Cariocas não gostam de dias nublados. Você sabe. E a previsão para o fim de semana é até de algum calor, mas pouco sol. Ou seja, ideal para conhecer a mais nova sensação da cidade, recém-inaugurada. Depois de beijar a lona com as operações da rede Porcão, Neodi Mocellin voltou no sapatinho e deu a volta por cima com duas churrascarias que levam o tradicional nome da família: a Mocellin Steakhouse, com endereços na Barra (Av. Armando Lombardi, 1010) e Niterói (Av. Quintino Bocaiúva, 151). Mas na semana passada, ele apresentou uma novidade. Bem ao lado do Quebra-Mar da Barra surgiu a Mocellin Pescados (Av. Do Pepê 32, Quebra-Mar, Barra), casa que vem com o selo de qualidade da família e tem tudo para ser uma das sensações do outono.
Em um post passado, comentamos como uma cidade praiana como o Rio tinha comparativamente tão poucas opções de restaurantes especializados em frutos de mar. Peraí, dirão alguns, temos casas tradicionais, como o Shirley, o Berbigão, as Tias de Guaratiba ou mesmo o Satyricon, para paladares mais sofisticados. Mas a abertura de restaurantes como o Escama, do chef Ricardo Lapeyre, o Proa, da querida chef Jojo, o Sabor das Águas, do churrasqueiro e pescador Marcelo Malta, e o Ocyá, na Ilha Primeira, na Barra, elevaram o sarrafo da categoria.
Além do espaçoso restaurante, que terá sushi bar no segundo piso, o Mocellin Pescados espalhou mesas e cadeiras do outro lado da rua, junto ao Quebra-Mar, Ali vai funcionar um bar de ostras. Corre o boato que partiu da própria Prefeitura o incentivo para que a casa ocupasse o espaço para valorizar a área, um ponto badalado da praia, mas que andava meio decadente.
De entrada, delícias como o pastel de lagosta com creme, camarões empanados no coco ou ajillo e as indefectíveis casquinhas de siri. Mas, como prato principal, a dica é uma chapa fumegante de lagostins, camarões, cherne e salmão, dourados na churrasqueira com muito bom tempero. Dizem que é pra duas pessoas, mas serve três facilmente se a turma se distrair com alguns dos belisquetes da entrada.
Mas, se você não estiver num mood de pescados e preferir uma alternativa mais confortável, a Casa do Sardo (Rua São Cristóvão 405, São Cristóvão. Tel.: 3042-8049) está com uma novidade piemontesa que cala fundo no coração gastronômico dos brasileiros. É o Brasato al vino, um filé de maminha tenro e saboroso, acompanhado por uma porção de nhoque. Lembra da famosa cena do severo crítico de gastronomia provando um ratatouille no filme homônimo e tendo uma epifania? Pois prepare-se para ter uma experiência semelhante quando, na primeira garfada, vierem lembranças de antigos botequins ou mesmo do almoço de domingo na casa da vovó.
Para variar um pouco, outra dica certeira e tradicional é o Arataca (vários endereços), especializado em culinária amazônica. Fundado em 1955 pelo piloto da Vasp Acir Rodrigues que de tanto voar para Belém, acabou tomando gosto pela cozinha local. Ele passou a voltar das viagens sempre abarrotado de ingredientes na bagagem, que comprava no conhecido mercado Ver-o-Peso. A primeira casa que ele abriu foi na Dias Ferreira, no Leblon, bairro que também foi endereço da segunda unidade da rede. Depois veio a loja só de produtos em Copacabana, em um estilo informal, mais para boteco. Um pouco mais adiante, um golaço do ex-piloto levou o Arataca para dentro da Cobal do Leblon.
Nos anos 1980 e 1990, o simplório box do mercado acabou virando palco de encontros antológicos. No mesão montado em frente a loja, podiam ser vistos Tom Jobim, Hugo Carvana, João Ubaldo, Luis Fernando Veríssimo. “O meu avô vibrava com esses encontros, porque era a casa que ele sonhava em ter. E tendo do jeito que ele imaginou”, contou ao jornal O GLOBO Lucas Muradas, 26 anos, que juntamente com o irmão Mateus, de 25, e mais o amigo de infância Mateus Soter, da mesma idade, acabaram de abrir o mais novo Arataca, o da João Lira, no Leblon. Em meados do ano passado, abriram na Lopes Quintas.
Das cozinhas sempre nas mãos de cozinheiras paraenses, saem pratos como costela de tambaqui com arroz de jambu; moqueca de filhote com camarão, pato ao tucupi com arroz de jambu; e wagyu de carne de sol com mandioca. E casquinhas de caranguejo com farofa de santarém ou bolinhos de pirarucu de entradinhas são sucesso. Além dos potes do mais puro açaí que chegam fresquinhos. As frutas estão todas lá, em drinques, sucos e doces: graviola, bacuri, biribá, buriti, cupuaçu… “Os nossos fornecedores também estão na terceira geração. São as mesmas famílias que o meu avô trabalhava lá no começo de tudo”, conta Mateus, adiantando que se prepara para mais um voo, dessa vez para a Cobal do Humaitá.
E o Lasai, de Rafa Costa e Silva e Malena Cardiel, fechou as portas do simpático sobrado na Conde de Irajá, em Botafogo e mudou-se para o número 35 do Largo dos Leões, endereço onde funcionou a saudosa Osteria Policarpo. O Lasai agora trabalha em uma versão pocket, servindo apenas oito pessoas por noite. Nesse modelo mais intimista, com projeto dos arquitetos Joyce Camillo e Leonardo Jara, há apenas uma bancada em que o cliente fica quase dentro da cozinha.
O que existe de mais moderno em termos de equipamentos, técnicas e serviços do universo gastronômico está no novo espaço. Louças da Revol Porcelaine recicladas, fogões, fornos, grelhas, geladeiras, armários de vácuo e máquinas de café da tecnológica e perfeccionista alemã Miele, copos Riedel e talheres Arthur Hupp.
O restaurante permanece fiel à proposta de desenvolver novos traços da identidade da gastronomia brasileira, com ingredientes locais e sustentáveis. Rafa valoriza o conceito que prega a integração entre o produtor e o cozinheiro, o resgate do sabor verdadeiro dos alimentos, a criatividade somada à inovação técnica e à sustentabilidade. Grande parte dos ingredientes é fornecida pela horta do próprio Lasai, localizada no Vale das Videiras, interior do Rio, e por produtores com práticas sustentáveis, incluindo pescadores e criadores.