O número 3432 da Avenida Atlântica, uma das ruas mais caras do Rio de Janeiro, foi escolhido para ser um lugar cheio de sons, memórias e afetos, ajudando a contar a história de um povo musical por natureza. Este será o novo endereço do Museu da Imagem e do Som, conhecido como MIS, criado em 1965 e que reúne o maior acervo audiovisual do estado, com mais de 310 mil itens.
Desde 2010, o setor cultural e de turismo da cidade sonha com a bonita e moderna sede do MIS, à beira-mar, mas a obra, iniciada em 2010, enfrentou inúmeros percalços e foi interrompida várias vezes. Anunciada de tempos em tempos nos últimos anos, a retomada das obras deve finalmente ocorrer ainda em 2021 e a previsão é que, já no início de 2023, cariocas, fluminenses e turistas do Brasil e do mundo todo possam usufruir do seu rico acervo.
O anúncio foi feito em julho pelo governador Cláudio Castro, durante as comemorações pelos 129 anos de Copacabana. “Inspirado nas curvas do calçadão do bairro, o museu será mais um ponto turístico em um dos famosos cartões-postais do mundo. Essa obra é mais uma das ações e dos projetos para a recuperação do turismo e a universalização da cultura. O Rio de Janeiro precisa voltar a ocupar o lugar de protagonista que sempre teve”, disse ele, na ocasião.
Com 70% das obras concluídas, a um custo de R$ 197 milhões – R$ 79 milhões de dinheiro público e R$ 118 milhões captados pela Fundação Roberto Marinho junto à iniciativa privada – o empreendimento foi suspenso em 2016 por falta de recursos do governo, atolado numa crise sem precedentes. Agora, a previsão é que mais R$ 25 milhões sejam aplicados para concluir a obra.
A esperada conclusão das obras do MIS é uma injeção de ânimo entre moradores do bairro que foi berço da Bossa Nova e de diversas outras expressões culturais. Copacabana perdeu muitos equipamentos culturais ao longo dos anos, com o fechamento de teatros e cinemas. A pandemia do novo coronavírus, que impôs um longo período de isolamento social, foi a pá de cal. A última perda foi o tradicional Cine Roxy, que fechou as portas em junho.
Moradores do bairro, que hoje conta com a população mais longeva da cidade, apostam no MIS para a retomada de sua vida cultural e também como forma de valorização imobiliária. “Como moradora, a gente espera que essa obra acabe. Quanto tempo parada? Quanto de dinheiro público já foi para o ralo? O MIS valoriza Copacabana para todos os moradores, principalmente para quem mora de frente para a praia. É história, é patrimônio, é acervo”, disse uma vizinha do MIS em um dos endereços mais cobiçados da cidade.
Com 9.800m2 de área construída, a nova sede do MIS é dividida em oito andares e foi criada para ser um boulevard vertical. A ideia é contar a história da cultura brasileira do ponto de vista carioca. No segundo subsolo, ficarão os camarins. O térreo terá uma cafeteria e uma livraria. O mezanino vai abrigar uma exposição temporária. Do primeiro ao quarto piso, haverá exibições temporárias e permanentes, incluindo acervos sobre Carmem Miranda e Carnaval. Haverá ainda um auditório/teatro com 280 lugares, uma boate e um restaurante panorâmico, com vista para a Praia de Copacabana, e um cinema a céu aberto na cobertura.
A HISTÓRIA DO MUSEU
O Museu da Imagem e do Som original foi inaugurado em 3 de setembro de 1965, como parte das comemorações do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro. A ideia surgiu com Carlos Lacerda, primeiro governador do antigo Estado da Guanabara, num momento em que a capital federal estava sendo transferida para Brasília e o Rio não queria perder seu protagonismo na cena cultural brasileira. A nova sede pretende divulgar não só a memória nacional, mas a alma carioca, mas enquanto a obra não fica pronta, o MIS mantém sua programação cultural nas duas sedes da Praça XV e da Lapa, estando aberto para eventos e oficinas. Os espaços reúnem importantes coleções como as de Henrique Foreis, o Almirante, Augusto Malta, Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Nara Leão.