Como meio mundo sabe, a Sexta-Feira Santa é, por tradição, o dia de não comer carne vermelha. E até mesmo não-cristãos acabam trocando um bom bife por um peixinho nesta data. Mas como comer um bem fornido prato de bacalhau não é exatamente uma penitência, alguns seguem preceitos digamos, mais ancestrais da Quaresma (período de quarenta dias que antecedem à ressurreição de Jesus Cristo, no Domingo de Páscoa), renunciando a doces, refrigerantes, álcool e até mesmo a conversa com os amigos durante certos horários do dia. Nós não chegamos a tanto. Por isso, nas dicas deste fim de semana, não vamos indicar onde comer o melhor tofu do Rio de Janeiro, ou algo parecido, mas apresentar sugestões dentro da rica gastronomia brasileira para você ter uma experiência saborosa e ao mesmo tempo espiritualmente correta.
Para começar, a Barraca da Chiquita (Feira de São Cristóvão; R. Santa Clara, 33 – Copacabana; Av. Braz de Pina, 2700 – Vista Alegre, e mais endereços), famosa por sua Feijoada Nordestina (que leva feijão-de-corda, arroz, carne-seca, maxixe, quiabo e queijo de coalho) oferece pratos de peixes da Amazônia em postas graúdas que até parecem uma picanha. Há 40 anos, Francisca Dias montou uma barraca de rua em São Cristóvão para vender comida nordestina. Em 2003, migrou para dentro do Centro de Tradições Nordestinas e, em 2017, abriu sua primeira filial, em Copacabana, seguida do endereço em Niterói. As casas têm um menu em comum, assim como a decoração com artesanato típico e a música regional ao vivo.
Já para um programa especial, com vista espetacular para a Restinga da Marambaia, o Bar do Bira (Estrada da Vendinha, 68-A, Barra de Guaratiba. Tel: 2410-8304) é uma ótima opção. O cardápio não muda desde que o pescador Ubiratan Souza Leal, o Bira, inaugurou a casa. No reduto de ambiente rústico, os frutos do mar aparecem como protagonistas. A lista de entradas tem pastéis de camarão, siri e queijo vendidos por unidade, mas entradas como o vinagrete com camarão, marisco e polvo satisfazem fácil três pessoas. Entre os pratos principais destacam-se o robalo cozido no limão e azeite, acompanhado de arroz de camarão e farofa de dendê, e a moqueca mista, com camarão, lula, polvo, marisco, vieira e cação, guarnecida de arroz e farofa de dendê.
Falando em vista bonita, a Praça Mauá e a Baía de Guanabara formam o cenário do restaurante Mauá (Museu de Arte do Rio, 6º andar, Centro. Tel: 3031-2819), comandado pelo chef baiano Marcones Deus, no terraço do MAR. Patinhas de caranguejo figuram em destaque como um bom começo de refeição. Na sequência, a sugestão é o nhoque de milho-verde com camarão, espinafre, tucupi e castanha-do-pará. O cardápio recentemente adicionou novidades como o ceviche picante de polvo, peixe e camarão ao tucupi com chips de mandioquinha. Refrescante, leve e delicioso!
Inaugurado em 1984, o Quinta (Rua Luciano Gallet, 150, Vargem Grande. Tel: (21) 2428-1376) ganhou fama pela forma distinta de receber os clientes. As refeições são servidas num casarão dentro de uma chácara, com aconchegante varanda, jardim e lago. Da cozinha saem receitas criadas pelo casal Fátima Correia Dias e Luiz Correia de Araújo. De entrada, O camarão crocante com chutney de manga e molho de tomate, os crepes de lula e a Macaxeira Indiana (bolinhos de aipim com banana, com camarões no molho curry, pimentões multicoloridos e mostarda) estão entre as muitas opções. Já entre os pratos principais há delícias como o lombo de bacalhau Gadus Morhua, os camarões selvagens (fritos no bacon com molho de urucum, acompanhados de abacaxis dourados e arroz preto) e o arroz de polvo proibido (acompanhado de batatas ao murro com manteiga, gergelim e tapenade de azeitonas pretas). A casa oferece também opções veganas.
Eleito em 2017 o melhor restaurante de comida brasileira do Rio, o Quitéria, do Hotel Ipanema Inn (Rua Maria Quitéria, 27 (Hotel Ipanema Inn), Ipanema. Tel: 2267-4603) guardava uma curiosidade: a chef é argentina. Alejandra Maidana mergulhou fundo nas regiões do país para preparar entradas como a isca de peixe com maionese de coentro, o empadão de siri ou o polvo grelhado com purê de cará e vinagrete de castanhas. Mas o quente são os brunchs, onde aqui se leva a sério o conceito de slow food. O cardápio é recheado de itens feitos na casa, infinitos pães artesanais, queijos e embutidos locais, ovos caipiras e versões criadas pela chef, frutas, granolas e iogurtes naturais. A partir das 12h30min, o cardápio ganha sanduíches, pratos e tira gostos, acompanhados de coquetéis clássicos e servidos até às 22h. Há uma opção vegana com requeijão cremoso de castanha de caju fermentada seis dias, pasta de abobrinhas defumadas e temperadas, hash brown de baroa e cebola caramelizada. Além disso, mini legumes orgânicos (em conserva), guacamole e cookie vegano, bebidas e pães.
Em 2015, Isis Rangel fechou os restaurantes Siri Mole — 25 anos de serviços prestados — e Toca do Siri, ambos em Copacabana. Em 30 de agosto de 2018, abriu o Sabores de Gabriela (Rua Maria Angélica, 197, Jardim Botânico. Tel: (21) 3796-0905), que traz uma versão mais enxuta do menu do Siri Mole. Na empreitada da chef baiana, comece pelo acarajé, que pode ser pedido por unidade ou em um conjunto de quatro bolinhos, servido com recheios à parte: caruru, vatapá, camarão seco e salada. As moquecas chegam à mesa em porções individuais ou para dois. Na lista, a de siri-mole, e a Gabriela, mista, com peixe, camarão, polvo, siri-mole e ostra. Não deixe de pedir as cocadas de sobremesa.
Este é um segredo guardado pelo pessoal que ainda trabalha no Centro da cidade. Como se sabe, em belíssimo sobrado no início da Ouvidor foi inaugurado em 1884 o restaurante Rio Minho, um dos mais tradicionais, antigos (e alguns maledicentes chamam de caro) restaurantes da cidade. A casa ganhou fama pelos pratos de frutos do mar com influência portuguesa e foi lá que nasceu um clássico da gastronomia carioca: a Sopa Leão Veloso. Mas o que pouca gente sabe, é que ao lado do célebre estabelecimento fica um boteco anexo, chamado de Cabaça do Rio Minho (Rua do Ouvidor, 10, Centro. Tel: (21) 2509-2338). É basicamente um balcão comprido em formato de U, com banquinhos fixos, onde os frequentadores podem apreciar uma seleção dos pratos de frutos do mar da casa a preços mais em conta e num clima informal. Comece um rissole de camarão e caia dentro de um polvo grelhado com batatas douradas e arroz de brócolis.
Já para quem for Zona Norte raiz, a dica é o Evandro’s (Rua Cachambi 315 – Cachambi. Tel: (21) 2501-8437), desde 1986 no mesmo endereço, o restaurante vem se renovando ano após ano e, hoje, é referência de boa gastronomia com especialidade em frutos do mar. A casa é daquelas que dá vontade de ir lá comer todo dia, ou pelo menos ir provar seu carro-chefe: o Camarão flambado, seis unidades de Camarão VG flambado com alho poro e Risoto do molho extraído do camarão e queijo parmesão. Para quem anda cansado das moquecas tradicionais, o restaurante oferece a versão capixaba, que, ao contrário da baiana, não leva pimentão, leite de coco, nem azeite de dendê.