ACREDITE: SAIU O MEL DE LABORATÓRIO

Por essa, aquele seu amigo cabeludo da faculdade não esperava. Depois da carne e do leite sintetizados em laboratório, o mel agora também tem seu equivalente industrial. O produto foi criado pela MeliBio, startup fundada pelo empresário sérvio Darko Mandich em parceria com o biólogo molecular Aaron Schaller. Biossintetizada em laboratório, a réplica terá composição idêntica ao mel tradicional com a “vantagem” de ser livre de antibióticos, pesticidas e outras substâncias nocivas, além de não derivar de animais (olha aí veganos!). O pedido de patente já está em andamento, e a comercialização começará nos Estados Unidos ainda este ano.

A MeliBio arrecadou até agora quase US$ 250 mil desde que foi formada em dezembro do ano passado. Mandich e Schaller investiram US$ 40 mil do próprio bolso antes de a empresa ser incorporada pela Big Idea Ventures, um fundo de capital de risco e acelerador de startups na área de alimentos. A MeliBio planeja levantar ainda mais fundos para aumentar sua equipe de pesquisa e desenvolvimento e, assim, reduzir o custo de produção em comparação com o mel tradicional de abelhas.

Grande parte do trabalho da MeliBio está sendo conduzido em um laboratório onde os pesquisadores testam diferentes abordagens oriundas da biologia, ciência de plantas e outras indústrias para criar protótipos de mel. As melhores práticas de cada um serão finalmente combinadas para produzir o mel. “Em um recente teste às cegas, os indivíduos não conseguiram distingui-lo do produto tradicional”, afirmou Mandich em recente entrevista à BBC. A empresa se concentrará inicialmente em confeccionar mel que reflita o mesmo sabor, textura e qualidades nutricionais que as abelhas produzem. Segundo ela, até o momento, 15 empresas do setor de alimentos e bebidas se comprometeram a usar o mel da MeliBio assim que for lançado.

Enquanto alguns tecnólogos comemoram o mel de laboratório, por outro lado os ambientalistas temem cada vez mais o fim das abelhas. Segundo levantamento do governo do Estados Unidos, o número de colônias do inseto diminuiu 52% entre 1957 e 2017.  Pesquisadores descobriram que, além das doenças e da redução do habitat das espécies, os agrotóxicos são um dos fatores que estão dizimando os bichinhos. No Rio Grande do Sul, onde pelo menos cerca de 400 milhões de abelhas morreram nos últimos anos, 80% das mortes foram causadas pelo fipronil, inseticida usado amplamente em lavouras de monoculturas, mas também em pequenas propriedades rurais. O produto teve seu uso restrito na Comunidade Europeia. Além disso, cinco espécies nativas de abelhas estão ameaçadas de extinção – três delas habitam a Mata Atlântica; uma, o Cerrado; e outra, os pampas gaúchos. Não há dados, porém, sobre a mortandade em comunidades selvagens.

As abelhas são responsáveis pela polinização de cerca de 70% das plantas cultivadas para alimentação, principalmente frutas e verduras. Sua morte coloca em risco a agricultura e, consequentemente, a própria a segurança alimentar. Sem elas, o ser humano enfrentaria uma mudança drástica na sua dieta, que ficaria restrita apenas a culturas autopolinizáveis, como feijão, arroz, soja, milho, batata e espécies de cereais. As abelhas são ainda agentes fundamentais para a polinização de florestas nativas. Seu desaparecimento poderia desencadear a morte de ecossistemas inteiros. O cabeludo da faculdade tinha lá suas razões.