POR RICARDO BRUNO E WASHINGTON QUAQUÁ
O prefeito do Rio não vai disputar nenhum cargo eletivo este ano, mas há muito tempo não se via um não-candidato com tantos candidatos. Eduardo Paes decidiu que vai ser um dos principais “eleitores” do estado. E já tem uma chapa dos sonhos completa. Vai jogar todo o seu prestígio para eleger seu colega de partido, Felipe Santa Cruz governador do Rio de Janeiro; seu aliado pedetista Rodrigo Neves vice-governador, podendo trocar de posição com Felipe, se for o caso; e acrescenta que acharia uma ótima ideia que o presidente da Alerj, André Ceciliano, integrasse esta lista como candidato ao Senado indicado pelo PT. “Faria campanha pelo André feliz da vida”, empolga-se diante da especulação, que no momento não passa disso, uma hipótese que o agradaria muito. Para presidente da República, ele não tem dúvida: no segundo turno seu voto é de Lula, e seria no primeiro turno, se o PT não tivesse manifestado até agora preferência por Marcelo Freixo para governador do estado. Paes opina que Freixo, de quem gosta pessoalmente e com quem se relaciona muito bem, não terá voto suficiente para vencer Cláudio Castro, o atual governador, que ele acha que estará no segundo turno.
Quando se pergunta ao prefeito qual é a relação dele com o presidente Bolsonaro, a resposta é seca e lacônica: “Não tenho relação”. Quanto ao governador do estado, o tom é completamente diferente. Paes é todo elogios a Claudio Castro, a quem chama de parceiro.
Nesta entrevista a Ricardo Bruno e Washington Quaquá, o prefeito do Rio informa que deseja devolver o sistema BRT à iniciativa privada, mas desconfia que não aparecerão operadores qualificados e adianta que, neste caso, manterá a encampação, decretada recentemente, incorporando a empresa a uma estatal chamada MobiRio. Arrisca um pouco mais e admite a possibilidade, que espera ser remota: “se for necessário, a MobiRio vai assumir o sistema de ônibus todo”.
Ricardo Bruno – Prefeito, você tem dito que a prefeitura está bem, com a casa em ordem, situação tranquila, que independe de apoios do estado ou federal. Traduza isto do ponto de vista prático?
Washington Quaquá – A prefeitura do Rio não estava quebrada?
Eduardo Paes – Estava… Mas agora a prefeitura do Rio tem uma situação muito boa, sob o ponto de vista estrutural. Ela tem uma dívida uma dívida baixa, sempre teve uma situação de pessoal sob controle. Se a situação do país melhora, a prefeitura melhora; se a situação do país piora, a da prefeitura piora. Mas se olhar pros governos, todos – Marcelo, Cesar, Conde, Cesar de novo e os meus dois governos, é possível dizer que a prefeitura sempre foi uma espécie de boia de salvação para os cariocas. O estado quebrava, mas a prefeitura estava lá…
Ricardo Bruno – Inclusive você ajudou, na época da crise do Pezão com o estado…
Eduardo Paes – Sim, assumi dois hospitais, emprestei dinheiro. E a gente já viu o Cesar Maia emprestando dinheiro pro Brizola e pro Marcelo Alencar. O Crivella conseguiu, na sua incompetência, inverter isso, apesar de ter feito aumento de IPTU. Um aumento efetivo, que inclusive prejudicou muito o pessoal da Zona Oeste e da Zona Norte. O que eu digo é que a prefeitura do é autossustentável, a gente consegue ajeitar a situação muito rapidamente. Pegamos um déficit de duas folhas de salário atrasadas, precatórios não tinham sido pagos, e a prefeitura do Rio sempre pagava seus precatórios em dia. Somando tudo, bota aí uns R$ 6 bilhões de restos a pagar, incluindo dois salários, que era o principal. Nós reajustamos, pagamos o salário de todo mundo, o 13º no mês de dezembro, pagamos os precatórios e já em junho estávamos no azul. É gestão, de verdade. Não tem milagre. Aliás, reduzimos o IPTU de 60 mil domicílios na cidade.
Ricardo Bruno – Este azul não é por causa do dinheiro da Cedae?
Eduardo Paes – Não. A Cedae é o que a gente chama brincando de azul ‘plus a mais’. É a cereja do bolo. Sem Cedae, a gente estaria no azul de qualquer maneira, com um belo superávit. Mas eu diria que a Cedae representa 30% deste azul. Ajudou muito, claro.
Ricardo Bruno – Quanto você já recebeu destes recursos da Cedae?
Eduardo Paes – Em torno de R$ 5 bilhões.
Ricardo Bruno – E quanto ainda vai receber?
Eduardo Paes– Devemos ter uns R$ 3 bilhões para receber. Então o que houve foi ajuste da gestão, arrumação da casa, aumento de arrecadação sem aumentar imposto. Enfim, fazer com que a cidade recupere credibilidade.
Ricardo Bruno – Nas administrações anteriores, na mobilidade urbana você fez uma transformação enorme. Isto ficou muito claro. Agora, no azul, qual é a marca que você vai deixar?
Eduardo Paes– Primeiro, tem uma coisa: estes sistemas todos que foram implementados, com inspiração nas Olimpíadas, que foram o argumento para que nós fizéssemos tantas intervenções de infraestrutura na cidade, eles nunca funcionaram na sua plenitude. O terceiro BRT ficou pronto no final de 2016. A ampliação do metrô, obra do estado, também ficou pronta em 2016. E para completar, o prefeito anterior deixou que as coisas se desmanchassem. Então, este meu governo tem uma característica que é um pouco déjà-vu. Aquela coisa de dizer o seguinte: olha, você tinha como meta em 2016 chegar a 70% da população carioca com atenção básica de saúde, programa de saúde da família e com as clínicas da família. Conseguimos atingir esta meta. Quando a gente assume, porém, tinha caído para 38%. Com isso, a nossa meta para 2024 passa a ser a mesma meta para 2016. Quanto ao BRT, a nossa meta é concluir a Transbrasil e recuperar aquilo que foi destruído. Então eu diria o seguinte: é um governo que deve botar a cidade pra funcionar. Eu diria que a minha cota de viadutos implodidos e tuneis construídos já foi dada.
Ricardo Bruno – Esta encampação do BRT que você fez agora é provisória. Você tem um perfil de centro, mas fez uma encampação da iniciativa privada de parte do transporte da cidade. Tem uma simbologia também ideológica ou é só decisão administrativa?
Eduardo Paes – É sempre melhor quando você consegue ter a possibilidade de trabalhar com concessão. Eu tenho problema zero com concessão, com privatização e com PPP. Mas tem momentos em que o sistema não tá funcionando. Neste caso, é papel do estado intervir e fazer com que a população receba um serviço bem prestado.
Ricardo Bruno – Houve negligência na operação ou…
Eduardo Paes– Há uma soma de vários fatores. Tem negligência, tem incompetência de empresários que são pré-capitalistas, e em geral é assim no sistema de ônibus em todo o Brasil. Isto tudo somado a absurdos, tendo um congelamento da tarifa que seria um subsidio da prefeitura há quatro anos. Aumenta o salário do motorista, aumenta o preço do óleo diesel, congela a tarifa, então tem um desequilíbrio. Mesmo que todos eles fossem a Madre Tereza de Calcutá, o que não é o caso, o sistema ficaria insustentável. A encampação do sistema de BRT é pra que ele funcione. O meu desejo é voltar a fazer uma concessão. Agora, se não aparecerem operadores qualificados… vou mudar todo o sistema de remuneração etc, mas se não aparecerem operadores qualificados, vamos manter uma empresa estatal chamada MobiRio, que vai tocar o sistema de BRT na cidade. E se for necessário, a MobiRio vai assumir o sistema de ônibus todo. O meu medo, nisso, não é o meu governo Eu sei que a gente vai botar gente qualificada, que vai tocar a empresa estatal com profissionalismo. Eu prefiro a concessão porque tenho medo em relação ao futuro. Acho que outro Crivella o Rio não aceita, mas vai que?
Washington Quaquá – Você acha que é possível caminhar na direção da tarifa zero, caso haja um entendimento nacional?
Eduardo Paes – Olha só, se a gente for olhar as grandes cidades do mundo, todas elas têm subsídios altíssimos pra tarifa de transportes. Paris, Nova York, Londres… é de 50% pra cima. Mas tem que ser uma política nacional. Não há condições de os municípios, na atual divisão do bolo federativo, assumirem isto sozinhos. Tarifa zero eu nem acho bom, mas ter uma tarifa baixa, módica, que possa ser garantido o direito ao transporte. Você pode ter corredores de tarifa zero. Pode identificar grupos sociais que receberão tarifa zero. Mas eu prefiro trabalhar com subsidio controlado do que com o estado tocando totalmente isso.
Washington Quaquá – A tua iniciativa pode ensejar uma discussão nacional sobre tarifa zero…
Eduardo Paes – Se você me perguntar hoje, olhando o mercado privado brasileiro e essa concessão do BRT que a gente vai colocar na rua em breve, nos próximos 30 dias, mas olhando o mercado que temos hoje no Brasil, a chance de a gente continuar com uma estatal é enorme.
Washington Quaquá – E tem um desemprego danado, também, né?
Eduardo Paes – Desemprego, sim, mas acho que não tem gente capaz, hoje, no Brasil, de tocar um sistema como este. Então eu acho que há uma chance enorme de continuar estatal. É aquela história eu prefiro conceder, em serviços que possam ser concedidos. Mas tem serviço que não dá. A minha empresa de lixo [Comlurb], por exemplo, é estatal e é uma empresa supereficiente. Tem funcionários celetistas, mas é uma empresa estatal, todos servidores públicos. Quanto ao BRT, eu diria que a chance é maior de uma licitação não ser bem sucedida e a gente ficar com uma estatal.
Ricardo Bruno – É por isso que você considera a possibilidade de expansão da MobiRio para todo o sistema de transporte coletivo? Há algum problema latente na relação da prefeitura com as demais empresas de transporte?
Eduardo Paes – Problema real. Eu uso o BRT como um laboratório de uma forma diferente de remuneração. Não quero mais remunerar pelo passageiro, quero remunerar pelo quilômetro rodado. Com subsídio, porque o Brasil de hoje exige que haja subsídio. Se isto funcionar aqui, vou tentar levar para o que a chama aqui de SPTO, que é o sistema normal, dos ônibus urbanos, que alimentam o BRT, que alimentam o trem, que alimentam o metrô. Quero levar esta forma de remuneração pra eles também. Mas se não funcionar pode ser que a gente chegue neste ponto [estatização geral]. Não é o meu desejo. Uma coisa é você trabalhar um sistema que tem 600 ônibus em corredores muito bem definidos, outra coisa é cuidar de 7 mil ônibus rodando por toda a cidade. É muita ‘rebimboca da parafuseta’ pra você licitar, pela lei 8666. Aí entram as dificuldades e as amarras de governo e de poder público.
Washington Quaquá – Você falou que uma das suas prioridades é urbanização de favelas, com folga de recursos pra investimentos. O que você está pensando para as favelas do Rio, que têm uma economia pujante, com gente criativa, muita cultura?
Eduardo Paes – Primeiro, têm aquelas funções que são essencialmente de governo. Nunca acredito em política pública factóide. Para mim, política pública é escala. Quando a gente fala de atenção básica de saúde, ou a gente atende 70% da população, que vai pegar todos os pobres e todos os remediados da cidade do Rio de Janeiro ou não vale a pena fazer. Quando se fala em educação significa a presença nossa em todas as áreas pobres da cidade, universalizando o acesso à educação com qualidade. Quando você fala de urbanização, é a gente conseguir continuar com o Morar Carioca, que é uma continuidade do Favela Bairro, com a mesma lógica. E a gente também encaminha para a urbanização total das favelas do Rio de Janeiro. Havia ali um planejamento, que até 2028 nós teríamos todas as favelas totalmente urbanizadas. Números atrasados, claro, porque passaram-se quatro anos sem qualquer tipo de urbanização. Em breve, a gente lança um Morar Carioca novo, com recursos próprios da prefeitura. Iniciaremos ainda neste primeiro semestre um novo programa, que é o Casa Carioca: pela primeira vez a gente entrará na casa das pessoas cuidando das condições mínimas de vida – sanitárias, de asseio, que as pessoas precisam ter. Estas são políticas públicas em escala.
Ricardo Bruno – Sobre a questão da fila do Sisreg. Ela é enorme ainda. Esta questão não está resolvida. Em quanto tempo você acha que vai resolver?
Eduardo Paes – Dezoito meses. Este é um problema que na verdade surgiu na minha administração. Por que? Porque na hora em que nós fizemos a atenção básica tão forte, chegamos com política pública de saúde pra todo mundo. Aí você começa a descobrir as doenças que as pessoas não sabiam que tinham. Aí cria um gargalo que já no final do meu governo anterior, a gente começava a perceber. Tanto que o Pedro Paulo, em 2016, prometia o que a gente chamava de super clínica da família, que eram as especialidades. Óbvio que isso não foi tratado no governo Crivella. E aí aumenta a fila do Sisreg. A gente já reduziu muito esse ano, mas precisa de um ano de mutirão. O problema é que tem que ter política pública continuada. Em março e abril eu inauguro o primeiro centro de especialidades. A prefeitura comprou um conjunto de prédios em Benfica. Ali nós vamos fazer um ‘hospital do olho’, copiando a ideia do meu amigo Washington Reis, de Caxias; vamos fazer uma hospital de imagem, que com uma nova parte de endoscopia e colonoscopia e coisas assim. Vai ser o primeiro centro de referência de especialidades da cidade. Além disso, nós vamos contratar no setor privado, pra que nesses próximos 18 meses a gente consiga zerar a fila do Sisgeg e que a partir daí a fila passe a andar de maneira adequada. Infelizmente não conseguiremos fazer em menos de 18 meses, e sei que isso é tempo demais pra quem está esperando. Tem gente esperando por uma cirurgia de uma hérnia já há dois anos. Vai ter que aguentar mais um tempo, mas é o que é possível fazer.
Ricardo Bruno – Na questão da ocupação do solo urbano, a gente sabe que as milícias ocupam uma parte do território do Rio. Como tem sido este confronto com tráfico e com milícias?
Eduardo Paes – A gente está agindo muito na questão da construção irregular. Eu faço este combate há 30 anos, desde quando era prefeito da Barra. Só que as forças progressistas de esquerda do Rio de Janeiro na época diziam que isso era gentrificação, que estavam querendo tirar a casa… só que desde então você tinha o que na época a gente chamava de grileiros, que em geral eram forças policiais faturando em cima da miséria. Tomaram e construíram em áreas nobres da Barra – aquela Vila Autódromo, Via Parque. Eram os pobres na frente e um monte de gente importante por trás. Mas nos últimos anos, com a graça do bom Deus, as pessoas entenderam que esses grileiros, e agora o nome que se dá é miliciano, continuam com sua mesma indústria, só que desta vez sem o apoio das forças progressistas do Rio de Janeiro. A gente sempre combateu e combate isso o tempo todo. A Zona Oeste e Jacarepaguá são regiões de maior expansão. Existe uma indústria imobiliária do tráfico de drogas, mas a da milícia é muito maior. A milícia é mais estruturada, mais organizada, mais capitalista, então ela se utiliza disso de maneira mais eficiente. A gente tá batendo nisso. Muito, muito, muito! Se você olha uma foto da Muzema em 2016 e olha uma foto da Muzema em 2020, verá que é um escândalo o que foi feito ali. Não é coisa de pobre. Ali tem um monte de gente com grana num mercado paralelo, que no geral tem forças milicianas envolvidas.
Washington Quaquá – E o Centro da cidade? Há novos investimentos sendo feitos, novos lançamentos imobiliários, mas o Centro está muito abandonado. O esvaziamento econômico prejudicou o Centro. São Paulo está até muito pior do que o Rio. Mas qual a política que você tem para o Centro do Rio?
Eduardo Paes – A gente lançou um programa chamado Reviver Centro, que é uma tentativa de fazer uma transição de um centro essencialmente comercial para um centro que tenha um uso misto. Isto é um esforço antigo de vários prefeitos, mas nós temos agora uma proposta muito ousada. Trocando em miúdos, é o seguinte: se o sujeito quiser pegar um prédio comercial do centro e transformar em residencial, terá todas as isenções possíveis e, de prêmio ainda ganha o direito de usar o potencial construtivo nas áreas mais nobres da cidade, como a Zona Sul. Foi uma forma de usar uma cenoura para atrair o mercado imobiliário. Neste início nós demos um presentão pro setor imobiliário, na expectativa de criar aqui uma nova economia. No Porto Maravilha temos este ano quase três mil unidades de lançamento. É claro que depende da economia brasileira. Com uma economia em dificuldades, é mais difícil ver o Centro crescendo. Tem que ser atrativo para o setor privado. Tem que ser algo como venha para o Centro porque aqui vocês vão ter um lucro maior que neste ou naquele lugar.
Ricardo Bruno – Como é a sua relação com Bolsonaro, do ponto de vista institucional?
Eduardo Paes – Não tenho relação.
Ricardo Bruno – O governo tem alguma parceria algum projeto…
Eduardo Paes – Não é minha essa característica. É uma característica do governo Bolsonaro, que é a seguinte: não tem visão federativa. Ponto. Qual é o programa que existe hoje no governo federal para prefeituras ou para governos estaduais? Eu desconheço. Em um ano e dois meses na prefeitura, fui uma vez apenas a Brasília, que foi no dia em que fui me filiar no PSD. Não tenho nada o que fazer em Brasília. Nos outros mandatos, no governo do Lula, no governo da Dilma e até do Temer, continuidade da Dilma em certos aspectos, a gente ia a Brasília pra buscar recursos. Tinha o PAC, programa de financiamento disso, programa de financiamento daquilo. Agora, não tem nada. Não é uma desavença política comigo. É um governo sem visão federativa. Centralizou tudo em Brasília, e centralizou não sei o quê, porque não conheço nenhum programa do governo federal. O que você tem hoje são os repasses constitucionais obrigatórios e, mesmo assim, na área de assistência social eles diminuíram absurdamente. A saúde continua normal, educação até melhorou com o Fundeb, pela mudança na legislação. Mas quando você olha pra programas do ministério da Ação Social, funcionava de um jeito que eu nunca tinha parado nem pra ver. Era tão automático que nunca me preocupei com isso. Agora tenho que botar mais recursos próprios na ação porque os recursos federais, obrigatórios, não vêm.
Washington Quaquá – E a relação com o governo do estado, com Cláudio Castro Ele acaba de lançar o programa Cidade Integrada. Tem sinergia com a prefeitura?
Eduardo Paes – O governador Cláudio Castro tem sido extremamente atencioso, zeloso, respeitador da cidade. Tem ajudado a cidade. A relação comigo é ótima. Tem sido parceiro nas ações e nós temos buscado retribuir da mesma maneira. Não tem nenhum problema, ao contrário. O governo do estado vive uma situação boa, ainda que possa ser conjuntural. Mas o governo do estado paga seus servidores em dia, tem os seus serviços funcionando e trabalha em parceria. No campo da segurança, tem aí uma segurança pública nova, ainda muito incipiente, muito laboratório, que é a Cidade Integrada, que tem e sempre terá todo o apoio e respaldo da prefeitura. Qualquer iniciativa pra que a gente saia dessa lógica de violência, de territórios dominados na cidade, a gente vai apoiar. Então, tem sido uma relação excepcional.
Ricardo Bruno – Você deu aquela entrevista ao Valor dizendo que o presidente Lula não teria tanta relevância no Rio de Janeiro. Depois disso, você teve um encontro com o presidente Lula em São Paulo e leituras e interpretações começaram a vazar desse encontro. Mudou alguma coisa desde a entrevista, a partir do seu encontro com Lula em São Paulo?
Eduardo Paes – Primeiro, uma pequena correção e não é de interpretação, mas de leitura, e está lá: a decisão do presidente Lula sobre o apoio dele no Rio de Janeiro não é relevante para mim. Eu não sou do PT e também não sou uma pessoa que vai fazer tudo o que o Lula quiser. Eu me dou muito bem com o presidente Lula, respeito muito o presidente Lula, acho que ele será um excepcional presidente, se for eleito, como foi no mandato anterior. Mas eu não sou obrigado, aqui eu não tenho esta relação com ele, do tipo que ele diga ‘olha, vamos apoiar fulano de tal’ e a gente vai. É isso que eu quis dizer. Negar sua força eleitoral, só seu eu fosse um maluco e imbecil. Tem força eleitoral em todo o Brasil. O que eu me refiro é à tomada de decisão. Acho que o presidente Lula tomou a decisão, e eu fui informado pela imprensa, de apoiar a candidatura do deputado Marcelo Freixo, que é uma pessoa que eu tenho imenso respeito, gosto pessoalmente. Mas ele não só é a única pessoa que perde pro Cláudio Castro no segundo turno, como, além disso, eu tenho visões distintas das dele. Eu até tenho visto um amadurecimento dele em diversas questões, mas o histórico não ajuda nisso. Quando a gente fala de necessidades de ajustes nas finanças fluminenses, é muito difícil, dado o histórico do deputado Marcelo Freixo, acreditar que isso vá acontecer. Quando você fala de política de segurança pública, o histórico dele de uma relação difícil com as polícias também torna difícil acreditar. Quando você fala de necessidade de atrair investimentos, PPPs e concessões, o passado recente dele mostra uma visão totalmente contrária. Quero crer que ele esteja mudando, mas precisa convencer o povo disso. Mas o presidente Lula tomou a decisão dele e infelizmente não poderemos caminhar juntos, porque a gente tem uma candidatura aqui que é a do Felipe Santa Cruz.
Washington Quaquá – Não há possibilidade, caso o Lula reveja a situação dele no Rio, de por exemplo um apoio ao Felipe Santa Cruz, de um apoio seu ao Lula no primeiro turno?
Eduardo Paes – É óbvio que há. Aliás, todos os sinais que eu dei foram neste sentido. Mas nas minhas entrevistas eu parecia uma mulher traída reclamando de ter sido abandonada… ou um homem traído, melhor assim, deixa o Lula ser a mulher da relação (RISADAS). Eu parecia um homem traído reclamando ‘sou corno’. É claro que há, o presidente Lula é uma pessoa com quem tenho uma relação de carinho, amizade, de quem gosto muito, respeito. Foi corretíssimo comigo quando fui prefeito, Me ajudou. No governo dele, me ajudou no governo da Dilma. Talvez se não fosse o Lula no governo da Dilma, não teria conseguido terminar a organização das Olimpíadas, pra que o governo federal entendesse naquele momento algumas questões que nós tivemos que enfrentar. Então, eu não teria a menor dificuldade de fazer campanha para o presidente Lula. Mas o meu partido tem um candidato a presidente, estou acreditando que vai ser o Eduardo Leite…
Ricardo Bruno – Isso não impediria você de apoiar o Lula no Rio?
Eduardo Paes– Você vai viver em cada estado a sua circunstância. Os partidos vão ter suas candidaturas nacionais, mas você contar com o apoio do presidente Lula no Rio, com a parceria do apoio do PT, é claro que pode obviamente mudar esse jogo. Mas infelizmente o que nós temos hoje é a sinalização do PT e do presidente Lula de que eles vão lançar o Freixo candidato a governador. Eu respeito o deputado Freixo, respeito a decisão do presidente Lula e do PT, mas não concordo. Não acho que é o melhor caminho para o Rio de Janeiro. Hoje, pode estar distante, neste primeiro momento, mas quem sabe lá na frente a gente se encontra. Não tem dificuldade nenhuma.
Ricardo Bruno – A candidatura do Felipe santa Cruz é pra valer, é uma candidatura competitiva?
Eduardo Paes – A primeira resposta é: óbvio que é pra valer. Mas pelo jeito não é tão óbvio assim, já que a pergunta foi feita. O que é minha leitura da necessidade do estado? A gente precisa de uma pessoa que tenha maturidade, tamanho, dimensão, retidão suficientes para enfrentar os desafios do estado. E Felipe Santa Cruz representa isso. Quando você olha pro quadro eleitoral que está se colocando, precisa de alguém que seja capaz de tratar, por exemplo, de todos os temas da segurança pública, que é polícia, mas que também é Judiciário e que é ministério público também. A gente precisa de alguém que traga confiança para o setor privado investir. E isto uma pessoa com a estatura dele traz totalmente. A gente precisa de alguém que seja capaz de enfrentar, negociando com o governo federal, o problema das finanças públicas do estado. Ele tem dimensão e tamanho histórico pra isso. Em 2016 as pessoas não acreditaram nisso e botaram o Crivella. Em 2018 não acreditaram e botaram o Witzel. Espero que as pessoas entendam que o estado do Rio de Janeiro não tem mais tempo pra arriscar e pra inventar. Estamos apresentando alguém que tem uma trajetória de vida pública conhecida, que teve coragem de enfrentar as arbitrariedades do Brasil nos últimos anos. Um democrata. Enfim, uma pessoas com tamanho e dimensão que o estado merece, com compreensão do papel do estado.
Ricardo Bruno – Como vai ser para escolher entre ele e o Rodrigo Neves, diante desse acordo que você fez com o PDT?
Eduardo Paes – Será uma escolha maravilhosa. Escolher entre dois quadros dessas qualidades. É um doce problema o nosso.
Ricardo Bruno – Esta escolha é rápida?
Eduardo Paes – Acho que a gente vai ter que, claro, olhando aí pra março ou para abril, vai ter que começar a afunilar. O que é importante é que nós teremos uma aliança com o PDT e vamos ter a maturidade suficiente para escolher o melhor nome para essa disputa. Podemos nos dar ao luxo de ter dois excepcionais nomes.
Washington Quaquá – Tem espaço para o senador André Ceciliano do PT nesta chapa?
Eduardo Paes – André Ceciliano tem espaço em qualquer chapa. A força do André, a capacidade de articulação do André, a influência que ele tem nos quadros políticos do estado, o que fez pelo estado… porque o sujeito passar pelo que o André passou tem que mostrar muita maturidade. Como aliás eu sempre falo da posição do deputado Rodrigo Maia em Brasília, quando conduziu aquela transição de governo Temer para governo Bolsonaro, com todas as crises institucionais. O André fez o mesmo aqui. Você teve um governador impichado, num processo democrático, o deputado André Ceciliano conduziu isso respeitando todos os ritos, alimentando o estado. Enfim, o Ceciliano é hoje a pessoa que tem mais capacidade de penetração nas forças políticas do estado e tem a dimensão exata do que é chegar em Brasília. Senador bom é isso, tem que defender os interesses do estado, tem que ter capacidade de fazer política. Senador não serve para defender tese. Os prefeitos, os governados e os cidadãos precisam ter alguém lá. É claro que podem ter suas divergências sobre teses, mas tem que ter experiência para defender os interesses do estado. É isso que vai fazer toda a diferença. Para dar um exemplo, você tá vendo agora esse drama do Galeão. Um modelo equivocado, nocivo ao Rio de Janeiro. E aqui faço justiça, o senador Portinho até se manifestou, mas a manifestação demanda oposição ao governo, e o meu amigo Romário infelizmente eu não ouvi falar muita coisa, o senador Flávio Bolsonaro, por motivos óbvios, também não. O André, sem dúvida nenhuma, seria um excepcional senador e tem espaço em qualquer candidatura minha. Faço campanha pro André feliz da vida.
Washington Quaquá – Já que o Eduardo Paes vai eleger o governador do estado do Rio de Janeiro, qual será o futuro de Eduardo Paes?
Eduardo Paes – Vou lançar minha candidatura à reeleição, se eu for um bom prefeito. (RISADAS). Eu não tenho frustração Quem tá na política é assim, a gente vai disputando eleição, tenta, vamos ter vitória, vamos ter derrota. Eu tenho orgulho de ter sido eleito três vezes prefeito desta cidade. Se puder ter a quarta eleição, vou ficar mais orgulhoso ainda. Quatro vezes prefeito do Rio? Melhor que isso só se eu tivesse sido prefeito da minha amada Maricá. Aí sim seria o máximo (RISADAS)