperação da região, por meio de atividades em rede dos centros culturais e museus, como o CCBB ou a Casa França-Brasil, por exemplo. “Havia uma pauta comum de reivindicações como reforço na segurança, iluminação pública adequada e melhorias na acessibilidade e mobilidade urbana”, lembra o subdiretor-geral de Cultura da Alerj, Nelson Freitas. O programa reúne o Palácio Tiradentes, o Paço Imperial, o Museu Naval, o Museu da Justiça, o Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, o Centro Cultural dos Correios, o Centro Cultural Banco do Brasil, a Casa França Brasil, a Igreja de Santa Cruz dos Militares, o Museu Histórico Nacional, o Museu da Imagem e do Som, o Centro Cultural da Justiça Eleitoral e o Centro Cultural do Convento do Carmo.
Quando o projeto começou a ser trabalhado, em abril de 2019, o grande destaque foi o lançamento de um passaporte, que garantia a gratuidade na entrada dos museus do Centro Histórico Praça XV. Para cada equipamento visitado, havia um carimbo exclusivo em estilo retrô. Além disso, foi viabilizado o desconto de 45% no Edifício Garagem Menezes Cortes aos fins de semana e, uma vez que todos os espaços fossem visitados, o portador ganhava 50% de desconto no Aquário Marítimo do Rio de Janeiro (AquaRio) e a gratuidade de uma experiência no Espaço Cultural da Marinha.
“Assim que vi o passaporte pela primeira vez, percebi que havia ali um absurdo estudo de público”, diz a museóloga Fabiana Carnevale, que dedicou sua dissertação de mestrado na FGV ao Programa. “Ele é nominal, ou seja, basta anotar em cada equipamento o nome da pessoa na hora do carimbo. Desse modo, a gente tem o check in do João, que no dia tal esteve no Paço ou no CCBB. Ou da Maria, que foi ao Centro Cultural dos Correios e à Casa França-Brasil. Cruzando as informações a gente pode começar a entender quais são os equipamentos mais, os menos visitados e o porquê. Ele pode nos dar mais subsídios e respostas do que ser apenas um souvenir”, diz ela.
O projeto recebeu apoio das mais diversas instituições no âmbito municipal, estadual e federal. E, antes da pandemia, uma reivindicação dos gestores dos equipamentos, foi apresentada à Polícia Militar pelo presidente da ALERJ, deputado André Ceciliano, e plenamente atendida. Em dezembro foi criado um projeto especial de patrulhamento da área, com mais 20 policiais somados a cinco viaturas do 5º Batalhão da PM, para ficar de prontidão em pontos estratégicos, reforçando o efetivo do Centro Presente e da Guarda Municipal. Quase oito mil passaportes foram distribuídos antes da decretação de medidas de distanciamento social.
A suspensão forçada do projeto adiou parcerias importantes, que envolviam a abertura de mais bares e restaurantes da região aos fins de semana e novas ações de zeladoria. Há também um projeto de criar um parque de skate perto do Museu da Imagem e do Som, retirando os praticantes deste esporte do meio do caminho do povo que vai e vem das barcas. O antigo anexo da Alerj, para tristeza de muitos, foi cedido à Secretaria estadual de Planejamento e por enquanto não se ouve falar na demolição daquela monstruosidade.
Mas acabou que o rei Momo deu uma forcinha para o projeto engrenar novamente. No carnaval de fevereiro, que oficialmente não existiu, milhares de foliões desfilaram pela Praça XV, deixando um verdadeiro rastro de destruição pelo caminho. Conseguiram abrir um buraco no calçamento histórico do Paço Imperial, picharam diversos prédios e destruíram detalhes como dedos das estátuas do Palácio Tiradentes _ que está fechado para reformas que o adaptarão como mais um equipamento cultural na região. Com receio de que novas depredações ocorressem no carnaval de abril, foram realizadas diversas reuniões com órgãos do estado e Prefeitura, visando a aproximação dos entes públicos e melhorias na região. Os planos deram certo durante a folia, e prometem se estender agora, de forma permanente.
Indagada sobre se já é possível afirmar se o programa da Praça XV deu certo ou não, a museóloga da FGV é taxativa. “Agora os gestores dos equipamentos culturais estão pensando na maneira do seu território e não da sua realidade intramuros. Isso é a maior prova que já funcionou”, diz Fabiane.
O TRAMBOLHO
Na manhã do último primeiro de março, aniversário de 457 anos do Rio, os cariocas foram surpreendidos por um vídeo postado pelo prefeito Eduardo Paes em suas redes sociais, pedindo ao presidente da Alerj, deputado André Ceciliano, e ao governador Cláudio Castro, um “presente especial para a cidade”: a implosão do prédio que abrigou os gabinetes dos deputados estaduais, conhecido como “o anexo da ALERJ”. Segundo ele, o edifício seria um “trambolho” e sua presença prejudica a vista da região, que conta com o Paço imperial, o Chafariz do Mestre Valentim e o Palácio Tiradentes como vizinhos. A Prefeitura arcaria com os custos da operação.
Oficialmente chamado Palácio 23 de julho, o prédio que o alcaide sonha implodir era a antiga sede do Ministério dos Transportes. Em 1975, um ano após a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, ele foi cedido para a ALERJ. De lá para cá, suas excelências fizeram tantas alterações nos gabinetes como puxadinhos, instalações elétricas (e até cozinhas!) ao arrepio do bom senso dos engenheiros, que muitos acham que o velho anexo não tem mesmo salvação.
Mas o prédio tem seus defensores. O deputado Márcio Canella (MDB), exige a implantação no local do Hospital do Olho, conforme a Lei nº 9107/2020, uma iniciativa dele e dos deputados André Ceciliano (PT) e Rosenverg Reis (MDB), que trata sobre a implantação do hospital no prédio. Até o fechamento desta edição, o governador Claudio Castro ainda não havia tomado uma decisão sobre o futuro do anexo.
OS POINTS MAIS IMPORTANTES DA PRAÇA XV
No começo, o Rio era um castelo. Ou melhor, um morro que tinha esse nome e era cercado de muralhas e fortificações. Mas o Morro do Castelo não demorou a ficar saturado de moradores, o que levou os comerciantes mais prósperos da cidade a se mudar para mais perto do cais do porto, na região que todos os cariocas hoje conhecem como a Praça XV.
No exato ponto onde hoje está o Palácio Tiradentes, existiu durante anos a Casa de Câmara e Cadeia. Estrutura administrativa típica adotada pelos portugueses em suas colônias, costumava ser um casarão de dois ou três andares. No nível inferior, ficava a cadeia. No superior, a câmara dos vereadores, gabinete do alcaide e o cofre com todo o dinheiro da cidade, chamado “burra”. Por segurança, ele tinha três chaves sendo que cada uma ficava com um vereador diferente. Gaiatos como sempre, os cariocas dos tempos coloniais diziam que era muito comum alguém do “andar de cima”, vir parar no “andar de baixo” – ou muitas vezes ao contrário. Dando origem a uma expressão popular até os dias de hoje.
1. Palácio Tiradentes — Teve sua construção iniciada em 1922 e foi inaugurado em 1926. Mais do que a sede do Congresso Nacional, ele foi projetado para servir como símbolo dos melhores anseios da jovem República. Até a mudança da capital para Brasília, todos os presidentes tomaram posse ali, e saudavam o povo das sacadas do segundo andar. Até o ano passado funcionou como sede da Assembleia Legislativa do Rio. Hoje passa por reformas para reabrir com um novo museu: a Casa da Democracia.
2.Monumento ao General Osório — A estátua equestre no meio da praça foi construída em 1894 para homenagear os feitos do militar na Guerra do Paraguai. No local, antes, ficava um belíssimo chafariz de pedra, projetado pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny, que hoje encontra-se na Praça Afonso Vizeu, no Alto da Boavista.
3. Chafariz do Mestre Valentim — Construído pelo Mestre Valentim da Fonseca e Silva na beira do cais em 1779, foi por onde desembarcou a família real portuguesa ao chegar ao Rio. A obra tem a forma de uma torre. Em cima, uma pequena pirâmide em granito. No alto, há um globo terrestre representado por paralelos e meridianos, que significavam o poder de Portugal pelo mundo.
4. Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé — Foi palco de alguns dos mais importantes momentos da história do Brasil, como a coroação de Dom Pedro I e Dom Pedro II e o casamento da Princesa Isabel. Escavações realizadas em 2008 revelaram vestígios de mangue, o que indica que ela foi construída próxima da areia e voltada para o mar. Ou melhor, como mandava a tradição na época, voltada para Portugal.
5. Paço Imperial — Inaugurado em 1743 para ser a residência dos governadores e depois dos vice-reis, é considerado o mais importante dos edifícios civis coloniais do Brasil. Foi lá que D Pedro I anunciou sua decisão de ficar no Brasil e aonde a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Atravessou anos de decadência no século XX quando foi transformado em Agência Central dos Correios, mas foi restaurado em 1982.
6. Tabacaria Africana — Segunda casa comercial mais antiga do Rio e a primeira tabacaria do Brasil, foi fundada em 1846. Nos tempos do império, o próprio D Pedro II era um frequentador habitual. Já na época republicana, Getúlio Vargas ia semanalmente buscar seus charutos feitos na Bahia especialmente para ele, e Juscelino Kubitschek sempre lá deixava seus isqueiros para consertar.
7. Museu Naval — Funcionando desde 1972 em um prédio centenário, o Museu faz parte do Complexo Cultural da Marinha, que engloba, além dele, a Ilha Fiscal, o Espaço Cultural da Marinha — com seus navios-museus, a Biblioteca da Marinha e o Arquivo da Marinha. Seu acervo possui réplicas de embarcações, canhões de bronze e curiosidades como a espada que pertenceu ao almirante Tamandaré.
8. Estátua de João Cândido — Fundida em 2007, a homenagem a João Cândido Felisberto, o “Almirante Negro”, que liderou a Revolta da Chibata, em 1910, levou um ano até ser afixada em seu local atual por resistências da Marinha, que até hoje trata o herói como líder de um motim. “Não sei quantos brasileiros hoje teriam coragem de se rebelar contra seus comandantes”, afirmou o ex-presidente Lula, no ato de inauguração. João Cândido é reconhecido como herói da cidade e do estado do Rio de Janeiro. Mas as resistências entre as forças armadas impedem até hoje que seu nome conste no livro de ouro dos heróis do Brasil.
9. Monumento a D João VI— É uma das menos “badaladas” atrações da Praça XV. A estátua equestre de D João foi um presente de Portugal ao Rio de Janeiro, durante o aniversário de 400 anos da cidade. Uma curiosidade, é que na Praça Gonçalves Zarco, na cidade do Porto, em Portugal, existe uma réplica da estátua carioca.
10. Convento do Carmo — Sua construção teve início em 1619 por frades carmelitas e sofreu inúmeras reformas e adaptações ao longo dos anos. Durante o período em que o Rio foi sede do Império Ultramarino Português, era ligado por passadiços ao Paço Imperial e a antiga Casa de Câmara e Cadeia. A rainha Dona Maria, viveu lá seus últimos oito anos de vida.
11. Igreja de São José — Ela começou com uma pequena ermida em 1608, até que uma reforma iniciada em 1807, lhe deu o formato que tem hoje. De estilo barroco tardio, a Igreja possui uma nave única e corredores laterais onde se localizam um púlpito e três tribunas. O interior é decorado com talha de estilo rococó de autoria de Simeão de Nazaré, discípulo do Mestre Valentim. Uma curiosidade: é a igreja que possui o conjunto de sinos mais potentes da cidade.
A história da bruxa do Arco do Teles
Última peça sobrevivente de um antigo sobrado para ricaços erguido no século XVIII, o Arco do Teles guarda mais histórias e mistérios que a turma animada que costuma encerrar o expediente nos bares que funcionam ao seu redor, mal poderia supor. Há histórias para todos os gostos: desde o caso do sumiço dos primeiros documentos oficiais da cidade, até mesmo causos curiosos, como a da existência de uma bruxa sanguinária que, até hoje, ainda assombraria o local.
Tudo começou em 1743, logo após a construção da Casa dos Governadores (atual Paço Imperial), quando a região da Praça XV começou a tomar do Morro do Castelo o posto de área mais próspera e importante da cidade. Astuto, o juiz português Antônio Telles Barreto de Menezes, comprou alguns terrenos por ali e resolver construir um enorme casarão.
Seu objetivo era alugar imóveis para os comerciantes de classe média que começavam a ocupar o próspero entorno do largo. Uma espécie de Reviver Centro com um século de antecedência. Só que o projeto tinha um problema: a construção bloquearia o acesso do novo centro comercial ao mercado de peixes. A solução proposta pelo engenheiro José Alpin foi abrir um arco para permitir a passagem do Largo para a Travessa do Comércio.
Nos anos 1790, a antiga Casa de Câmara e Cadeia (sede da administração colonial) precisou passar por uma reforma e transferiu para um dos imóveis do casarão dos Telles de Menezes toda a documentação referente aos primórdios da cidade. Isso incluía todos os registros de imóveis e cobrança de foros (um tributo semelhante ao nosso atual IPTU). Até que, certa madrugada, um misterioso incêndio começou em uma loja de objetos usados chamada “O caga negócios” e se alastrou pelo casario, destruindo todo o prédio e a papelada. Do edifício sobrou apenas o que passou a ser conhecido como o Arco do Teles.
Naquele mesmo ano, desembarcou no Rio o casal Antônio de Urpia, um fidalgo português, e sua belíssima esposa, Bárbara, de apenas 20 anos. Há duas versões para a vinda deles ao Rio. E nenhuma é boa. Na primeira, Bárbara teria envenenado a própria irmã em Portugal e fugido para a colônia. Na segunda, ele teria tido uma relação extraconjugal (e aprovada pelo marido), com um nobre português de altíssimo escalão que teria enviado o casal ao Brasil a mando de autoridades ainda mais importantes para abafar o escândalo.
A beleza estonteante de Barbara chamou atenção da sociedade carioca de então e abriu portas para o casal na corte do vice-rei, o Conde de Resende. Mas apesar de ter todos os homens da cidade aos seus pés, ele foi se apaixonar por um negro liberto, que conheceu durante uma serenata. Cega de amor pelo ex-escravo, ela matou o marido com uma facada na nunca enquanto ele dormia. O assassinato a fez cair em desgraça, mas ela não foi presa, e precisou mudar-se com o amante para a então má-afamada região da Cidade Nova. Uma noite, durante uma discussão financeira, Bárbara matou seu segundo companheiro. Mas, supreendentemente, escapou novamente da Justiça.
A viçosa viúva, sem eira nem beira ou tostão no bolso, precisou então recorrer à prostituição e passou a bater ponto exatamente no Arco do Teles. No início atendia nobres e até bispos. Mas com o passar do tempo contraiu doenças como sífilis e lepra. Na busca da saúde, juventude e beleza perdidas, ela passou a recorrer à Magia Negra. E por sugestão de um feiticeiro passou a tomar banhos com sangue fervido de animais a fim de curar sua lepra. Mas nada parecia funcionar. Foi então que outro bruxo lhe sugeriu algo que seria supostamente infalível: em vez de animais, Bárbara deveria usar crianças para banhar-se em seu sangue ainda fresco e morno. Em 1828, o município passou a registrar uma série de desaparecimentos de crianças, cujos corpos nunca eram descobertos. O pânico se instalou na cidade. As crianças foram proibidas de brincar desacompanhadas e muitas famílias passar a trancar seus filhos em casa com medo da “Bruxa”. Segundo alguns linguistas foi justamente nessa época que teria surgido a famosa expressão: “cuidado que a bruxa está solta!”.
Pelos relatos dos jornais de então, Bárbara teria passado então a roubar recém-nascidos na “roda dos enjeitados” da Santa Casa de Misericórdia, uma portinhola giratória usada para que os frutos de partos indesejados pudessem ser deixados ao cuidado das freiras. O abandono de bebês na Santa Casa diminuíra drasticamente, o que logo se associou à crueldade da “bruxa”. Dizem que Bárbara pendurava as crianças pelos pés com uma corda, as esfaqueava e ficava embaixo delas para banhar-se no sangue. Em 1830 Bárbara desapareceu e o sumiço das crianças cessou. Logo em seguida um corpo de mulher apareceu boiando no mar em frente à Praça XV. E embora o rosto estivesse desfigurado e irreconhecível todos se convenceram que se tratava de Barbara.
Difícil saber ao certo o quanto dessa história efetivamente aconteceu e o quanto foi amplificado pelos cronistas da época e pela tradição oral da cidade. Mulheres que ousavam viver suas vidas sem marido, fora dos padrões, eram constantemente acusadas de bruxaria e, até mesmo, de crimes que eram cometidos por homens, muitas vezes da alta sociedade. O fato é que a lenda de Bárbara, conhecida como “Onça” ou “Bárbara dos Prazeres” sobrevive e, até hoje, há quem jure de pé junto que, no Arco do Teles, quando todo o comércio está fechado e não há mais o movimento de bares e boates, seria possível escutar as gargalhadas de uma mulher em noites sem luar.
No início do século XX a travessa e o arco voltaram a ser valorizados. Na década de 20, a família de Carmen Miranda morou durante seis anos no sobrado de número 13 da Travessa do Comércio, onde a mãe dela vendia comida. Já no século XXI, o Arco do teles tornou-se referência por sua vida noturna, sejam os happy hours nos diversos bares e botecos da Rua do Ouvidor, pelas festas nos casarões da Travessa do Comércio, sambas e eventos noturnos.